O setor de telecomunicações mostrou sua importância para a sociedade durante a pandemia e, por isso, a agenda voltada à ampliação destes serviços, como o acesso à Internet, pode ser um bom argumento para os presidenciáveis angariarem votos nas próximas eleições, segundo acreditam ex-representantes do Ministério das Comunicações e o vice-presidente de relações institucionais da Claro, Fabio de Andrade.
"Apesar de eu achar que em anos eleitorais não existam grandes chances de fazermos alguma coisa para o setor, observo que há um otimismo na largada do 5G no Brasil. Ele representa mais uma vez o investimento maciço que o setor trouxe para o país", disse o executivo no Seminário de Políticas de (Tele)Comunicações, organizado pelo TELETIME e o Centro de Políticas, Direito, Economia e Tecnologias das Comunicações (CCOM) da Universidade de Brasília (UnB).
"Conseguimos mostrar um outro lado das telecomunicações, de que é um serviço essencial. Isso vai ajudar a vender esse peixe para os candidatos a presidência. Acredito que as distâncias foram encurtadas, e nós fizemos isso. Há valorização das nossas redes. Eu tenho percebido bastante isso no campo político, entre parlamentares. A pandemia fez mudar a cabeça do parlamento. O candidato hoje que não der valor ao nosso trabalho vai perder voto", afirmou Andrade. Para ele, a expectativa é que ainda haja a possibilidade de pelo menos aprovar o PL 239/07, que trata do furto de sinais e pirataria de conteúdos.
Uso do Fust
Júlio Semeghini, ex-deputado federal e ex-secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), concordou com a afirmação, dizendo que o setor de telecomunicações assumiu uma relevância grande como um meio para a recuperação econômica. "A demanda de Internet é um desejo da população. E isso foi mostrado para os políticos. Hoje a conectividade traz a inclusão de tudo, da saúde, da educação, de acesso a mais serviços etc. Hoje vemos grandes as operadoras envolvidas e integradas no desenvolvimento do país", disse, ressaltando ainda o papel do setor para a digitalização de diferentes setores da economia, como o agronegócio.
Semeghini também lembrou que hoje, é preciso apresentar uma resposta o quanto antes para o uso dos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). "Precisamos resolver o problema do Fust. Ele está parado há 20 anos e até hoje não temos todas as escolas conectadas e as que tem possuem conexões precárias. Precisamos colocar a transformação digital no centro da transformação das pessoas. A relevância e importância que a transformação digital ganha nessas eleições a torna um dos grandes debates para os candidatos", afirmou Semeghini.
O ex-ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, também defendeu que a conectividade deve estar nos debates eleitorais. "O acesso à Internet não é um privilegio. É um direito. É por meio dela que a sociedade pode ter um debate sobre tudo do setor público. É importante isso ser um tema nas eleições", disse. Berzoini, contudo, pontua que a eleição será pautada pelo resgate de um ambiente democrático, e defendeu a união de forças políticas antagônicas em outros momentos mas que tenham como propósito comum a democracia.