Para Ancine, verticalização no SeAC pode vir com condicionantes

Audiência pública na Comissão de Cultura da Câmara para discutir o caso Claro vs. Fox

A Comissão de Cultura da Câmara realizou nesta quinta, 11, a primeira audiência no Congresso sobre a cautelar da Anatel que suspendeu a oferta de canais lineares da Fox diretamente ao assinante, pela Internet. A audiência, convocada por requerimento do deputado Marcelo Calero (PPS/RJ), teve pouca presença de parlamentares e serviu para reforçar as posições já conhecidas. A novidade ficou por conta da manifestação, pela primeira vez, da Ancine sobre o caso. João Pinho, secretário executivo da agência de cinema e audiovisual, que regula o mercado de programação de TV paga, começou a sua apresentação destacando que, por se tratar de uma questão de distribuição, o assunto de fato seria da competência da Anatel.

Pinho ressaltou que existe hoje no mundo uma tendência à verticalização dos diferentes elos da cadeia audiovisual, sobretudo no ambiente da Internet. "Nesse ecossistema o que vemos é que tecnologias e conteúdos se colocam como diferenciais competitivos. São as variáveis que norteiam essa nova dinâmica", disse. Para ele, existe um ambiente legal complexo, e ressaltou que o Congresso "é o fórum adequado para esses debates". Na visão do secretário executivo da Ancine, existe um extremo do debate, que é a eliminação completa das limitações à verticalização hoje existentes na Lei do SeAC, mas "há caminhos intermediários, como a concentração com condicionantes, com incentivos aos conteúdos nacionais. Independente do caminho, permitindo ou não a verticalização", disse ele, lembrando que a Ancine estará disponível para fazer as análises que o Congresso julgar necessárias na discussão sobre o marco legal. Para ele, o "debate não precisa ser polarizado apenas entre permitir ou proibir, mas esta casa pode discutir diversas saídas que permitam o empreendedorismo e preservem o interesse das empresas nacionais". Ele destacou ainda que o conceito de linearidade, colocado pela Anatel na avaliação sobre enquadrar ou não a oferta da Fox como Serviço de Acesso Condicionado (SeAC), também é um conceito relativo. "O conceito de linearidade, no futuro, passa a ser individual".

Defesa da lei

Notícias relacionadas

Se a Ancine preferiu se posicionar de maneira neutra sobre uma eventual reforma do modelo legal brasileiro, a defesa do modelo estabelecido pela Lei do SeAC coube aos representantes do setor de produção independente, Mauro Garcia (Bravi) e Leonardo Edde (Sicav). 

Para Edde, "o debate regulatório precisa ser renovado, mas com a presença de todos os atores e com a perspectiva de que o mercado está em expansão", tendo a regulação como "indutora do desenvolvimento". Para ele, é possível "ser disruptivo nos novos modelos mas sem perder o que foi feito até aqui", ressaltando que a "base da produção audiovisual é a propriedade intelectual" e que qualquer discussão que não preserve isso tornará o mercado audiovisual brasileiro como mero prestador de serviço dos atores internacionais. Ele lembrou ainda que hoje, na TV paga, 18% de conteúdo é brasileiro, sendo 11% independente e 7% não-independente, contra uma cota prevista em lei de 3%. 

Para Mauro Garcia, a Lei do SeAC foi uma política que respeitou todos os setores e uniformizou as tecnologias da época "congregando todos os players". 

Ele ressaltou que "em nome da inovação, pode-se acabar provocando uma ruptura que afeta os empregos e a articulação de uma política estabelecida". Ele reconhece que com o avanço das tecnologias é necessária uma revisão legal, "mas isso não pode ser feito por remendos nem puxadinhos para resolver problemas particulares". Segundo Garcia, "a lei foi fruto de um debate amplo no legislativo", e uma nova discussão não pode trazer retrocessos ao desenvolvimento econômico do setor, mas sim "rever a questão central que é o conteúdo e a propriedades intelectual brasileiros nesse contexto de distribuição global".

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!