[Publicado originalmente no Mobile Time] O superintendente de outorga e recursos à prestação (SOR) da Anatel, Vinicius Caram, explicou que já disponibiliza um cardápio de espectro para atender as empresas que desejam criar redes privativas. Durante o MPN Forum, evento organizado por Mobile Time na terça-feira, 12, o representante do órgão regulador afirmou que tem um total de 4,5 GHz de largura de banda disponível, sendo 204 MHz abaixo de 1 GHz, 665 MHz em sub 6 GHz e 3,65 GHz em ondas milimétricas (acima de 6 GHz).
"A percepção que se tinha é que não havia uma voz única na indústria para falar 'quero uma faixa [de frequência] para tal solução'. A reclamação da indústria era 'quero espectro'. Hoje temos um cardápio de espectros que estão disponíveis, são baratos e acessíveis", garantiu Caram.
De acordo com o superintendente, há faixas mais baixas de 200 MHz até 450 MHz. Há ainda sobras de 1,8 GHz, de 2,5 GHz, além da recente disponibilização da faixa de 3,7 GHz e 3,8 GHz. "Sabemos que essa faixa de 5G pode melhorar a eficiência e trazer retornos superiores a 30% para o setor da indústria, totalizando R$ 150 bilhões em seis anos", afirmou.
Caram explica ainda que preço é relativamente baixo para o pedido de licença: "Hoje, para operar uma rede na frequência de 3,7 e 3,8 GHz, você precisa da autorização de serviço. Algo que é entregue em 15 dias. Se for sem fio, precisa de autorização da RF em um polígono (parque fabril), com caráter secundário, 100 MHz em indoor e 50 MHz outdoor. Isso custa R$ 20 por mês. Por cinco anos, esse valor vai para R$ 1 mil. Depois, você licencia a estação rádio base, R$ 126", detalhou.
O superintendente revelou que atualmente há 1.082 empresas registradas com redes privativas no Brasil na faixa de 225 a 270 MHZ (cobertura nacional), a maioria em ferrovias. Nas frequências entre 2,39-2,40 GHz são seis CNPJs dos setores de energia elétrica e mineração (um estado apenas).
Também explicou que há equipamentos homologados e fabricantes, como:
Faixa | Quantidade de equipamentos | Quantidade de fabricantes |
225 a 241,5 MHz | 6 | 2 |
248,7 a 268,75 MHz (ERBs) | 13 | 6 |
2,39 a 2,4 GHz (ERBs) | 6 | 13 |
2,485 a 2,495 GHz | 4 | 3 |
Preocupações do mercado
Se não há problema na regulação do espectro, de equipamentos e mesmo do preço das licenças, quais são as preocupações do mercado para avançar em redes privativas? Para Marcia Ogawa, sócia-líder da Indústria de Tecnologia, Mídia e Telecom da Deloitte, o mercado de "redes privativas está começando a se mover" e ainda há dificuldades para definir "modelos de negócios". Em sua visão, as empresas adicionam mais questões à equação, indo além do valor da rede. A executiva deu como exemplo o caso do Inova HC, que ponderou o investimento em uma rede para fazer ultrassom à distância contra todas as dificuldades logísticas de atender presencialmente em regiões ribeirinhas.
Único representante de operadora no painel, Alexandre Dal Forno, diretor de desenvolvimento de mercado IoT & 5G da TIM, citou como problema a necessidade de amadurecimento das empresas ligadas ao plano de negócios para a instalação de redes privativas, em especial com relação entre expectativa e realidade quanto ao preço praticado.
Por sua vez, Ricardo Pence, vice-presidente de vendas para América Latina, Portugal e Espanha da Baicells (representada no Brasil pela Telesys), acredita que o problema é a falta de integradores no mercado para fazer a ponte entre as aplicações e as redes, um espaço que pode ser preenchido por novos players, como as ISPs e MVNOs. Já Paulo Spaccaquerche, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), disse que o problema é a falta de mão de obra para produzir as aplicações que serão usadas pelas empresas.