Vaias e protestos marcam abertura da 1ª Confecom

A abertura da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) nesta segunda-feira, 14, foi uma demonstração de que o clima entre os movimentos sociais e as empresas de radiodifusão e alguns segmentos do governo não está exatamente pacífico. Logo no início da cerimônia de abertura, a plateia vaiou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, tão logo ele foi chamado para compor a mesa. O presidente do Grupo Bandeirantes, João Carlos (Johnny) Saad também foi alvo das vaias, mas menos intensas.
Hélio Costa evitou polêmicas em seu discurso e focou-se nos avanços obtidos pelo Brasil após a escolha do padrão de televisão digital. O ministro agradeceu o empenho dos membros do governo e dos movimentos sociais na organização da Confecom, mas os maiores elogios foram reservados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O seu governo foi o primeiro que teve coragem de convocar essa Conferência", afirmou o ministro. O tom sereno do discurso de Costa não evitou, porém, mais protestos dos presentes. Ao listar a expansão do "padrão brasileiro" de TV digital para outros países da América do Sul, os presentes começaram a gritar: "Ô Hélio Costa. Que papelão. O empresário é teu patrão". O ministro não reagiu aos protestos.
Johnny Saad também recebeu protestos quando iniciou seu discurso, mas acabou provocando novas manifestações, desta vez contra a Globo, quando criticou indiretamente a empresa por sua atuação no mercado de TV paga. Saad disse que não há abertura no mercado de TV por assinatura e que deveria ser proibida a atuação de empresas que produzem conteúdo no mercado de distribuição de canais. "Temos hoje um porteiro, que decide quem entra e quem sai", declarou o executivo. Em resposta, a plateia começou a gritar em coro: "O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo".

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Democratização
Apesar dos protestos, a abertura contou com momentos de franco apoio aos oradores ligados aos movimentos sociais e ao presidente Lula, que chegou a ser aplaudido de pé pela plateia. O coordenador-geral do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), Celso Schröder, foi o primeiro a discursar na noite de hoje e deu a tônica da pauta dos movimentos sociais. "Precisamos primeiro romper com o silêncio com que a mídia trata a própria mídia. Em segundo lugar, é preciso tirar o véu da autolegitimação das empresas de comunicação e discutir de forma pública o modelo de comunicação no Brasil", afirmou. A democratização do sistema, "possibilitando a fala de todos da sociedade", e uma discussão sobre a convergência tecnológica também foram citadas pelo coordenador.
Schröeder citou o professor Murilo Ramos, da Universidade de Brasília (UnB), para resumir as intenções dos movimentos sociais na Confecom. "Como já disse o professor Murilo Ramos, temos que acabar com essa 'terra de bang-bang em que se tornou a comunicação no Brasil'. Não precisamos de grandes-irmãos dizendo o que queremos assistir." A secretária de Comunicação Social da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosana Souza, também reforçou a necessidade da democratização das comunicações no Brasil em seu discurso, ressaltando que as rádios comunitárias devem ser alvo de especial atenção do governo.
A cerimônia de abertura foi dedicada ao jornalista Daniel Hertz, um dos mais atuantes militantes na luta pela democratização da comunicação no país, morto em 2006. Hertz foi um dos articuladores da Lei do Cabo e autor do livro "A História Secreta da Rede Globo", organizado a partir de sua tese de mestrado defendida na UnB sobre como a Globo se tornou o maior grupo de mídia do país. Após um vídeo sobre a história de Hertz, seus filhos, Fernando e Guilherme, foram homenageados com uma placa comemorativa da 1ª Confecom.

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