Dia da Internet Segura expõe desafios para ambiente online confiável

Foto: Pixabay

Durante evento em São Paulo organizado pelo NIC.br, o CGI.br e a Safernet Brasil em celebração do Dia Mundial da Internet Segura 2025, o diretor presidente da Safernet, Thiago Tavares, destacou um aumento nos atendimentos relacionados a problemas de segurança digital e saúde mental, destacando a necessidade de colaboração para o combate a crimes cibernéticos.

Em 2024,  o canal de denúncias (hotline) operado pela Safernet em parceria com o Ministério Público Federal recebeu 68.286 novas denúncias em 2024. Essas páginas estavam hospedadas em 10.138 domínios diferentes, com servidores conectados a 71 países. Do total de denúncias, 52.999 links (77,61%) foram reportados por suspeita de abuso sexual infantil.

Já o helpline da Safernet registrou um aumento de 26% nos atendimentos, totalizando 1.617 casos, em comparação com 1.285 em 2023. Os atendimentos a pessoas com problemas de saúde mental cresceram 79%, atingindo 204 casos, contra 114 no ano anterior. Essas questões ficaram em terceiro lugar no ranking geral de atendimentos, sendo superadas apenas pela exposição de imagens íntimas de mulheres (268 casos) e problemas com dados pessoais (246 casos).

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Plataformas

A Safernet revelou que o Telegram responde por 90,35% das denúncias envolvendo aplicativos de mensagem realizadas no Brasil. Em 2024, a plataforma ficou em segundo lugar entre os domínios com maior volume de denúncias de suspeita de abuso sexual infantil, contabilizando mais de 2,6 milhões de inscritos em grupos que compartilhavam esse tipo de conteúdo.

A empresa, ao ser notificada, limita-se a apagar as evidências, o que reforça a necessidade de maior cooperação internacional para o combate a crimes cibernéticos.

A Safernet também enfatizou o apoio de empresas e instituições, como o CGI e o Ministério Público Federal, além da parceria com o Google, representado no evento pela gerente de Relações Governamentais e Políticas Públicas do Google Brasil, Flávia Annenberg, que apoia campanhas desde 2015. A executiva anunciou que a empresa está preparando o lançamento de uma série de educação digital para pais e um projeto de experiência supervisionada para adolescentes ainda neste ano. 

Segurança e governança na Internet

Demi Getschko, presidente do NIC.br e conselheiro de notório saber do CGI.br, abordou pontos sobre a governança da Internet, ressaltando a importância da preservação do ambiente digital para atividades comerciais, técnicas e sociais. Ele destacou a complexidade crescente da rede, a necessidade de bom senso no combate a crimes cibernéticos e a importância de punir os perpetradores em vez de apenas remover conteúdos ilegais.

"O primeiro que eu vou fazer é não remover o conteúdo esquisito, senão nós perdemos a evidência. Então, mantenha aquilo lá para que a gente possa ter evidência. Temos que agir na direção do real perpetuador do problema. Às vezes nós esquecemos do do real causador do dano, que tem que ser, evidentemente, de alguma forma, penalizado por isso, para que não se estimule", defendeu.

Demi também alertou sobre os impactos da inteligência artificial, que pode levar a um acomodamento na forma como as pessoas buscam informações. Ele incentivou a participação ativa dos usuários na criação de um ambiente digital mais seguro e defendeu a política de identificação no registro de domínios no Brasil.

"Tem que ter um link que amarre você ao que você faz, de forma que se alguém tiver alguma dúvida, algum questionamento, fique incomodado com algo, que você esteja ligado [à ação]. E, evidentemente, se você frauda a informação de 'quem você é?', você tem que ser penalizado com isso", encerrou.

Iniciativas da Anatel

No evento, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) apresentou suas iniciativas para promover conectividade significativa e habilidades digitais no Brasil, com atenção especial a crianças, adolescentes e mulheres. A agência enfatizou que cerca de 20% da população ainda está desconectada e reforçou a importância de capacitação digital para uma inclusão plena.

Dados revelam uma disparidade de gênero no uso da Internet, com mulheres utilizando mais as redes sociais, enquanto os homens a empregam para fins profissionais. Para reduzir essa diferença, a Anatel pretende capacitar 5 milhões de mulheres em habilidades digitais intermediárias.

A agência também destacou projetos como "Meninas em TI", que incentiva a participação feminina no setor de tecnologia, e ações voltadas para a segurança digital de crianças e adolescentes, como o teatro "Vida de Influência" (sobre cyberbullying) e um concerto sobre o uso responsável das redes sociais para crianças de escolas públicas.

Parcerias estratégicas com o Ministério Público, a União Internacional de Telecomunicações e o setor privado foram apontadas como fundamentais para ampliar o impacto dessas iniciativas. A inclusão digital dos idosos também está entre as prioridades da Anatel, que busca desenvolver políticas para garantir que a cidadania digital seja acessível a todos.

A Anatel projeta ampliar suas parcerias e iniciativas em 2025, aumentando sua capilaridade para beneficiar mais crianças e reduzir as desigualdades digitais. A entidade reforçou a necessidade de capacitação digital como ferramenta essencial para garantir a inclusão e a segurança de todos na era digital.

Uso da Internet por crianças e adolescentes

Nos últimos dez anos, o uso da Internet por crianças e adolescentes no Brasil cresceu, impulsionado pela popularização de dispositivos móveis e pela ampliação do acesso digital.

Um novo estudo apresentado no evento pelo coordenador-geral de pesquisas do Cetic.br, Fábio Senne, utilizando dados inclusive sobre crianças de 0 a 8 anos, reforça a importância de políticas públicas baseadas em evidências para garantir uma experiência online segura e significativa para esse público.

Os resultados mostram que 82% das crianças de 6 a 8 anos já utilizam a Internet, enquanto esse percentual é de 71% entre 3 e 5 anos e 44% na faixa de 0 a 2 anos. O levantamento destaca a necessidade de decisões baseadas em dados concretos e pesquisas atualizadas sobre o comportamento digital de crianças e adolescentes.

"É fundamental termos evidências para tomar decisões em diversos setores", destaca e também ressalta a necessidade de dados desagregados por sexo, localização geográfica, origem étnica e condição socioeconômica.

A pesquisa aponta um crescimento significativo no número de usuários da Internet na faixa etária de 9 a 17 anos. A pandemia de COVID-19 foi um fator determinante para esse avanço, pois intensificou a digitalização das atividades escolares e de lazer. A inclusão digital também se ampliou para classes sociais menos favorecidas, reduzindo desigualdades que eram mais evidentes em 2015.

O celular se consolidou como o principal meio de acesso à Internet para crianças e adolescentes, especialmente entre aqueles de menor poder aquisitivo. Já em famílias de classes sociais mais altas, o uso de computadores e outros dispositivos ainda é relevante.

A inclusão de dados sobre crianças de 0 a 8 anos é um dos destaques do estudo. Esse fenômeno reforça a necessidade de políticas voltadas à educação digital desde a primeira infância.

O estudo também chama atenção para o conceito de "conectividade significativa", que vai além do simples acesso à Internet. A pesquisa aponta que, apesar de 85% dos brasileiros nessa faixa etária serem usuários de Internet, apenas 22% possuem condições adequadas de fruição da conectividade.

Além disso, as crianças e adolescentes brasileiros têm uma presença ativa em plataformas digitais, variando conforme a idade. Enquanto os mais novos (9 a 10 anos) utilizam majoritariamente o YouTube e WhatsApp, adolescentes entre 13 e 17 anos migraram para redes como Instagram e TikTok. Um dos desafios destacados é a verificação etária, uma vez que muitas crianças acessam conteúdo inapropriado para sua idade.

O estudo enfatiza que, além de garantir o acesso, é fundamental desenvolver habilidades digitais críticas para que crianças e adolescentes possam navegar de forma segura e produtiva. Sem esse preparo, há maior vulnerabilidade a desinformação, exposição a riscos e dificuldades na proteção da privacidade online.

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