Governo e Anatel têm pouco tempo para cumprir todos os passos legais necessários para viabilizar a BrOi. A data limite contratual é 21 de dezembro. Se a operação não tiver o sinal verde da agência, a Oi terá de pagar à BrT uma multa rescisória de R$ 490 milhões. Mas mesmo que se chegue a toque de caixa ao prazo limite, BNDES e fundos de pensão (os sócios que abriram mão de serem controladores majoritários) terão de fazer em dezembro uma pausa para meditação antes que a Oi desembolse os cerca de R$ 9 bilhões para adquirir o controle da BrT e pague o tag along aos minoritários. Duas perguntas terão que ser feitas: será que o negócio nesse valor ainda vale à pena? será que não é preferível e mais barato pagar a multa rescisória e procurar outro caminho?
A razão para a reavaliação do negócio é evidente. O acordo foi fechado no dia 25 de abril deste ano quando o Ibovespa estava em 65.185 pontos. De lá para cá, houve o crash das bolsas e as empresas de capital aberto, como as operadoras de telecomunicações, tiveram suas ações negociadas no mercado por valores em média 50% abaixo daqueles praticados na época em que se fechou o acordo da BrOi, e podem cair ainda mais. Em outras palavras, com R$ 9 bilhões daria, agora, para comprar em bolsa o dobro ou até mais de ativos que se podia adquirir no dia 25 de abril.
Não é bem assim que se faz a conta nos casos de fusões e aquisições em que se negocia o controle de empresas, certamente dirão articuladores da BrOi. Embora o chamado valor de mercado (cotações em bolsa) seja um dos parâmetros a serem levados em consideração no cálculo de quanto valem BrT e Oi juntas, há dois outros parâmetros até mais relevantes a se olhar. Em primeiro lugar, o fluxo de caixa descontado (onde o desconto é a taxa de risco). E é óbvio que esse parâmetro também muda no novo cenário econômico das telecomunicações que se vislumbra após o crash. Pode-se dizer que a economia crescerá a partir de agora menos do que no período anterior e que o ritmo de crescimento do fluxo de caixa das operadoras de telecomunicações também acabará reduzido. Trocando em miúdos, haveria aí mais uma razão para analisar novamente o negócio da BrOi.
Para concluir, há um outro fator a ser considerado. É justo e moral que Citi e, principalmente, Opportunity saiam desse negócio com recursos que em termos relativos sejam equivalentes ao dobro do que teriam a receber pelo acordo anunciado a 25 de abril? No caso do Opportunity, acusado de uma extensa lista de ilícitos cometidos durante sua gestão de sete anos na BrT, soma-se ao fantástico ganho de capital (para quem aplicou quase zero de capital próprio) um inconcebível perdão de seus acusadores: o Citi e os fundos de pensão que retiraram os processos que corriam na Justiça brasileira, em Nova York e em Cayman.
Convém lembrar ainda que as ações do Opportunity na BrT a serem pagas em dezembro pelo valor de controle de abril foram em grande parte adquiridas por meio de garimpagem. Ou seja, conforme inquérito que anda a passos de tartaruga na CVM e é também assunto da operação Satiagraha, foram adquiridas com informações privilegiadas pelos ex-gestores da BrT junto a incautos detentores de antigos planos de expansão do Sistema Telebrás. O risco da revenda desses papéis para a Oi vir a ser contestada na Justiça é, portanto, grande. Será que convém apostar mais uma vez nas facilidades atribuídas a Daniel Dantas nos tribunais?
Em meio ao crash e à crise econômica que se prenuncia (ou não), vários negócios contratados foram desfeitos ou refeitos no Brasil e no mundo. Aqui temos os exemplos recentes da Aracruz com a Votorantim ou ainda da Cyrella com a Agra, que desfizeram seus respectivos acordos.
Até dezembro, há tempo para refletir. Por que não usar os R$ 9 bilhões da Oi para pagar a multa rescisória e adquirir ativos no Brasil ou no exterior que se tornaram mais interessantes e baratos para a Oi? Por que não avaliar até a oportunidade de pagar a multa e renegociar a própria BrT? No mundo de volatilidade do valor dos ativos em que vivemos, tudo é possível. Inclusive corrigir eventuais equívocos. (Este editorial é parte da edição de outubro da Revista TELETIME, que circula esta semana.)