Em termos aeronáuticos, lançar um balão de ensaio significa colocar na atmosfera um pequeno balão para se determinar a direção dos ventos. Já na linguagem jornalística, a expressão é usada para caracterizar uma informação propositadamente vazada a fim de verificar possíveis efeitos na opinião pública de uma determinada medida.
No início de novembro, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, anunciou em suas redes sociais que o governo brasileiro estava fechando uma parceria com o fundador da SpaceX, Tesla e Starlink, Elon Musk. Entre outros benefícios, o acordo permitiria a utilização dos cerca de 4500 satélites de baixa altitude das empresas citadas para levar conectividade principalmente para escolas e unidades de saúde instaladas em áreas remotas e rurais do país.
O arranjo também possibilitaria um avanço nos esforços pela preservação da Amazônia graças à oportunidade de usar os satélites e as constelações para monitorar a região e evitar o desmatamento ilegal e os incêndios florestais.
A notícia se espalhou rapidamente como bons ventos que poderiam mudar a vida de milhares de brasileiros, mas infelizmente, no dia seguinte, como um balão de ensaio nos dois sentidos, foi corrigida por uma explicação de que a parceria ainda estaria a quilômetros de distância.
O que houve na realidade foi apenas uma conversa embrionária sobre o que pode vir a ser uma parceria nestes termos, mas que aparentemente só seria concretizada num futuro ainda sem nem mesmo previsão de chegada.
Apesar da frustração momentânea, o fato é que este aparente balão de ensaio pode ser tornar um verdadeiro foguete no sentido de democratizar o acesso á internet para os brasileiros menos favorecidos.
Isso porque por um lado, as operadoras de telecomunicações têm dificuldade de conciliar em seus planejamentos comerciais o investimento necessário para ampliar as redes e oferecer serviços acessíveis para o usuário final nestas regiões. Por sua vez, outros serviços de banda larga via satélite ainda permanecem além do alcance financeiro das comunidades que vivem em regiões remotas dos países em desenvolvimento.
Fato é que independente do balão de ensaio recém-lançado, a Starlink já abriu um processo formal solicitando autorização para atuar no Brasil. Mas ela não está sozinha já que sua principal concorrente, a OneWeb, também adotou iniciativa semelhante
Quer seja por uma solução midiática, turbinada pela participação de um Elon Musk da vida, ou até mesmo utilizando soluções mais discretas, desenvolvidas por startups especializadas no assunto, o fato é que essa tecnologia parece ser a luz no fim do túnel.
Ao contrário dos chamados satélites geoestacionários (GEO), que ficam posicionados a uma distância de aproximadamente 36 mil quilômetros de distância da Terra, os de baixa órbita (LEO) operam entre 500 e 2.000 quilômetros e possibilitam utilizar dispositivos menores e mais baratos.
Essa menor distância permite uma viagem mais rápida dos dados, conhecida como latência. Considerando ainda que esses elementos transitam de forma mais ágil nas condições oferecidas pelo espaço (vácuo) do que nos cabos submarinos de fibra óptica, os satélites de baixa órbita são, juntamente com a tecnologia 5G, vistos como uma das tecnologias mais disruptivas dos próximos anos.
Os maiores entusiastas chegam a apontar a possibilidade de a conexão por satélites de baixa órbita chegar ao ponto de estabelecer uma cobertura total da área do planeta com internet rápida e de qualidade.
Considerando que o contingente de pessoas que hoje se encontram desprovidas de conectividade representa uma oportunidade de negócios altamente rentável, empreendedores pelo mundo inteiro buscam se aproveitar anunciando as mais diferentes soluções revolucionárias com base nos satélites de baixa órbita.
Resta às autoridades mapear as alternativas existentes, escolher as melhores opções com base no interesse do país e transformar o que hoje é só um balão de ensaio numa plataforma de inclusão que coloque os brasileiros em verdadeira igualdade de condições para se desenvolver.
*-Sobre o autor – Marcelo Leite é Diretor de Estratégia e Portfólio na Sencinet. As opiniões expressas nesse artigo não necessariamente refletem o ponto de vista de TELETIME.
É nesse contexto que eu questiono: valeu a pena o governo empenhar R$ 45 bilhões para as operadoras de telefonia colocarem um cabo subfluvial na Amazônia? Uma experiência já testada e não aprovada? E as tantas outras conexões (ninguém sabe quantas) vão ser colocadas Brasil afora com dinheiro público pago às grandes operadoras de telefonia? Estatizaram de novo as telecomunicações ou as empresas privadas vão mesmo investir dinheiro delas nas telecomunicações?
É nesse contexto que eu questiono: valeu a pena o governo empenhar R$ 45 bilhões para as operadoras de telefonia colocarem um cabo subfluvial na Amazônia? Uma experiência já testada e não aprovada? E as tantas outras conexões (ninguém sabe quantas) vão ser colocadas Brasil afora com dinheiro público pago às grandes operadoras de telefonia?