Em tempos de alta demanda por dados e estrangulamento das redes de terceira geração (3G) no Brasil, é natural considerar a migração para HSDPA+ e Long Term Evolution (LTE ou 4G) como os próximos e respectivos passos do caminho evolutivo dessas infraestruturas. No entanto, a Nokia Siemens Networks (NSN) está enxergando uma oportunidade de novos negócios em uma etapa anterior, que deve merecer a atenção de todas as operadoras antes de qualquer investimento em novas tecnologias: o aumento da eficiência operacional (Opex) e a melhoria da qualidade de transmissão das redes de voz (2G) e dados (3G) existentes. O assunto é tão estratégico que está na pauta da "reunião de board" que a companhia realiza pela primeira vez no Brasil, segundo revelou, com exclusividade a este noticiário, o head de Network Systems da NSN, Marc Rouanne. "Tão importante quanto a disponibilidade de espectro é a eficiência das tecnologias para aproveitar esse espectro", explica o executivo. A busca pela eficiência espectral ganha ainda mais relevância estratégica, segundo ele, em países com grande população, alta demanda por dados e baixa receita média por usuário (ARPU), como o Brasil e a Índia. "Nesses países, não adianta simplesmente dar mais acesso. As pessoas precisam de acesso, mas não vão pagar mais por ele. Neste caso, é preciso baixar o custo por bit", acrescenta.
A solução, de acordo com o executivo, passa por plataformas que reduzem o tráfego que não gera receita, como a sinalização entre dispositivos e rede, backhaul microondas de alta capacidade e transmissão de voz via rede HSDPA, com sistemas avançados de empacotamento que permitem uma redução de duas a três vezes do tráfego e um aumento de duas a três vezes da vida útil das baterias dos celulares. "Solução que garantam qualidade e eficiência da transmissão de voz e dados representam boas oportunidades de negócios para nós", diz.
2G firme e forte
Vale ressaltar que a maior presença da NSN no Brasil e América Latina está no 2G, serviço no qual, segundo Brambilla, a companhia detém, respectivamente, 50% e 47% da base instalada. "No 3G estamos um pouco atrás, dividindo o mercado com Ericsson e Huawei", informa. O executivo, no entanto, vê nas soluções inovadoras da companhia, que viabilizam maior eficiência operacional da rede e redução do custo por bit, a estratégia para a NSN recuperar o terreno perdido na banda larga móvel, principalmente para a asiática Huawei. "O negócio agora é melhorar qualidade de serviço e baixar o custo operacional, não vamos esperar o LTE para ganhar mercado", finaliza.
Pulando etapas
Seguindo essa estratégia, Marc Rouanne criticou a decisão da AT&T, que decidiu migrar sua rede nos Estados Unidos para o LTE, pulando a evolução natural da tecnologia, ou seja, o HSDPA+. "Este é um investimento que não precisava ser feito agora. Não é preciso ir para o LTE para melhorar a perfomance da rede. A AT&T alega que o HSDPA+ não dará conta da demanda de dados. Na verdade, a rede dela que não é eficiente", criticou.
Brasil
Até o dia 19 de março, a alta cúpula da Nokia Siemens estará reunida em São Paulo para discutir os caminhos que a empresa deve seguir no Brasil, eleito um dos seis principais mercados da companhia, ao lado de Rússia, Índia, China, Japão e Estados Unidos. É a primeira vez que o encontro acontece no país e será realizado, trimestralmente, nos outros cinco países. Os executivos também farão reuniões com clientes em São Paulo, Rio de Janeiro e se encontrarão com representantes do governo, em Brasília. "Há dez anos, a Europa era o centro, você produzia tudo lá e exportava para o resto do mundo. Hoje temos de entender as realidades locais, principalmente do Brasil e Índia, que a meu ver vão pautar as estratégias de inovação da companhia, por seus mercados desafiadores e de grande potencial de crescimento ", finaliza Emilio Brambilla.