Todas as cidades do Rio Grande do Sul contam no momento com algum tipo de conectividade móvel em funcionamento, após as fortes enchentes que atingiram o estado. Mas o acesso de operadoras virtuais a serviços de roaming e o status das redes fixas dos pequenos operadores ainda preocupam.
Em boletim divulgado pela Anatel nesta quarta-feira, 15, pelo segundo dia seguido não houve nenhum município que se encontrava 100% desconectado. Enquanto 376 cidades teriam redes móveis restabelecidas, 121 ainda se encontravam parcialmente afetadas, mas com rede de ao menos uma operadora.
No estado, Claro, TIM e Vivo liberaram roaming entre si, para que usuários de uma prestadora possam acessar a rede das demais. As operadoras móveis virtuais (MVNOs) que operam na região, contudo, ainda não estão conseguindo acessar o recurso. Também não há prazo para que a situação seja resolvida.
"Estamos com as equipes em contato objetivando viabilizar [o roaming], mas são muitas MVNOs, com três operadoras móveis. São muitas providências de parte a parte num contexto em que os times técnicos também estão focados na recuperação das redes", explicou o superintendente de controle de obrigações da Anatel, Gustavo Borges.
Ao TELETIME, o servidor observou que a ativação do roaming entre empresas não é automática e que tal integração nunca havia sido feita com MVNOs em situações emergenciais pregressas.
"Há um custo inicial técnico (não de recursos financeiros, mas de discussões técnicas e ações de parte a parte) para o estabelecimento. Esse custo operacional é reduzido quando as empresas já têm contratos e contatos estabelecidos, conhecimento dos processos e redes das parceiras. Em relação ao roaming para as MVNOs, [isso] nunca havia sido feito em crises anteriores", relatou Borges.
A intenção é que uma vez estabelecido, o protocolo de roaming envolvendo operadoras virtuais possa ser absorvido em regulamento, para próximas situações de emergência. Telecall, Datora e Surf são algumas das MVNOs que operam no Rio Grande do Sul.
Provedores regionais
Nesta quarta-feira, o restabelecimento parcial das redes também foi abordado pelo presidente da Abrint, Mauricélio Oliveira Junior. A entidade representa pequenos operadoras de banda larga.
"Sobre a restauração da conectividade móvel em todo o Rio Grande do Sul, a notícia é parcialmente verdadeira. Embora o serviço tenha sido restabelecido, a qualidade da conexão via roaming ainda não atende as necessidades básicas da população, que continua insatisfeita", afirmou o dirigente.
"[Também] é importante destacar o incrível trabalho dos provedores regionais na recuperação das redes, com esforços heróicos, utilizando geradores, barcos e jet skis. Eles têm mantido as redes operando mesmo em áreas alagadas. Graças a esses provedores, os serviços essenciais como abrigos, hospitais, escolas e órgãos públicos continuam funcionando", completou o dirigente da Abrint.
Quem também tem conectado abrigos é a Oi e, como tem mostrado TELETIME, o trabalho é intenso por todas as grandes operadoras.
Já a InternetSul afirmou que mais de 50 postos de Bombeiros no RS tiveram a Internet restaurada por pequenos provedores em diferentes localidades. A entidade de provedores gaúchos tem realizado campanha para o retomada da conectividade fixa no estado, onde há relatos de empresas que tiveram a totalidade das redes comprometida.
"Os pequenos provedores de Internet são responsáveis por mais de 53,4% do mercado de banda larga fixa no Brasil. Só no Rio Grande do Sul, essas empresas atendem quase 2 milhões de clientes, o que reforça sua importância, principalmente neste momento em que estão fazendo milagres para restabelecer, em condições de guerra e em tempo recorde, a conectividade do Estado", afirmou a entidade.
O Congresso e o governo federal têm estudado medidas extras para auxiliar empresas do setor, enquanto o MCom já enviou 83 antenas via satélite para auxiliar momentaneamente a conexão de áreas isoladas. Cerca de 1 mil kits do serviço via satélite Starlink prometidos pelo empresário Elon Musk também chegaram ao estado ao longo desta semana.
A operação foi viabilizada por meio da empresa Global Skylink Participações e teria passado por interlocução que envolveu o ex-ministro do MCom, Fabio Faria, segundo um parlamentar gaúcho. A Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) do governo do RS deve coordenar o processo de implantação.
"Porém, uma coisa não pode ser deixada em segundo plano: a atuação dos provedores regionais, que muito além de enviar aparelhos, como fez a Starlink, carregam caixas, rolos e cabos, molham os uniformes e embarram as botinas entrando nos alagados para puxar a fibra que reconecta nossas pessoas, nossas empresas e, principalmente, nossas instituições públicas vitais", defendeu a InternetSul, em comunicado nesta quarta.
Atualizações
Em boletim divulgado ás 18h, a Defesa Civil do RS apontou que 452 cidades foram afetadas pelas chuvas que acometem o Rio Grande do Sul há duas semanas.
A população desalojada em decorrência da cheia dos rios soma 538 mil, sendo que os afetados ultrapassam os 2,1 milhões. Há 149 óbitos confirmados e 108 pessoas, ainda desaparecidas.