Alavancagem de ISPs pode acelerar consolidação na banda larga, aposta XP

Foto: Pixabay

O movimento de M&As entre os provedores de Internet de pequeno porte (os chamados ISPs) deve continuar a ter um papel fundamental na consolidação do segmento de telecomunicações. Segundo relatório da XP Investimentos, o alto endividamento dos ISPs privados pode acelerar esse processo.

A avaliação consta em análise assinada pelos analistas Bernardo Guttmann e Luís Chagas. "Os provedores de Internet listados possuem menor alavancagem financeira. Em um ambiente de altas taxas de juros, a alta alavancagem dos ISPs privados pode acelerar a consolidação do setor", aposta a XP, notando ainda o ambiente de inflação crescente.

Dessa forma, a XP aponta que ISPs privados têm operado com múltiplos acima de 3,0x na relação dívida líquida/Ebitda e mais próximos de 1,0x caixa/dívida de curto prazo. Já os provedores de capital aberto teriam uma alavancagem menor, com a Unifique tendo os melhores indicadores.

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A análise também avalia que o impacto dacordo de investimento entre o fundo australiano Macquarie e a Brasil Tecpar, aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Além de ser uma retomada das grandes operações, o deal revelou uma "grande discrepância" de valor entre os múltiplos de transação em negócios privados e os do mercado público.

"Esse acordo pode acelerar a consolidação do setor, já que a Macquarie poderia injetar um adicional de R$1,5 bilhão e um player relevante está surgindo", dizem os analistas. Os australianos devem inicialmente desembolsar R$ 300 milhões por uma fatia de 16,5% da Brasil Tecpar, mas contam com a opção de investir outros R$ 1,5 bilhão ao longo dos próximos anos.

Ondas

"Vale destacar que as grandes operadoras de telecomunicações ainda não participaram de transações significativas de M&A no setor de banda larga", lembram os analistas. No ano passado, a Vivo chegou a negociar a compra da Desktop, mas o negócio (que pode iniciar a terceira onda de consolidação do setor) não avançou.

A XP lembra que a primeira onda de fusões e aquisições do setor foi marcado pela compra dos micro provedores (aqueles com uma base de até 30 mil usuários), ao passo que a segunda onda foi marcada pela compra por companhias ainda maiores, como Unifique e Desktop.

Mas e se a Vivo comprasse a Desktop?

Essa é uma das perguntas que o relatório tenta responder. A XP diz que uma análise inicial nas 20 principais cidades onde a Desktop opera indica uma "complementaridade e potencial de reparação de mercado" em São Paulo para a Vivo. No entanto, os analistas ressalta que "há um possível risco de remédios regulatórios."

Isso porque nas 20 principais cidades onde está concentrada aproximadamente 50% da base de clientes da Desktop, uma fusão resultaria em um player com 50% de participação de mercado e um Índice Herfindahl-Hirschman (HHI) – métrica usada por órgãos reguladores para medir a concentração de mercado de empresas – acima de 2.500, sinalizando potencial de reparação de mercado e alta concentração.

Um mercado é considerado competitivo quando seu HHI chega até a 1.500, entre 1.500 a 2.500, é visto como moderadamente concentrado, e acima de 2.500, como altamente concentrado.

"Embora seja necessário um refinamento adicional da análise de concentração, já que a participação de mercado e o HHI por si só não fornecem um quadro completo (por exemplo, o HHI da capital paulista está acima de 2.500, mas há concorrência saudável), esse valor inicial pode levantar preocupações sobre possíveis discussões de concentração e remédios por parte do Cade", diz a XP. Nas demais cidades, o entendimento é que o risco é consideravelmente menor.

Em um cenário de fusão, a nova companhia se tornaria em 19 das 20 principais cidades onde a Desktop opera. Desse total, a empresa teria um market share acima de 50%. "Embora o HHI atual já esteja acima de 2.500 e a sobreposição real possa variar devido a diferenças na infraestrutura de rede, não descartamos a possibilidade de que medidas corretivas sejam exigidas em um eventual processo de fusão", aponta o documento.

Demanda concentrada entre ISPs

Ainda que os provedores listados na Bolsa operem em diversas cidades, as empresas possuem uma base de consumidores com cerca de 50% provenientes de apenas de 20 cidades, lembra a XP. São os casos de Brisanet, Unifique e Desktop.

No caso da Brisanet, a empresa tem penetração em 537 municípios, sendo os maiores deles as capitais João Pessoa (PB), Fortaleza (CE) e Natal (RN). Do total de usuários, 59% dos acessos da companhia são das 20 maiores cidades. Outros 33% vêm dos acessos entre 21 a 100 municípios, enquanto apenas 7% vêm das cidades restantes.

Por outro lado, a Desktop possui presença em 194 cidades, tendo Campinas (SP), Sumaré (SP) e Praia Grande (SP) responsáveis por mais acessos. Na companhia, 51% dos acessos são oriundos das 20 maiores cidades, ao passo que outros 42% vêm de 21 a 100 cidades e 6% das restantes.

Em um panorama similar, a Unifique tem penetração em 476 municípios. Entretanto, 50% dos seus acessos originados nas 20 maiores cidades – as três principais são Joinville (SC), Blumenau (SC) e Jaraguá do Sul (SC). Ainda, cerca de 40% vêm de 21 a 100 cidades e 10% responde pelos municípios restantes.

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