Diretor da Algar Telecom defende acordos com OTTs

Diante do debate sobre neutralidade de rede ganhando ainda mais força com o posicionamento favorável do presidente norte-americano Barack Obama, acirram-se os ânimos entre setores: operadoras e provedores de Internet (ISPs) e provedores de conteúdo. O posicionamento do diretor de marketing e vendas da Algar Telecom, Osvaldo Carrijo, é claro: as empresas over-the-top (OTT) precisariam ter acordos com operadoras. Ele acredita que, no momento, ainda não há demanda de rede tão grande no Brasil quanto nos Estados Unidos para precisar de tais acordos, mas que, no futuro, "a boca do jacaré vai fechar".

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Ele explicou durante o Seminário TelComp 2014 nesta terça-feira, 11, que a ubiquidade será necessária para a Internet e que, sem a viabilização de investimentos com retorno, isso não seria possível. "Aprendemos tarde – cobrar por velocidade não é mais o caminho e o que gera o investimento pesado na rede é capacidade de transporte", declara.

Carrijo reconhece que o peso da conta cairia não necessariamente para as empresas OTT, mas para o usuário final. "Nós temos medo de dizer que o consumidor tem que pagar. Se o consumidor não paga, alguém está pagando por ele, e esse é um ponto que precisa ser discutido", defende. "Numa cadeia de valor, só faz sentido todos os elos ganharem dinheiro. Se um deles não receber, ele vai falir e todo mundo vai cair junto."

O diretor da Algar faz a comparação usual com a diferenciação na cobrança da entrega de pacotes de tamanhos diversos nos correios e diz que acredita que haverá uma mudança para a cobrança por volume "na medida em que fizermos o salto, e acho que vamos conseguir, por bem ou por mal – isso seria na consolidação de mercado e obrigando; e por bem se todo mundo ganha na cadeia de valor". Ele acredita que, quem quiser ter maior capacidade, vai acabar pagando. "Hoje o que é necessário é cobrar pelo volume de dados e, dessa maneira, as OTT vão acabar se adaptando".

Ele defende também que exista o modelo de negócios com cobrança por volume trafegado no serviço móvel, apesar de acreditar que o uso OTT na banda larga móvel ainda não chegou ao mesmo nível. Apesar de todas as declarações, Carrijo garante que é a favor da neutralidade no Marco Civil. "Sou favorável à neutralidade, só acho que o operador não pode só vender velocidade e tirar o tráfego (da equação). Se eu vender o volume, eu paro de prestar o serviço, claro. E o consumidor tem que pagar mais. E isso não tem problema", alega, comparando a cobrança com o modelo de telefonia pré-paga.

Lado das OTTs

A visão das OTTs como a Netflix sobre o debate de neutralidade de rede que acontece nos Estados Unidos é bem clara: não pode ser só na última milha. "A Comcast conseguiu um pedágio para que a gente acesse a rede. A última milha não é o único ponto de reflexão – imagina agora com (a fusão com) a Time Warner Cable. O consumidor é quem vai pagar a conta", destaca a diretora de políticas públicas da Netflix nos Estados Unidos, Paula K. Pinha.

Na visão dela, o consumidor paga pelo acesso e, quando contrata mais velocidade, está querendo ter maior capacidade para mais conteúdo. "Quando existem regras, como a que foi a proposta antiga de (Tom) Wheeler (chairman da Federal Communicatios Commission – FCC), com fast lane e pagamento pela prioridade, é contra o que o usuário quer. A Netflix pode pagar. Mas e a próxima Netflix?", indaga, referindo-se à primeira proposta da FCC de maio. Para ela, a reclassificação da banda larga como serviço de telecomunicações no Title II é bem-vinda. "A gente aplaude qualquer esforço do governo, do FCC, do Obama, ao incluir medidas que de fato vão se concretizar".

Republicanos

A advogada do Aspen Institute dos Estados Unidos, Nathalia Foditsch, acredita que a proposta poderá ser modificada no Congresso norte-americano. "Acho que eles vão ter que achar uma proposta híbrida de certa forma mesmo. Embora o Obama seja a favor da total reclassificação, como todo o congresso é republicano agora, tem essa perspectiva de que a influência é muito forte", opina. Essa proposta híbrida seria a de instituir dois modelos de neutralidade: um para o atacado, com livre possibilidade de acordo de troca de tráfego, e outro para a última milha, com garantia de neutralidade. Essa seria uma das propostas da FCC em outubro, mas não está claro se a entidade continua com esse plano, especialmente após o posicionamento do presidente Obama.

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