A estratégia de redes heterogêneas (HetNet) das operadoras ainda engatinha no Brasil, e após quase um ano da publicação da resolução nº 624/2013, que regulamenta o uso das femtocells no País, ainda não houve implantação desses equipamentos em larga escala, conforme declarou o gerente geral de regulamentação da Anatel, Nilo Pasquali, que participou nesta semana do Painel TELEBRASIL, em Brasília. A TIM chegou a desenvolver uma estratégia de small cells, mas o projeto ainda caminha a passos curtos. A reclamação é que a regulamentação só contempla as femto com potência até 1 W, além do fato de as células macro possuírem melhor relação de custo total de propriedade (TCO). Neste cenário, a Ericsson pretende preencher o gargalo com sua nova solução, a RBS 6402, uma picocélula para operadoras implantarem em ambientes de até 5 mil m². Só não a chame de femtocell.
O dispositivo conta com quatro antenas de 250 miliwatts de potência para rede móvel, além de Wi-Fi (inclusive 802.11ac) de 200 miliwatts dual-band, e possibilita até dez bandas em sua configuração, incluindo diferentes espectros de 3G e 4G. Com a função de agregação de portadora, a RBS consegue entregar o LTE cat6, que dá até 300 Mbps de velocidade (em aparelhos compatíveis). "A implantação é rápida, por meio de software que faz a ativação, e isso leva uns 10 minutos apenas", explica o diretor da unidade de negócios de radio da Ericsson, Arun Bansal, ressaltando ainda a possibilidade de o equipamento ser incorporado à cobertura micro e macro.
Na verdade, essa é a jogada da fornecedora sueca: possibilitar que a small cell "converse" com a cobertura de macrocélula, um dos principais problemas das femtocells comuns. "É extremamente crucial que isso trabalhe em sincronização com macro e micro: se você olhar para a banda larga, (a utilização da rede) acontece majoritariamente indoor, mas você tem a cobertura que tem aplicação, ou games, ou download, e ele (o usuário ou dispositivo) pode continuar usando a rede enquanto sai da casa, onde tem ambiente micro, para um ambiente macro", afirma Bansal. Ou seja: com a integração da RBS e suas funções definidas por software, o hand-off acontece de maneira transparente.
Para o Brasil
De acordo com o diretor de banda larga móvel da Ericsson, Clayton Cruz, o dispositivo deverá começar a ser testado com operadoras brasileiras entre janeiro e fevereiro de 2015. "A gente faz trial na operadora e isso leva de um a dois meses para testar e executar. Vamos (disponibilizar comercialmente) a partir de março ou abril", diz. O executivo afirma que as teles já demonstraram interesse.
Ele observa que as operadoras usaram soluções macro para resolver problemas indoor, como nas implantações de reforço de cobertura para a Copa do Mundo, mas ressalta que o novo produto poderia endereçar esse tipo de aplicação. "Entrar no ambiente indoor não é fácil, mas essa pico nova tem power-over-Ethernet, ou seja, não precisa mais ser ligada na tomada AC."
Mesmo garantindo que não se trata de uma femto, Cruz explica que a picocélula pode receber o benefício da regulamentação. "Ela entra na desoneração porque a certificação da Anatel mede o transmissor, que é de 250 miliwatts. E mesmo que some os quatro transmissores, você chega a 1 W", declara. Inicialmente, a intenção é importar o aparelho, mas a demanda pode mudar isso. "Hoje o produto não tem fabricação no Brasil, mas assim que começarmos a ter volume, claro que vamos avaliar a fabricação local".
O diretor da Ericsson não acredita que a RBS 6402 concorrerá com as femtocells por atender a necessidades diferentes e "por ser superior". Mas reconhece que as aplicações da pico conseguiriam substituir não apenas a implantação de femtos, mas também de hotspots Wi-Fi. "Já faz um ano que foi liberado o benefício para usar as femto, e não tem roll-out. Isso nos faz crer que tem alguma coisa, que as operadoras estão esperando soluções desse tipo, que garantem qualidade", afirma. "Acho que tem espaço para tudo, mas começa a ter muito mais preferência para esse tipo de solução integrada na rede, na mesma infraestrutura do 3G, que todo o sistema de gerência já é integrado e tem garantia de qualidade e eficiência".
Radio Dot System
Durante a Futurecom de 2013, muitas operadoras demonstraram interesse na Radio Dot System, uma pequena célula (até menor do que a RBS 6402) para ambientes indoor acima dos 5 mil m2. No entanto, até o momento, ainda não há implantação comercial. "Estamos em fase de trial com clientes, mas está saindo na indústria, estamos no cronograma", garante Arun Bansal. No Brasil, a Ericsson também estaria progredindo para disponibilizá-la. "O que posso garantir é que discutimos com todas as operadoras, e cada uma em estágio diferente de discussão", diz Clayton Cruz. O benefício da desoneração também se aplicaria, já que a antena tem potência de 150 miliwatts.