As lives nas redes sociais e os serviços de streaming cresceram muito durante a pandemia. Mesmo começando no Brasil há 13 anos, foi durante o lockdown que o streaming ganhou força. Um relatório da MPA (Motion Pictures Association) ressaltou que houve aumento de 26% na assinatura de plataformas durante a pandemia, o que significa 232 milhões de novas contas. Já o total de assinaturas globais chegou a 1,1 bilhão em 2020. Com isso, muitas empresas do setor precisaram se organizar rapidamente por conta do volume maior de usuários antes do tempo planejado. Apesar disso, quem saiu ganhando foi o consumidor, que teve muito mais opções de planos e benefícios.
Durante eventos recentes como Olimpíadas e Paraolimpíadas houve um novo pico de transmissão de streaming e houve também uma grande mudança cultural, assim como na forma das pessoas consumirem entretenimento. Ou seja, com o streaming, os telespectadores em todo mundo conseguiram acompanhar horas de transmissão por meio de vários dispositivos: TV, celular, tablet etc. Não foi necessário paralisar a rotina para acompanhar provas olímpicas ao vivo, mesmo com diferença de fuso horário de cinco horas.
Em particular, fez sucesso a transmissão das Olimpíadas através de canais pela Internet em streamings ao vivo no Youtube, Instagram e X/Twitter que se mostraram como uma alternativa de sucesso na transmissão dos jogos. A experiência foi além dos números impressionantes – com picos de 1,6 milhão de espectadores simultâneos e 36,4 milhões de visualizações totais em um único canal brasileiro, por exemplo – revelando uma forma inovadora e acessível de acompanhar as competições.
A demanda por maior flexibilidade também incentivou adaptações importantes: o Comitê Paralímpico Internacional levantou o geobloqueio do seu canal no YouTube para facilitar o acesso do público brasileiro, que pôde acompanhar as competições em tempo real, sem necessidade de TV por assinatura. Mesmo com a narração em inglês, a torcida verde e amarela mostrou engajamento e apoio aos paratletas, consolidando o streaming como uma solução democrática e inclusiva.
Este não é um assunto apenas para os veículos de comunicação, agências de publicidade e empresas em busca da atenção do público, mas também aos profissionais de TI e Provedores de Internet (ISPs), pois a área de Infraestrutura de TI é responsável pela pavimentação dessa estrada digital que uniu os atletas em Paris e o público em todo mundo.
Para os operadores, o streaming representa um desafio considerável em termos de qualidade. Aspectos como latência e perda de pacotes são cruciais e têm um impacto direto na experiência do usuário. Além disso, exige uma quantidade significativa de largura de banda, o que torna essencial a otimização da infraestrutura de rede.
Um fator decisivo para melhorar a qualidade da transmissão é a proximidade dos servidores de conteúdo em relação aos usuários. A localização estratégica desses servidores pode reduzir a latência, resultando em uma entrega de conteúdo mais rápida e eficiente, essencial para a satisfação do usuário.
Outro aspecto importante é o jitter, que se refere à variação na latência ao longo do tempo. Esse parâmetro é um diferenciador crítico entre redes homogêneas, que oferecem uma latência mais estável, e soluções que envolvem várias redes interconectadas, onde as flutuações podem ser mais frequentes e impactar negativamente a qualidade da experiência.
Portanto, a gestão eficaz de parâmetros de qualidade de rede, como latência, perda de pacotes e jitter, é fundamental para garantir uma percepção positiva dos usuários em serviços de streaming. Investir na melhoria desses aspectos não apenas atende às expectativas dos consumidores, mas também fortalece a competitividade dos operadores no mercado.
Atenção à infraestrutura
Steve Jobs já dizia que o consumidor não sabe que precisa de algo até que você crie a demanda, e se achávamos que o público tinha abraçado o streaming de filmes, séries, shows e jogos, as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2024 mostraram que esse hábito é muito mais amplo e veio para ficar. Isso chama atenção à infraestrutura necessária para realizar essas transmissões com a velocidade, qualidade e segurança que os usuários de internet querem receber. Para fazer uma transmissão acontecer, são necessários múltiplos elementos e profissionais especializados, tais como técnicos e engenheiros, que projetam, constroem e cuidam de datacenters, geradores, torres de transmissão, cabos submarinos e demais pontos de infraestrutura, além de manutenção de sinal, gerenciamento de rede e cibersegurança, dentre diversos outros pontos em permanente atenção.
Neste ponto, Paris também foi aprendizado, pois na madrugada da Cerimônia de Abertura das Olimpíadas, denúncias de ataques coordenados às infraestruturas de telecomunicações em pontos diferentes da França afetaram os serviços de telefonia e conexão à internet por todo o país, pois houve danos às redes de fibra óptica. A situação foi rapidamente contornada e não foram registrados mais transtornos do tipo até o final dos Jogos.
Não foram liberados detalhes, mas certamente as ações de contenção contemplaram o reforço à segurança física de torres e estruturas de fibra óptica – aqui, algo em que redes OPGW (Optical Ground Wire) poderiam ter ajudado ao oferecer uma alternativa mais segura ao utilizar as torres de energia elétrica – e o modelo brasileiro com milhares de provedores de Internet poderiam assegurar diferentes rotas de tráfego para rápida recuperação do sinal em caso de interrupção de transmissão.
Diante desse cenário, fica claro que a evolução do streaming não é apenas uma mudança nas preferências de consumo, mas uma transformação significativa na infraestrutura tecnológica que a suporta. À medida que o Brasil se prepara para eventos futuros, a necessidade de garantir uma rede robusta e resiliente se torna ainda mais premente. Investimentos em tecnologias avançadas, como redes de fibra óptica e soluções de cibersegurança, são essenciais para garantir que a experiência do usuário seja ininterrupta e de alta qualidade. Além disso, a colaboração entre operadores de telecomunicações, provedores de internet, operadores de Datacenters e especialistas em TI é fundamental para enfrentar os desafios que virão.
* Célio Mello é Gerente de Produtos da Eletronet. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente a visão de TELETIME.