A Polícia Civil do Ceará prendeu 12 pessoas suspeitas de envolvimento em ataques a empresas de Internet no estado, nesta quarta-feira, 12. A ação policial ocorreu, simultaneamente, em Fortaleza e nas cidades de Caucaia, Horizonte e São Gonçalo do Amarante. A Operação Strike cumpriu 12 mandados de prisão e 37 de busca e apreensão, e apreendeu três pistolas.
Nesta quinta-feira, 13, mais cinco pessoas suspeitas de participar dos crimes foram detidas. Ao todo, já chegam a 17 o número de presos pela Operação Strike.
Desde o final de fevereiro, diversos ataques a empresas provedoras resultaram na suspensão de serviços, como visitas técnicas e o próprio fornecimento de Internet, devido à violência dos criminosos.
As investigações apuram se os ataques estão sendo praticados contra as empresas que recusaram o pagamento de uma taxa a uma facção criminosa para poder ofertar o serviço. Essas empresas são alvos de represália, como destruição de cabos, incêndio a veículos e tiros disparados na fachada.
O secretário de Segurança Pública do Ceará, Roberto Sá, informou que a polícia já vinha investigando essas organizações, inclusive com a criação de um grupo especial formado por várias unidades, como a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) e as Coordenadorias de Inteligência (Coin) e Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer).
"Prendemos hoje 12 pessoas envolvidas com organizações criminosas e com longa e extensa ficha criminal. Alguns inclusive já haviam sido presos por crimes muito violentos", disse o secretário.
Dois presos foram apontados pela polícia como participantes diretos nos atos de violência. Um deles é considerado uma espécie de "braço técnico" da organização criminosa, operando um serviço provedor de Internet irregular. O outro atuava diretamente na articulação dos ataques e das atividades de extorsão.
Uma parte dos 37 mandados de busca e apreensão foi direcionado para empresas fornecedoras de serviços de Internet, que estariam funcionando de maneira irregular.
Segundo o delegado-geral da Polícia Civil do Ceará, Márcio Gutiérrez, as investigações vão esclarecer se os ilícitos encontrados são administrativos ou se há algum grau de envolvimento desses provedores com a organização criminosa.
"Uma parte desses provedores são totalmente clandestinos. São provedores totalmente irregulares, que não têm qualquer tipo de autorização, de cadastro para funcionar, e as investigações vão nos dizer qual o grau de comprometimento deles, se estão comprometidos com o grupo criminosos ou se estavam sendo utilizados por eles", explicou.
De acordo com o delegado, a operação é uma primeira grande resposta aos ataques. Ele disse que a perícia nos materiais apreendidos poderá resultar em novas prisões.
"Nós não vamos dar trégua a esses criminosos e vamos buscar um a um. Vamos atuar em várias frentes, em vários eixos, tanto para tirar de circulação esses criminosos perigosos, violentos, que trazem intranquilidade para a nossa sociedade, mas também para promover a asfixia financeira desses grupos. Nós vamos buscar o patrimônio deles", disse Gutiérrez.
O delegado titular da Draco, Alisson Gomes, disse que as investigações tiveram início ainda em fevereiro, para combater criminosos envolvidos nos episódios de violência a provedores de Internet na região metropolitana de Fortalezas, mais precisamente em Caucaia e São Gonçalo do Amarante, como extorsões em alguns bairros da capital, como Pirambu, Carlito Pamplona, Sapiranga, Quintino Cunha, dente outros bairros.
Abrint alerta para ataques
A Abrint, que representa uma série de provedores de Internet, publicou nesta quarta-feira, 12, um novo comunicado denunciando o aumento dos ataques criminosos contra provedores regionais de telecomunicações no Brasil, não só no Ceará, mas também no Rio de Janeiro e Pará.
Eles enfatizam que facções criminosas estão extorquindo empresas, exigindo pagamentos mensais e, em alguns casos, assumindo o controle da infraestrutura de Internet. Isso ameaça tanto a prestação do serviço quanto a segurança dos empresários e usuários.
O impacto inclui prejuízos financeiros, fechamento de provedores em certas regiões e estratégias de proteção, como a retirada de logotipos e fechamento de lojas físicas. Além disso, cidadãos acabam dependendo de redes controladas pelo crime organizado, expondo seus dados.
Em média, dado que a ativação de um único cliente em uma rede de fibra óptica gira em torno de R$ 2 mil, considerando equipamentos, mão de obra e infraestrutura de rede, e que muitas localidades são projetadas para atendimento e cobertura de 50% dos imóveis, o impacto financeiro e social desses crimes é ainda mais alarmante, informou a entidade.
Em algumas regiões, como a Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, provedores simplesmente deixaram de operar, pois não conseguiam lidar com a pressão das facções, aponta.
As autoridades já começaram a agir, como é o caso do Ceará e do Rio de Janeiro, mapeando essas ações criminosas. No entanto, a Abrint cobra uma resposta firme, defendendo a troca de informações entre órgãos de segurança e a atuação da Anatel para auxiliar tecnicamente as investigações.
Para a Abrint, a troca de informações entre os diversos entes do Sistema Único de Segurança Pública é fundamental. "Ainda não há clareza sobre as ações adotadas pelos governos estaduais e a concentração e planejamento de esforços são essenciais. Para a Abrint, esta crise e seu escalonamento não se resolve através de mudanças regulatórias pontuais: o universo das telecomunicações é refém da segurança pública", declararam.
A crise, em sua visão, revela a fragilidade da segurança pública e a dificuldade dos provedores em denunciar os crimes por medo de represálias. A Abrint reiterou que a conectividade é essencial e exige ações imediatas para impedir que o crime organizado avance sobre o setor de telecomunicações no País.
(Com informações da Agência Brasil)