Durante o evento Satellite 2023, que acontece esta semana em Washington, o tema "novo" é o debate sobre as possibilidades de conexão direta entre dispositivos e satélite, o tema de preocupação é com o avanço das constelações de órbita baixa e com os impactos já percebidos e que ainda virão da oferta de banda larga por empresas como Starlink e Kuiper, e o tema que todas as operadoras tradicionais querem falar é o da integração de múltiplas órbitas em um mesmo serviço. O que o evento indica é que, se de um lado o setor de satélite comemora o fato de estar de novo na moda, recebendo a atenção da mídia, de investidores e de um rico ecossistema de startups, de outro são os modelos legados que garantem a sustentação da indústria e ainda é muito incerto se esses modelos serão mais prejudicados ou auxiliados pelas transformações estratégicas e tecnológicas.
O pano de fundo de todo o debate é se o processo de consolidação do mercado, sobre o qual há muito se fala, agora de fato vai acontecer. Para Eva Berneke, CEO da Eutelsat, o primeiro caminho é a integração entre constelações de múltiplas órbitas, como aconteceu com a Eutelsat e com a OneWeb. O próximo passo, diz ela, é com essa integração acontecendo entre mais de uma operadora, e isso já aconteceu recentemente no anúncio da parceria entre Eutelsat/OneWeb e Intelsat.
Mark Dankberg, CEO da Viasat, traz sempre uma visão cautelosa em meio a tanto entusiasmo que cerca o surgimento de novas tecnologias e tendência. Ele lembra que ainda que exista muito mercado a ser explorado, e que o grosso da demanda ainda está em áreas urbanas, em que a competição do satélite é com outras tecnologias. Ele também mostra especial preocupação com os riscos de interferências quando várias constelações de baixa órbita estiverem em operação, e lembra que isso tem o potencial de arruinar os serviços para todos os players.
Mas o alerta mais importante de Dankberg vem de quem está há anos provendo banda larga via satélite em residências: o tráfego cresce entre 20% e 30% ao ano, o que coloca uma pressão permanente sobre as redes de satélites. "Nosso mercado foi pensado em um modelo de broadcast e para isso ele é imbatível, mas vivemos em um mundo cada vez mais unicast, e por isso precisamos reaprender muita coisa".
David Kagan, CEO da Globalstar, contudo, mostra que há um movimento importante de aproximação com o setor de telecomunicações, seja na comunicação direta por satélite, seja na oferta de backhaul. "Nunca ficamos tão próximos do mercado de telecomunicações e isso é muito positivo".
David Wajngras, CEO da Intelsat, acredita que o mercado de satélites será totalmente diferente em alguns anos. "Vivemos várias transformações ao mesmo tempo e elas deixarão as suas marcas", diz ele. "Nossa indústria, de repente, virou mainstream". Ele chama a atenção para o bom momento da indústria em geral, com mercados tradicionais em crescimento, surgimento dos sistemas de 5G e a integração de padrões para os releases 17 e 18 do 3GPP.
A Intelsat diz estar aberta a aquisições e operações que complementam seu portfólio, mas chama a atenção da indústria para a falta de integração entre os atores do próprio setor.