Contra guerra de preços na banda larga, regionais focam em qualidade

Ilustração: Pexels

O mercado de banda larga no Brasil está entre os mais competitivos do mundo. E em um setor com tantas opções para contratar, a política do preço predatório é vista como uma tática para crescer a base de assinantes – ainda que haja preocupações crescentes com a saúde financeira das empresas.

"No B2C, o mercado está saturado e a guerra de preços está cada vez maior", observou o CEO da IPV7 Group, Droander Martins, em entrevista ao TELETIME. "Até pouco tempo atrás, não se via provedores quebrando. Hoje, além de operadoras quebrarem, muitos provedores estão sendo vendidos, estão com altíssimo endividamento e até abrindo recuperação judicial", afirmou o executivo da firma de engenharia, consultoria e auditoria para provedores regionais.

Em muitos casos, players têm sido pressionados pela guerra de preços. Mas alguns provedores regionais no Brasil vêm apostando em outra estratégia para abocanhar novos consumidores e manter a base de clientes já existente: a retomada do foco na qualidade do serviço entregue e no chamado "atendimento diferenciado".

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Esse é o caso, por exemplo, da mineira BR Super Telecom. Atuando em 15 municípios e tendo 20 mil acessos, a provedora despontou em primeiro lugar na pesquisa nacional de satisfação e qualidade feita pela Anatel em 2023. O resultado da empresa no ranking encabeçado por outras regionais ficou acima de grandes operadoras (para PPPs, a participação na pesquisa é facultativa). 

Para o CMO da BR Super, Alexandre Guimarães, a proximidade com os clientes é um diferencial em relação às competidoras maiores. Ao TELETIME, ele contou que a regional fez investimentos para atender áreas que não eram do interesse de provedores de maior vulto, além de reforçar canais de atendimento ao consumidor.

"Com isso, nós tivemos esse bom resultado em satisfação. A regional tem um brilho. Tem a responsabilidade de estar com o rosto na frente. E aí sem dúvida alguma, sai na frente com a qualidade de atendimento", relatou ele a este noticiário.

"Agora se uma grande operadora chega com valor extremamente agressivo no mensal, não há dúvidas que o atendimento ficará aquém. Hoje, o cliente que prefere preço tem alternativas no mercado. E o cliente [que prefere] qualidade também tem alternativas no mercado. Normalmente, o preço baixo e a qualidade alta, não andam juntos", afirmou Guimarães.

Outra regional que apostou na entrega de qualidade foi a Leste Telecom. A empresa, que opera em sete municípios do Rio de Janeiro, conseguiu recentemente o selo RA1000. Trata-se de indicador (concedido pela plataforma Reclame Aqui) para empresas consideradas confiáveis – que prestam bom atendimento e têm alta taxa de solução dos problemas.

O CEO da Leste, Sandro Rinaldo, também afirmou que o atendimento das regionais é visto como um diferencial pelos clientes. "Temos mídias sociais ativas para responder nosso cliente 24 horas por dia", disse. De acordo com ele, as reclamações são acompanhadas "de perto" e a empresa mantém um canal no WhatsApp para informar usuários sobre eventuais problemas de rede e manutenções.

Guerra de preços

Um dos fatores que ajudam a acirrar a guerra de preços na banda larga é justamente a presença de vários players no mesmo local. Droander Martins, da IPV7.Group, destacou a dificuldade que os provedores têm para encontrar uma região não saturada para investir.

Em alguns municípios, por exemplo, a BR Super compete com até 14 provedores diferentes. Apesar de considerar essa disputa um desafio, Guimarães afirmou que a empresa nunca teve como objetivo entrar nessa guerra. 

"O que existe hoje é uma certa subvalorização do produto Internet. Alguns clientes acham caro a ideia de uma Internet por R$ 100 reais, mas acham tudo bem que uma garrafa de refrigerante custe R$ 10 ou uma garrafa de cerveja custe R$ 16", disse o CMO da BR Super.

Para a Leste, em uma assinatura de banda larga a R$ 100 "a matemática não fecha". Ele justifica essa afirmação mencionando custos altos com carga tributária, equipamentos, locação de postes e links de transportes.

"Esse valor muito baixo não te dá um resultado para que você possa ofertar realmente qualidade", afirmou Rinaldo. Ele disse ainda que, para atender de forma eficiente os clientes, a Leste Telecom teve de subir o tíquete mínimo.

No caso da BR Super, clientes têm recebido ofertas de concorrentes cobrando até 30% menos do que eles. Mas, segundo a provedora, muitos usuários optam or não fazer a migração justamente porque percebem a qualidade do serviço prestado.

Investimentos

A avaliação dos entrevistados foi de que o acirramento na guerra de preços na banda larga pode limitar a capacidade das companhias de investimento em inovação tecnológica.

"A expansão de rede e infraestrutura no Brasil pode ser muito cara. Por exemplo, a fibra óptica tem uma vida útil de cerca de dez anos. Após esse período, a fibra essencialmente se torna obsoleta", disse Rinaldo. 

Já o CEO da IPV7 mencionou o surgimento de novos investimentos necessários para operações de banda larga, como segurança. "Só para manter as luzes do provedor acesas, o tíquete muitas vezes já não fecha. Imagine, então, como alguns vão investir em cibersegurança, um investimento novo que não tinham que se preocupar antes", afirmou Droander Martins.

As companhias também investem na entrega de outros produtos para diversificar a captação de receitas. A BR Super, por exemplo, comercializa telefonia fixa (que ainda tem boa aceitação, segundo a marca). Além disso, a empresa também entrega SVAs, como aplicativos de teleconsulta.

Já a Leste Telecom apostou, recentemente, na abertura de planos de telefonia celular, por meio de MVNO – com a promessa de manter o mesmo atendimento da internet fixa em dispositivos móveis.

Políticas públicas

De acordo com Guimarães, é complexo desenhar uma política pública que realmente auxilie na expansão das empresas regionais. "Como seria ajudar todas essas empresas? E quais seriam as privilegiadas?", questionou.

Para o CMO da BR Super, o poder público também pode ser ainda mais eficaz com uma política de educação qualificada que possa gerar mão de obra para o setor de telecomunicações.

Já Rinaldo, da Leste, afirmou que cargas tributárias mais baixas podem dar fôlego para essas empresas. Ele disse que a empresa chegou a repassar ao consumidor a redução do ICMS para produtos de telecomunicação – que subiu este ano em cinco unidades federativas do País. 

Rinaldo também comentou sobre o ICMS adicional no Rio de Janeiro. A taxa destinada a financiar o fundo no estado fluminense coloca a alíquota para o setor em um patamar acima do teto definido pela União. Para ele, esse encargo seria inconstitucional.

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