A discussão sobre censura aos meios de comunicação, que agitou os preparativos da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), voltou com força total neste início de ano por conta da criação do Programa Nacional de Direitos Humanos pelo governo federal. Talvez por conta da semelhança entre as críticas às duas iniciativas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu usar o resultado da Confecom como argumento contra os protestos ao programa de direitos humanos. A defesa da conferência foi feita em entrevista exclusiva do presidente à TV Mirante, emissora afiliada à Rede Globo no Maranhão, realizada nessa quinta-feira, 14.
"Na conferência da imprensa – eu vou te contar esse dado, porque eu estou falando aqui para a TV Mirante, é importante a gente ver isso aqui – nós convocamos todos os grandes empresários, as telefônicas, os donos das rádios, os donos das televisões, o movimento popular de rádio comunitária, foi todo mundo, foram quase 1.600 pessoas que participaram. Ora, muita gente não foi, com medo de que a conferência ia 'comer alguém'", declarou o presidente segundo informações oficiais do Palácio do Planalto.
A despeito dos temores de que a conferência poderia chancelar mecanismos de censura contra a mídia, Lula avaliou o resultado do debate como "de alto nível". "A conferência foi de alto nível, houve as críticas que tinham que ser feitas, houve as propostas mais radicais à esquerda, houve propostas mais radicais à direita, mas o que nós construímos? Um programa que estabeleceu um consenso entre os membros da conferência."
Lula disse ainda que está acostumado com essas críticas e que, no Brasil, "as pessoas, de vez em quando, criam chifre em cabeça de cavalo", referindo-se aos protestos com relação ao programa de direitos humanos.
Nessa quinta-feira, a Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra) engrossou o coro de protestos ao programa editado pelo governo, que cria mecanismos de controle sobre as emissoras, citando também os debates realizados na Confecom. Em nota, a associação reclamou que o decreto criando o Programa Nacional de Direitos Humanos não considerou conclusões importantes alcançadas durante a conferência. "O decreto dá a impressão de que foi tudo um grande desperdício de dinheiro público, já que as conclusões da Confecom foram ignoradas na semana seguinte de sua realização. O governo desconsiderou grosseiramente as discussões ocorridas na conferência", protestou o consultor jurídico da Abra, Walter Ceneviva.