O mercado brasileiro pode conviver com players 100% digitais na prestação da banda larga via fibra óptica, a exemplo do que já ocorre no mercado móvel com as operadoras móveis virtuais (MVNOs). A avaliação é da V.tal, empresa de redes de fibra criada a partir da separação de ativos da Oi.
Diretor comercial (CCO) da nova operadora, Pedro Arakawa abordou a possibilidade em conversa com TELETIME. A criação de uma área na V.tal para edge computing, a chegada iminente de um novo controlador e a relação dos provedores regionais com ofertas de redes neutras também foram assuntos durante entrevista no Encontro Nacional da Abrint.
TELETIME – Alguns provedores regionais parecem ainda ter um pé atrás com o modelo de redes neutras. Este cenário está mudando?
Pedro Arakawa – Isso vai passar. Nós temos mais de 350 contratos com provedores regionais, muitos para serviços de atacado e duas dezenas, para serviços de rede neutra, incluindo a Vero e outros que ainda não foram revelados. Uma apreensão no início é natural, haja visto que nascemos da separação do ativo de infraestrutura da Oi, mas rapidamente, com controle passando para os fundos do BTG – que é o que deve acontecer em meados do primeiro trimestre do ano que vem -, vamos ter número muito mais expressivo de provedores regionais usando a rede. É um processo e temos muito otimismo.
Qual a natureza desses mais de 350 contratos ao lado dos provedores?
São majoritariamente links de atacado, transmissão, alta capacidade, porta IP, alguns até de fibra apagada. Boa parte nós herdamos na separação, mas tem parcela importante posterior à criação da unidade. Importante marcar que nós continuamos só com o que é ligado à fibra óptica; os produtos que não são ficaram com a Oi e nós não temos relação alguma.
Já os [nossos contratos] de rede neutra FTTH ou FTTp têm modelo de negócio de mensalidade por casa conectada e coparticipação na taxa de instalação, que é o produto mais novo e disruptivo frente ao que a indústria estava acostumada. O que chamamos de rede neutra é uma rede compartilhada com provedores regionais, nacionais e inclusive internacionais que têm interesse.
Qual o perfil destes eventuais clientes internacionais. Há possibilidade de negócio com empresas de fora do setor?
O que empresas internacionais mais buscam na V.tal é rede de última milha para conectar clientes B2B. Não vou citar nomes, mas temos alguns contratos com empresas internacionais famosas da Europa e América do Norte, que contratam a última milha da V.tal como complemento para atendimento de governo ou grandes empresas.
Mas agora, com uma rede neutra como a nossa, abrimos oportunidade para players puramente digitais prestarem serviço de banda larga via fibra com nossa infraestrutura, colocando a marca deles, canal de venda e relação com clientes. Posso chamar o modelo de FVNO [do inglês fixed virtual network operator]: é comum em rede móvel ter a MVNO, um operador de rede virtual que usa a rede de uma grande telco. Com a V.tal, abrimos oportunidade para FVNOs e temos conversa avançada com alguns players para entrarem no mercado de banda larga via fibra e usar exclusivamente a rede da V.tal. São players que não estão no mercado de telecomunicações, mas que veem essa oportunidade de, simplificando, atuar como um Nubank das telcos.
Isso se conecta de alguma forma com a proposta de provedores regionais segregarem a infraestrutura para M&A, mas manterem os clientes…
Acredito que sim. Na V.tal estamos em processo de troca de controle e quando ela for concluída, o futuro controlador pode ou não ter apetite para isso. Mas seja com a V.tal ou com outras, isso deve acontecer de forma interessante. Provedores regionais que têm sua infraestrutura, conectando ela em uma grande rede neutra em uma espécie de M&A, mas continuando com os clientes e inclusive aumentando a base a partir da rede neutra à disposição. É uma mudança cultural que é uma evolução do business. Boa parte já pensa na possibilidade, que era impensável até algum tempo atrás. São empresários muito bem-sucedidos que vão fazer uso do que estiver disponível para fazer mais.
Fornecer infraestrutura para players que pretendem atuar com edge computing também está nos planos?
Sim. Hoje temos dois pilares de produtos: a rede neutra e o portfólio de atacado, além de um terceiro pilar em desenvolvimento, de infraestrutura digital. A ideia é atender demandas de edge computing e exigências de micro latência. Isso está sendo pensado e pesquisado, o portfólio não está disponível, mas vai endereçar essas aplicações. As pessoas enxergam apenas alta velocidade no 5G, mas uma série de benefícios vem a reboque e isso passa por processamento na borda.
E na questão do reordenamento dos postes, qual será a contribuição das redes neutras? Atuar como explorador dos pontos de fixação pode ser interessante?
O melhor entendimento hoje é que nossa solução endereça esse ponto. Sendo rede neutra, o provedor não tem que se preocupar com poste, pois temos contrato com mais de 90 distribuidoras espalhadas no Brasil e já endereçamos. Na prática, usando a infraestrutura da V.tal, o tema dos postes estaria solucionado.
Quais são as expectativas para 2022 e o diferencial para concorrentes que estão ingressando no mesmo mercado?
Estamos super entusiasmados com o aumento das redes neutras no Brasil. Há vantagem para o consumidor final, governo, operadoras regionais e mesmo para o meio ambiente, pois endereçamos muitas questões do ESG ao não precisar pendurar vários cabos ou cavar vários dutos. O 5G vai alavancar o uso, já que não existe 5G sem fibra. Com nossa capilaridade em 2,3 mil municípios, vamos oferecer fibra para ganhadores do leilão. 2022 vai ser importante não só para materializar a criação da categoria de rede neutra, mas para viabilizar deployment do 5G.
Nossa capilaridade é mais que o dobro do segundo [player no segmento]. Já são 14 milhões de homes-passed (HPs) com fibra e um plano ambicioso, mas crível, de 32 milhões de HPs até 2025. Até mais importante que a capilaridade é que somos a única com solução fim a fim: desde a saída internacional do cabo, até backbone, conexão com IP, rede passiva, rede ativa, backhaul, última milha e inclusive, se o provedor quiser, a instalação no cliente. Dentre todas as redes neutras, inclusive FiBrasil, American Tower ou Phoenix Tower, a gente é a única com one stop shop, um contrato para toda a solução. Nos outros, será sempre necessário algum complemento. Hoje, somos a única que consegue fazer o fim a fim para um player 100% digital.