Estoque de IPv4 chega à fase final de esgotamento no Brasil

Anunciado desde junho de 2014, o esgotamento do protocolo de endereçamento IPv4 no Brasil chegou em sua fase final na última quarta-feira, 15. A partir de agora, apenas novas empresas, que não haviam ainda solicitado espaço IPv4, poderão solicitar um número limitado de endereços (1.024), sem possibilidade de renovação do pedido. De acordo com a entidade que cuida dos endereçamentos na América Latina, o LACNIC, ainda existe uma reserva de 4,698 milhões de endereços IP, com a possibilidade de o número até aumentar com a recuperação de endereços revogados e recebidos pela Internet Assigned Numbers Authority (IANA), que controla os números e alocações de endereços. Ainda assim, a diretriz agora é encorajar a adoção em massa da geração mais nova de protocolo, o IPv6.

Na prática, o impacto para o usuário final não é imediato. Segundo explicou em conferência nesta quinta, 16, o gerente de recursos de numeração do NIC.br (entidade regional responsável pelos endereçamentos), Ricardo Patara, serviços como páginas Web deverão funcionar bem com os mecanismos de contingência implantados pelas operadoras e provedores, mas para serviços como videoconferência e jogos online, pode haver degradação. "Existe impacto para alguns usuários, mas pode ser imperceptível para outros. para jogos online, poderá ser cada vez mais (impactado), pois cada NAT gera demora, latência", explica. NAT é o justamente o mecanismo de "tradução" de IPv6 para IPv4. Pode haver ainda casos de equipamentos antigos, especialmente roteadores e modems, que utilizam o protocolo esgotado e poderão precisar de mecanismos de apoio. Mas o diretor do NIC.br afirma que a maioria dos sistemas operacionais e dispositivos novos já suportam ambos os protocolos. "Desde meados de 2015 percebemos um aumento significativo na quantidade de IPv6 entre equipamentos, que têm sido atualizados e permitem que usuários façam comunicação exclusiva em IPv6."

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Sem desperdício

Para provedores e operadoras, contudo, já há efeitos. Segundo Patara, o NIC.br tem participado de grupos de trabalho para fomentar o uso do IPv6, além de campanhas de forma individualizada. Com órgãos públicos não há "cenário de desperdício de IPv4", segundo ele, e existe a possibilidade de haver grande adoção. "A Anatel por exemplo fomentou a implantação do IPv6 em grandes operadoras, e em uma das últimas reuniões desse grupo já haviam propostas de trabalho envolvendo órgãos do governo", declara.

A adoção é importante também porque não será possível continuar a comunicação entre IPv6 e IPv4 sem o mecanismo de  "tradução" ou com esquemas como de PABX (um número público em IPv6, mas que se conecta a outros números internos ainda em IPv4), o CGNAT. Patara explica que grandes operadoras já vinham utilizando esse "paliativo", já que mesmo na fase anterior do esgotamento, a distribuição de endereços era insuficiente para as demandas.

Mas a ideia é facilitar agora a adoção de IPv6 nativamente. Tanto que, ao contrário das regras de distribuição de IPv4, restritas a novos entrantes (ou seja, CNPJ diferente e sem requisições de espaço anteriores) e sujeitas a justificativas de necessidade, o NIC.br garante haver menos processos burocráticos para receber endereços com o novo protocolo. "O provedor que já tinha IPv4 já (demonstra) necessidade, e se estamos falando em transição, não faz sentido pedir para ele justificar", afirma. Também não haverá mudança de custos, garante.

Mercado

Segundo últimos dados do relatório da provedora de infraestrutura Akamai referentes ao terceiro trimestre do ano passado, o Brasil está na 18ª posição no ranking de países que mais adotam o IPv6, com a penetração de 10,3%. Em termos de empresas, a Net (com o Virtua) é a melhor colocada dentre as brasileiras, na 19ª colocação e 15,3% de adoção do IPv6. A Telefônica se encontra em 25º, com 18,2%; enquanto a GVT tinha 17% e se encontrava na 26ª posição. A Oi estava em 45º, com 9,6% de adoção.

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