Canalização da Ásia-Pacífico não deverá trazer problema para adoção do 700 MHz no Brasil

Aos poucos, o leilão de 700 MHz vai se tornando realidade para o mercado brasileiro, mas o processo de harmonização com dispositivos utilizados em outros países, especialmente nos Estados Unidos, pode não ser tão simples. Isso porque a canalização escolhida para o espectro brasileiro será o APT700, da Asia Pacific Telecommunity, padrão também conhecido pelo 3GPP como banda 28, e que prevê a configuração FDD com 703 MHz a 748 MHz para uplink e 758 MHz a 803 MHz para downlink, com 10 MHz de banda de guarda para cada fluxo. Na prática, isso significa que alguns dispositivos trazidos de outros países, especialmente os aparelhos mais antigos, poderão não ser compatíveis com o espectro no Brasil, tanto para uso corrente quanto para roaming. Mas isso também pode ser uma questão de tempo.

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É o caso do iPhone. Até a semana passada, a Apple não disponibilizava nenhum modelo compatível com a banda 28, apesar de ter total compatibilidade com a rede de 700 MHz nos EUA. No entanto, o lançamento do iPhone 6 e 6 Plus não apenas contemplou o ATP700, mas o fez com um chipset multibanda, suportando ao todo 20 bandas (inclusive 2,5 GHz) em um único modelo. A Samsung adotou estratégia semelhante e o Galaxy S5 brasileiro também é compatível com o padrão. De acordo com a Global Mobile Suppliers Association (GSA), em julho eram 33 aparelhos fabricados por 11 companhias no mundo, incluindo smartphones, tablets, CPEs e hotspots MiFi (pequenos roteadores pessoais), muitos deles, como os novos iPhones, com tecnologia multibanda.

Já há redes com essa configuração em funcionamento no mundo. Atualmente, o ATP700 é usado por operadoras na Austrália, Nova Zelândia, Taiwan e Papua Nova Guiné, além do Japão, que licenciou parte do espectro de 700 MHz com a banda 28. O padrão começará também a ser adotado em países na América Latina, como Chile, Colômbia, México e Uruguai, com a promessa de, "em futuro próximo", chegar também à região 1 da União Internacional das Telecomunicações (UIT), que abrange Europa, Rússia, Oriente Médio e África. Há expectativa também de implantação na Coreia do Sul e Índia.

Melhor configuração

O assessor do Conselho Diretor da Anatel, Agostinho Linhares, explica que a decisão de escolher o ATP700 foi por acreditar que é uma configuração mais eficiente e com potencial de crescimento maior. A agência começou a estudar as possibilidades antes mesmo de uma adoção mais maciça, e, assim mesmo, entendeu que o arranjo da Ásia-Pacífico era melhor. "Naquele momento já tinha o (arranjo) americano em 2008, mas tinha várias restrições, como (a impossibilidade de blocos) de 20 MHz + 20 MHz, o que já é possível no arranjo da APT", justifica.

A baixa penetração da banda 28 no mundo será solucionada com o tempo, acredita Linhares. "A Europa está fazendo estudos e eles já sinalizaram que vão aderir para o arranjo APT, já estão chamando isso de segundo dividendo digital", declara, citando ainda a China como outro país comprometido a usar o padrão. Segundo ele, a Anatel considerou o mercado internacional e a eficiência operacional na hora de escolher, e a atual oferta de dispositivos também não incomoda. "Não tinha nenhum aparelho antes, nos testes da Anatel estávamos com protótipo, mas aí em julho já eram 33 smartphones, e hoje em setembro já serão mais outros aparelhos. Vai ser muito forte (a adoção)", afirma.

O presidente da GSA, Alan Hadden, concorda e defende que a escolha do Brasil pela canalização ATP foi "sábia". "O APT700 é um arranjo muito mais eficiente de espectro e tem atraído suporte internacional mainstream para a configuração FDD", disse, alegando que o padrão deverá atender a um mercado de mais de 2,2 bilhões de pessoas. "A banda APT700 é uma grande oportunidade para a harmonização quase global de espectro para sistemas LTE, assim pavimentando o caminho para garantir as maiores economias de escala para dispositivos para usuários e capacidade para a banda larga móvel e para roaming internacional".

Hadden argumenta que haverá, eventualmente, uma adoção global da banda 28, o que levará fabricantes a aumentar o suporte em seus dispositivos. "Dessa forma, podemos esperar que a banda será tão importante de incluir quanto as bandas de 850 MHz e 900 MHz. Com o cronograma do Brasil para a introdução da banda de 700 MHz em algum momento no futuro, e o País precisará primeiro desalojar a radiodifusão da faixa, pode-se esperar que não haverá falta de modelos de aparelhos – e em diferentes categorias de preço – para a escolha dos consumidores brasileiros quando os serviços em 700 MHz começarem", garante.

Multibanda

Pelo lado dos fabricantes de celulares, a expectativa é de que, até que o padrão seja adotado, possa-se contar com modelos compatíveis com mais de uma banda. O especialista em produto da área de celular da LG Electronics do Brasil, Marcel Inhauser, diz que a companhia considera a nova faixa na hora de escolher variantes compatíveis. "Tem sido um grande desafio, já que também há uma granulação do mercado 4G LTE em termos de frequência por operadora e por região, o que torna bastante desafiador construir um portfólio que atenda variadas necessidades tanto das operadoras quanto dos consumidores finais envolvendo estes três fatores", disse. Ele garante que há uma administração da unidade brasileira da companhia sul-coreana para que os modelos atendam às necessidades locais em termos de prazo, preço, volume, custo-benefício e venda.

Inhauser ressalta que a LG é uma das "principais detentoras de patentes do padrão LTE em caráter global", com aparelhos multibanda como o E977 Optimus G, e que terá relacionamento próximo com operadoras nos processos de desenvolvimento e homologação, e na seleção do portfólio. Na opinião dele, o consumidor não precisará escolher entre aparelhos 4G compatíveis com 700 MHz ou com 2,5 GHz. "É inegável que, assim como ocorreu no 2G e 3G, a tendência (até mesmo necessidade) do mercado é ter aparelhos multibanda que eliminem esse tipo de preocupação", diz. Ele garante que a companhia já tem investido em pesquisa e desenvolvimento não apenas de dispositivos premium, mas também ao segmento de entrada. "Isso elimina a necessidade de granularizar o fornecimento de modelos ou versões em caráter nacional (por região, operadora ou outro fator) e problemas tanto do lado operadora como consumidor final com incompatibilidades e inconsistência de sinal."

A Sony Mobile confessa que não conta com aparelhos compatíveis porque a rede de 700 MHz no Brasil ainda não está disponível. "A Sony Mobile investe constantemente na tecnologia de seus smartphones e os próximos lançamentos trarão novidades no quesito conexão", afirma a diretora de marketing da companhia no País, Ana Peretti.

Apesar de a Samsung já disponibilizar ao menos um modelo compatível com a banda 28 no País, o Galaxy S5, a companhia não quis comentar, assim como a Motorola Mobility – ambas foram procuradas por este noticiário.

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