Principais fornecedoras europeias do mercado de telecomunicações, Ericsson e Nokia se uniram em um chamado por mudanças no ambiente regulatório e competitivo da Europa, como forma de fazer frente a empresas dos Estados Unidos e da China.
Nesta quinta-feira, 16, a dupla realizou um evento conjunto com autoridades europeias em Bruxelas (Bélgica). "A cúpula marca a primeira vez que Nokia e Ericsson se unem para organizar e impulsionar uma iniciativa de visão industrial – destacando a importância e a urgência que ambas as empresas atribuem ao tema", afirmou um comunicado das empresas. As multinacionais SAP e ASML também apoiaram a iniciativa.
O foco do encontro foi a defesa de ações que impulsionem uma maior digitalização do bloco – incluindo um ambiente regulatório mais "amigável" e que torne a região mais atraente para investidores. Veja no final deste texto uma lista de medidas demandadas.
"A competitividade europeia já está com um pé na cova", disparou o presidente e CEO da Nokia, Pekka Lundmark, na ocasião.
"Nosso PIB real é 30% menor do que o dos EUA, a participação da UE no Fortune Global 500 continua caindo e nosso futuro digital parece mais incerto do que nunca. A boa notícia é que ainda podemos virar esse jogo, com um ambiente onde as empresas queiram investir, especialmente em tecnologias como IA, nuvem e conectividade avançada. Isso não pode ser um esforço que leve décadas".
Presidente e CEO da Ericsson, Börje Ekholm seguiu linha similar. "[Outras] regiões estão aproveitando as oportunidades por meio de investimentos, políticas e suporte regulatório. Já a Europa não está. No entanto, a solução é bem conhecida: a UE deve implementar as recomendações do Relatório Draghi e Letta para permitir que o setor de tecnologia desempenhe seu papel".
O relatório em questão – elaborado pelos ex-premiês italianos Mario Draghi e Enrico Letta – é fruto de um trabalho concluído no ano passado a pedido da Comissão Europeia. O documento defende medidas como a consolidação do setor de telecom do bloco, entre outros pontos.
"É essencial não apenas permitir uma maior consolidação no setor de telecomunicações, mas também priorizar investimentos substanciais em conectividade avançada. Esse foco é vital para enfrentar os gaps de conectividade em todo o continente e garantir que a Europa permaneça na vanguarda da inovação tecnológica", afirmou Letta, também presente na cúpula em Bruxelas.
Para as empresas que organizaram o encontro, o início de um novo mandato na Comissão Europeia (com start em dezembro último) representa um momento propício para tais mudanças.
Medidas
Entre as medidas consideradas necessárias por Nokia e Ericsson estão:
- A implementação imediata do Relatório Draghi-Letta;
- O fortalecimento de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), com maior acesso à capital;
- Redução e simplificação regulatória, com fortalecimento do mercado único europeu;
- Implementação completa do 5G Security Toolbox, que limita a atuação de fornecedores asiáticos na Europa;
- Reforma nas diretrizes de competição e consolidação;
- Metas claras de implementação do 5G e adoção de leilões de espectro com compromissos de investimento, em vez de outorgas;
- E alinhamento da pauta de conectividade com objetivos sustentáveis da União Europeia.
Europa para trás
"O setor de tecnologia da Europa ficou para trás dos Estados Unidos e China", prosseguiram as empresas.
"As 'Sete Magníficas' do setor de tecnologia dos Estados Unidos gastaram com P&D, apenas em 2023, o equivalente a 50% de todo o investimento público e privado em P&D da Europa, abrangendo tecnologia e outras áreas", afirmaram as duas fornecedoras, no comunicado conjunto.
"As empresas europeias ficam atrás [também] na formação de capital, com um déficit de 450 bilhões de euros apenas no setor de tecnologia. Esse déficit contribui para uma desvantagem de 20% na produtividade anual. Portanto, a Europa corre o risco de ficar ainda mais para trás", completaram.
"A Europa precisa agir agora em questões como o 5G Toolbox e as fusões no setor de telecomunicações. Se a Europa acertar, esta é uma oportunidade enorme. Draghi e Letta já forneceram o arcabouço. Então, vamos agir."