A preocupação da Abrafix de que a retomada de funcionários pela Telebrás que atualmente trabalham na Anatel gere uma transferência indevida de informações sobre o setor para a estatal foi rebatida com veemência pelo novo presidente da empresa, Rogério Santanna. Para ele, o temor das teles é descabido, especialmente se for considerado que muitos funcionários da estatal migraram para a iniciativa privada durante a privatização. E, usando o mesmo raciocínio, esses funcionários podem ter levado para uma tele informações importantes sobre a operação das concorrentes.
"Eu estranho essa preocupação considerando que os funcionários da Telebrás estão há 12 anos na Anatel e o previsto é que, ainda assim, eles iriam trabalhar depois nas empresas privadas. Portanto, esses funcionários já carregavam esse risco (de transferência de informações) há 12 anos. E essa preocupação nunca havia sido levantada", protestou o presidente da Telebrás. Sem citar nomes, Santanna lembrou que ex-telebrinos (como são chamados os servidores da Telebrás) ocupam hoje cargos importantes nas empresas privadas.
Santanna assegurou que a retomada dos funcionários se dará de forma concertada com a Anatel, com o objetivo de causar o mínimo impacto na agência e no setor. Ainda de acordo com o presidente, não há interesse da estatal em deslocar servidores que estão em cargos de gerência na agência reguladora e que "têm prestado um bom serviço à Anatel".
Um dos pontos mais delicados da revitalização da Telebrás é o fato de que um funcionário da estatal pertence hoje ao Conselho Diretor da Anatel. Trata-se do conselheiro Jarbas Valente, que do ponto de vista formal é servidor do Sistema Telebrás até hoje. Santanna preferiu não comentar o que pode acontecer com o conselheiro. Em princípio, Valente não está entre os nomes que a Telebrás pretende chamar de volta – até porque a posição no conselho é uma nomeação presidencial revogável apenas em casos de condenação judicial por improbidade.
No entanto, se Valente permanecer nos quadros da Telebrás isso pode configurar um conflito de interesses, uma vez que, a partir de agora, o conselheiro estaria regulando e fiscalizando o setor sendo formalmente funcionário de uma das empresas reguladas. Procurado por esta reportagem, o gabinete do conselheiro não se posicionou sobre o assunto.