O debate sobre o desenvolvimento de competências digitais no ensino brasileiro vem unindo governo e setor privado. O movimento surge a partir da preocupação com a necessidade de o País conseguir capacitar e preparar crianças e jovens para as profissões do futuro, diante do cenário de rápida transformação digital pelo qual o mundo está passando hoje.
De acordo com representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no Brasil, Morgan Doyle, ter mais pessoas com habilidades digitais significa ter mais mão de obra qualificada. Para ele, isso estimula investimentos no País e, consequentemente, o desenvolvimento. A fala foi feita em Brasília nesta quinta, 15, durante seminário sobre o tema realizado pelo Ministério da Educação (MEC) – com apoio técnico da Fundação Telefônica Vivo, BID e do Cetic.br.
Diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, Lia Glaz lembrou que a instituição da qual representa completou 25 anos. Recentemente, de acordo com ela, o tema de competências digitais se tornou um foco de maior investimento da entidade. "Antes, nós tínhamos múltiplas agendas. Mas, a partir de 2021, decidimos que essa seria nossa principal agenda, [partindo do] entendimento de que inclusão digital é, também, inclusão social", disse Glaz.
A diretora-presidente da fundação vinculada à Vivo afirmou que o Brasil tem conseguido avançar com a digitalização. Mas, para ela, ainda é necessário trabalhar na parte mais básica do ensino. "São temas como saber elaborar evidências e produzir conteúdo a partir de dados, o que também tem a ver com questões como matemática. Quando a gente fala de pensamento computacional, o espectro das habilidades digitais é muito amplo", afirmou Glaz.
Desigualdade
Além do uso de habilidades no mercado de trabalho, Morgan Doyle, do BID, lembrou que competências digitais são necessárias para a vida cotidiana de qualquer indivíduo.
Ele afirmou que quem consegue usar soluções emergentes (como Chat GPT), "consegue se adaptar melhor aos diferentes trabalhos que estão cada vez com mais velocidade aparecendo".
Já a secretária de educação básica do MEC, Kátia Schweickardt, defendeu atenção com diferenças regionais – como por exemplo no bioma amazônico, onde se encontra a principal área de ausência de conectividade. "E, quando tem, ela não é utilizada para fins pedagógicos. Se não há banda larga, nem Wi-Fi nas escolas, não há letramento digital para os professores", pontuou.
Na visão da secretária, o desafio da inclusão digital deve ser levá-la para quem ainda não a tem. E, após isso, pensar em melhorar as condições onde ela já está disponível. "Foi essa a estratégia da educação básica brasileira: garantir a universalização para, agora, falar de qualidade. Ainda estamos nessa luta e a conectividade está dentro disso", afirmou.
Habilidades digitais
Em junho, a Anatel divulgou uma pesquisa sobre o tema. De acordo com o estudo, o Brasil tem o terceiro pior nível de habilidades digitais entre o grupo de países que compõem o G20. Apenas 30% da população por aqui possui conhecimento digital considerado básico.
Segundo o mesmo levantamento, essa taxa é ainda menor quando se aumenta a régua de competências no ambiente digital. No caso das habilidades avançadas, a parcela da população brasileira capaz de "criar programa de computador ou aplicativo de celular usando linguagem de programação" em 2023 foi de apenas 3,4% – contra 9,7% na Coreia do Sul, por exemplo.