Viasat vê comunicação NTN como impulso para Internet das Coisas

Kevin Cohen, VP de direct to device business development da Viasat

A operadora de satélites Viasat é uma das entusiastas do modelo de serviços direct-to-device (D2D, ou conexão direta entre satélites e dispositivos), e criou uma área inteiramente dedicada ao desenvolvimento deste negócio no mundo. Uma das razões que impulsionou o D2D na empresa é a disponibilidade imediata de frequências e dos satélites adquiridos na incorporação da Inmarsat.

Em entrevista a este noticiário durante a Satellite 2025, Kevin Cohen, responsável pelo desenvolvimento internacional das parcerias para D2D, destacou a estratégia da empresa para integrar dispositivos móveis diretamente aos satélites, sem a necessidade de torres terrestres.

"Com os novos chips da Qualcomm, MediaTek e Samsung, os dispositivos agora podem se comunicar diretamente com nossos satélites", afirmou Cohen. Tratam-se de chips 5G já no release 17 do 3GPP, que traz a capacidade de recepção das bandas L e S.

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A novidade é que a Viasat está fazendo essa conexão usando satélites geoestacionários que foram feitos com outros serviços em mente, mas que após alguns ajustes nas estações em terra passaram a funcionar também para comunicação D2D em qualquer dispositivo 5G.

Mas o produto tem diversas aplicações possíveis no segmento de IoT, como rastreamento, monitoramento e descarregamento de dados críticos. São serviços que utilizam baixas transferências de dados, mas que precisam estar sempre conectados.

A iniciativa visa aproveitar a cobertura global dos satélites geoestacionários da Inmarsat, que operam nas bandas L e S. Essa tecnologia permite que dispositivos móveis enviem, hoje, mensagens de texto, SOS e localização mesmo em áreas sem cobertura terrestre.

"Antes, era necessário um terminal específico para se comunicar com os satélites. Agora, qualquer dispositivo com os novos chips pode fazê-lo", explicou Cohen. A banda L, em particular, é utilizada para comunicações de baixa largura de banda, como mensagens de emergência, enquanto a banda S oferece suporte para comunicações mais robustas de voz. A Inmarsat era uma operadora dedicada a comunicações marítimas, comprada pela Viasat em 2023.

A Viasat já está testando essa tecnologia em diversos países, incluindo o Brasil, onde realizou uma prova de conceito com dispositivos QuickTel para rastreamento veicular. "Estamos planejando eventos para demonstrar esses dispositivos em funcionamento no Brasil, mostrando suas aplicações para consumidores e para o governo", destacou o executivo.

Oportunidade no IoT

Além do mercado de consumo, a Viasat vê grandes oportunidades no setor de Internet das Coisas (IoT) e automotivo.

"Imagina o que você pode fazer com carros conectados que têm chips de Qualcomm e MediaTek com essa funcionalidade", disse Cohen, ressaltando o potencial para rastreamento e comunicação em casos de emergência.

A tecnologia utiliza o protocolo NB-IoT, que permite uma comunicação eficiente com velocidade máxima de 2 kilobits por segundo. Não é suficiente para nenhum serviço de banda larga, mas mantém o veículo conectado mesmo em áreas sem cobertura terrestre.

A empresa também está desenvolvendo parcerias com operadoras de telecomunicações para oferecer esses serviços. "Algumas operadoras estão pensando em oferecer o serviço gratuitamente para clientes de alto valor, enquanto outras podem cobrar por serviços adicionais", comentou Cohen, enfatizando a flexibilidade do modelo de negócios.

Release 17

A padronização através do 3GPP versão 17 facilita a integração dos dispositivos com os satélites, permitindo que a Viasat utilize a infraestrutura existente sem necessidade de grandes investimentos adicionais. O release foi um marco importante para a indústria de satélites, pois introduziu funcionalidades que permitem a comunicação direta entre dispositivos e as constelações satelitais.

Essa versão do padrão 3GPP também inclui melhorias significativas em termos de eficiência espectral e suporte para novas bandas de frequência, como a banda L utilizada pela Viasat. "Com o Release 17, podemos integrar nossos serviços de forma mais eficaz, garantindo que os dispositivos possam alternar entre redes terrestres e satélites sem interrupções", explicou Cohen.

Essa padronização é crucial para a expansão do mercado de Direct to Device, permitindo que a Viasat utilize os satélites atuais da Inmarsat, que já possuem a capacidade necessária, para uma rápida implementação da tecnologia.

A Viasat anunciou esta semana, durante a Satellite 2025, uma parceria com a  Space42 para o desenvolvimento conjunto de tecnologias de comunicação direta D2D e aplicações 5G NTN. Um dos planos no roadmap, diz Coehn, é o desenvolvimento de uma constelação LEO dedicada a esse tipo de conexão.

"Conseguimos fazer muita coisa com satélites geoestacionários que temos hoje, mas uma constelação LEO permite outro tipo de aplicação, com mais banda e latências menores", diz.

A Space42 é uma empresa fundada a partir da fusão da Yahsat com a Bayanat, e tem sede nos Emirados Árabes.

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