Nos últimos anos, o cenário urbano tem testemunhado transformações significativas impulsionadas pelo avanço tecnológico. Muitas cidades ao redor do mundo já iniciaram sua trajetória em direção a uma infraestrutura interoperável e interconectada, fundamental para o desenvolvimento de uma cidade inteligente.
No entanto, esse fortalecimento permanece fora do alcance de outros municípios, que ainda sofrem com déficits orçamentários, relações complexas entre instituições e órgãos públicos e reguladores e, ainda, abordagens ultrapassadas na concepção, execução e gestão de grandes projetos de infraestrutura.
A mudança exige uma reavaliação profunda das estratégias de planejamento urbano e, diante desse contexto dinâmico, um modelo surge como uma resposta para superar esses desafios. São novas ideias para gerar financiamentos, parcerias, aumentar a flexibilidade de aquisições e ampliar a governança, ao mesmo tempo em que testa, implementa e dimensiona soluções de cidades inteligentes, com resultados tangíveis. A chamada Abordagem da Aliança oferece uma forma de desenvolver novos ecossistemas de parceria e surge como um paradigma inovador para catalisar o progresso.
As cidades inteligentes não são apenas uma combinação de tecnologias avançadas, como veículos autônomos, Internet das Coisas (IoT) e serviços em nuvem. São uma redefinição das relações entre as pessoas e o ambiente urbano, exigindo uma abordagem mais ágil e escalável do que as iniciativas tradicionais.
O mapeamento The Alliance Approach to Smart Cities, elaborado pela Deloitte, mostra que Abordagem da Aliança vai além da metodologia aplicada com base nos modelos antigos de desenvolvimento urbano, que não conseguem abordar as novas oportunidades para criar ambientes que sejam inclusivos, resilientes e sustentáveis. No centro do novo sistema estão métodos de financiamento inovadores que partilham os custos e riscos do desenvolvimento de novas tecnologias acessíveis e a capacidade de concretizar todo o seu potencial. Seus principais atributos incluem: financiamento inovador, parcerias colaborativas, aquisições ágeis e governança dedicada.
O primeiro desses atributos estimula novas abordagens na obtenção e financiamento de recursos, que se tornam cruciais em um cenário em que muitas cidades não possuem verbas necessárias para projetos ambiciosos. O mapeamento da Deloitte aponta que, entre as alternativas a serem exploradas neste sentido, estão o financiamento de fornecedores parceiros, fundo rotativo de inovação, mini-títulos, parceria público-privada, Land Value Capture (LVC) – ou Captura do Valor da Terra, em português – e garantias e contratação baseadas em desempenho. São financiamentos modernos que garantem recursos financeiros usando tecnologias ou estratégias inovadoras.
Outra peça essencial do quebra-cabeça são as parcerias colaborativas. Projetos de cidades inteligentes, frequentemente, envolvem vários fornecedores e agências governamentais, exigindo uma coordenação eficaz. Quaisquer que sejam as parcerias que uma cidade estabeleça, o projeto vai necessitar de um parceiro para integrar todos os componentes e ajudar o patrocinador a desenvolver a sua estratégia, plano de negócios e modelo de receitas. A Abordagem da Aliança oferece mecanismos para alinhar os interesses de todos os parceiros, incluindo acordos de compartilhamento de ganhos, para incentivar resultados bem-sucedidos.
Já a aquisição ágil surge como uma resposta a dúvidas que surgem na elaboração do planejamento urbano sobre, por exemplo, como adquirir produtos e serviços necessários em projetos complexos ou como testar e expandir rapidamente novas tecnologias em escala urbana. A Abordagem da Aliança propõe estratégias inovadoras, como faturamento baseado em valor e pagamento por desempenho, para compartilhar riscos e alinhar interesses.
Em um projeto de cidades inteligentes, é importante avançar rapidamente e permanecer flexível, experimentando novas tecnologias promissoras, aprendendo com as falhas e aproveitando os sucessos. É aqui que uma governança mais efetiva integra todos os demais elementos. Em um mundo onde a agilidade e a flexibilidade são cruciais, surge a figura do "champion" (campeão, em português), profissional que desempenha um papel fundamental ao apoiar e promover ativamente as iniciativas. No contexto de projetos das cidades inteligentes, o "champion" se destaca. Empoderado para agir rapidamente, ele trabalha diretamente com a liderança, garantindo uma visão compartilhada e a capacidade de tomar decisões rápidas.
Todos esses elementos mostram que o conceito de cidades inteligentes está delineando o futuro urbano, com inúmeras oportunidades para promover serviços novos, de forma rentável. Os municípios ainda enfrentam muitas questões que a Abordagem da Aliança pode ajudar a responder, possibilitando que as cidades possam explorar tecnologias promissoras, determinar quais se adequam às suas necessidades específicas e, em seguida, incorporar essas novas soluções na estrutura urbana.
*Ronaldo Fragoso é sócio-líder de Ecossistemas e Alianças (E&A) e para o Setor Público da Deloitte. As opiniões expressas nesse artigo não refletem necessariamente a visão de TELETIME.