A Satellite 2025, que acontece esta semana em Washington (Estados Unidos), tem sido, para as operadoras de satélites que participam do evento, um palco positivo para os players tradicionais reforçarem suas posições e estratégias sem precisarem rivalizar com os novos entrantes – e nesse sentido mostraram alguns resultados concretos e avanços.
De uma maneira geral, o evento consagrou o modelo de multi-órbita, que há alguns anos vem sendo defendido pelas empresas, com a integração entre satélites geoestacionários, satélites de média órbita (MEO) e de órbita baixa (LEO). "Um dado que poucas pessoas estão atentas: a maior parte das RFPs que participamos já têm como requisito a oferta multi-órbita", diz David Wajsgras, CEO da Intelsat.
Ainda segundo o executivo, 30% das contratações da Intelsat também incluem serviços gerenciados, diz ele, apontando para a outra tendência estratégica seguida pelos operadores tradicionais.
Adel Al-Saleh, CEO da SES, reiterou uma informação que já havia trazido no primeiro dia do evento: nos mais de 100 navios em que a solução da SES combina Starlink com a constelação mPower (MEO) e capacidade geoestacionária, o tráfego em todas as redes cresceu, confirmando que a demanda híbrida existe.
Adel também lembra que existe uma percepção geral no mercado de que apenas a Starlink conquista novos clientes e desenvolve novas aplicações de uso, mas segundo ele isso é apenas uma questão de percepção. "Quando a Starlink ganha um contrato, há um grande destaque, mas o mesmo não acontece quando as outras operadoras fecham grandes parcerias, talvez porque isso não seja tão novidade. Mas o fato é que, basta olhar os balanços, toda as empresas de satélite estão crescendo".
Daniel Goldberg, CEO da Telesat, destaca que um passo importante que está sendo dado nesse sentido é a evolução das antenas eletrônicas híbridas, para recepção de diferentes redes de satélite. "Evoluiu muito, mas ainda precisa evoluir e estamos no caminho certo", disse.
Para Eve Berneke, CEO da Eutelsat Oneweb, o modelo de oferta combinada GEO e LEO está ganhando tração e as questões de integração estão ficando para trás, diz ela, destacando que as soluções têm funcionado de maneira mais fluida.
Para a executiva, os satélites geoestacionários seguem tendo um papel relevante na oferta de serviços satelitais, mas de uma maneira diferente, com foco em baixo custo por bit, confiabilidade e ampla cobertura. Outro papel importante, diz ela, é atender ao projetos em que aspectos de soberania sejam prioritários.
Onde estão as entrantes?
Uma característica da Satellite 2025 foi sem dúvida a ausência quase completa do grupo Starlink/SpaceX como protagonista dos debates. O grupo de Elon Musk, obviamente, ainda é o centro da maior parte das discussões e os seus movimentos são observados por toda a indústria de satélite, como não poderia ser diferente, mas os executivos do grupo não dão mais as caras no evento, com exceção de algumas participações pontuais em painéis de menor visibilidade.
Se no ano passado a CEO da SpaceX, Gwynne Shotwell, participou da mesa de abertura, ou se em anos anteriores o próprio Elon Musk circulava pelo evento e participava de debates, esse ano a Starlink é apenas o assunto, reproduzindo a lógica das grandes empresas de tecnologia que, em geral, preferem prestigiar seus próprios eventos, como acontece com Apple, Google e Meta, em detrimento de feiras e encontros setoriais.
Nem por isso a Starlink deixou de ser, mais uma vez, referência temática. As transformações que a proposta de Elon Musk trouxe ao mercado de satélites ainda ecoam, sobretudo pela ausência de grandes competidores com as mesmas característica: operação verticalizada com lançadores próprios, produção de equipamentos e prestação de serviços.
A Amazon Kuiper, que também teve protagonismo no ano passado com a apresentação de seu portfólio e estratégia, também participa de maneira comedida em 2025, talvez como um reflexo dos atrasos no seu cronograma de lançamento.