Um grupo formado por operadoras, entre elas a Telefónica (dona da Vivo no Brasil), fornecedores e entidades setoriais lançou nesta terça-feira, 15, um manifesto no qual pedem aos países pela consideração de dedicar parte ou toda a faixa de 6 GHz para o serviço de celular (IMT, na sigla em inglês). O argumento é que a tecnologia 5G já apresentou avanços na mitigação de interferências na convivência com enlaces de micro-ondas e serviços fixos de satélite; e as características da frequência seriam similares e complementares à faixa de 3,5 GHz, já amplamente adotada para a quinta geração.
A ideia das empresas é que, pelo menos a porção superior, na faixa de 6.425-7.125 MHz, os países reservem para o 5G. Esse assunto já será abordado na Conferência Mundial de Radiocomunicação de 2023 (WRC-23) para a Região 2 do planeta, que abrange o mercado europeu. Para as associações, que realizaram evento para justificar a proposta nesta terça-feira, esse caminho seria o melhor também para outros países, incluindo na América Latina.
A diretora de relações regulatórias da Telefónica Latam, Ana Valero, destaca que o problema na região está na infraestrutura fixa. Como a penetração da banda larga fixa é abaixo de 10% no mercado latino-americano, e onde funciona haveria uma baixa qualidade, o gargalo não estaria na falta de espectro no WiFi. "Isso significa que há grande oportunidade para serviços 5G aumentarem a penetração de banda larga na região, utilizando FWA", argumenta.
"Um dos desafios na região é termos uma grande concentração da população nas grandes cidades. Precisamos ter boas redes com boa capacidade para garantir o aumento de tráfego nessas áreas, e bandas médias serão importantes para implantação eficiente da rede e disponibilizar serviços com baixo custo para clientes", diz Valero. Normalmente, a divisão do grupo espanhol para a América Latina não fala pela Vivo, mas segundo apurou o TELETIME, o posicionamento é global do grupo e, portanto, valido também para a Brasil.
Banda C
Outro argumento é que a faixa de 6 GHz teria características similares às da faixa de 3,5 GHz, incluindo no tratamento para mitigar possíveis interferências com serviços satelitais. Isso significaria também a possibilidade de se aproveitar estudos feitos em qualquer região, segundo a representante dos fornecedores. "Claro que o 6 GHz é mais alto, o que significa que a propagação é pior, mas isso pode ser compensado por tecnologia de 5G NR, então achamos que podem ter coberturas similares", afirma a diretora de relações de governo e indústria da Ericsson, Erika Tejedor, falando em nome dos principais fornecedores, incluindo Huawei, Nokia e ZTE. "Achamos que seria um complemento muito bom no futuro, já que o 3,5 GHz não seria suficiente em longo prazo."
"Novos fatos mostram que a WRC-23 deveria reavaliar a coexistência do IMT com FSS no 6 GHz", aponta a diretora de comunicações móveis da Akos da Slovênia, Meta Avsek Taskov. "Achamos que a coordenação é possível, e devemos explicar a necessidade de haver novos estudos. O 5G já tem tecnologia de arquitetura diferente", argumenta. Para ela, em cinco ou sete anos a coordenação em grandes centros será "fácil", enquanto nas áreas rurais já seria raro a existência de enlaces fixos usando a frequência.
Outros países
O assunto está sendo discutido em consultas públicas na Colômbia, Peru, México e no Brasil. A Anatel decidiu colocar em consulta a proposta de dedicar 1.200 MHz para operação não licenciada na faixa de 6 GHz, mas já chegou a considerar até a WRC do ano passado a inclusão da faixa para o IMT para estudos. No Chile, contudo, o órgão regulador já tomou a decisão de também alocar essa capacidade para uso não licenciado (como WiFi 6E), seguindo os Estados Unidos.
Embora o estudo da aplicação da faixa de 6 GHz para IMT não esteja previsto para a Região 1 na WRC-23, a ideia é que países possam "solicitar" a reconsideração. "Nossa recomendação é que parte superior da banda de 6 GHz traz uma grande oportunidade para garantir a harmonização do espectro. Vemos isso globalmente, mesmo que para parte da Região 1 – a WRC-23 pode ter países adicionais incluindo nomes", destaca Erika Tejedor, da Ericsson.
China
A vice-diretora da divisão de planejamento de frequência do departamento de regulação de rádio no Ministério da Indústria e TI da China, Zeng Fansheng, explicou o caso do mercado chinês. Ela afirma que cerca de 700 mil estações radiobase 5G já foram implantadas, com "quase 95%" tendo já sido atualizadas para mitigar eventuais interferências com o FSS. Ela diz que 180 milhões de aparelhos já utilizam a rede de quinta geração no país asiático.
"O 6 GHz é um candidato para frequências de 5G porque tem boa propagação, tem capacidade e cobertura com essa banda e podemos ter mitigação na maior parte dos cenários", declara Fansheng. Ela lembra que os serviços satelitais utilizam a faixa apenas para uplink, e que isso também facilitaria na resolução do problema. "Somos a favor de incluir a banda para IMT na WRC-23, baseado em compatibilidade com serviços relacionados", diz.
A China está conduzindo pesquisas para revisar a tabela de alocação de frequências identificando toda a porção de 5.925-7.125 MHz para o IMT. A previsão é que testes de tecnologias, funções, radiofrequência, desempenho, interfaces e Internet das Coisas sejam conduzidos em 2021.