Globo questiona demonstrações do padrão DVB em São Paulo

A engenheira da TV Globo Liliana Nakonechnyj, diretora de telecomunicações da empresa, enviou a este noticiário o seguinte texto com suas impressões sobre os testes realizados pelo padrão DVB em São Paulo:

?Um depoimento sobre a demonstração da Coalizão DVB

Tive a oportunidade de presenciar a demonstração que está sendo conduzida pela Coalizão DVB na USP, desde ontem, e gostaria de compartilhar algumas dúvidas.

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O DVB permite trocar payload por robustez, mas obter ambos é impossível. Para demonstrar os cenários de Flexibilidade Máxima e de Definição Máxima, e obter um payload de 18 Mbps no canal de 6 MHz, está sendo utilizada uma configuração de modulação que não confere a menor robustez (64QAM com FEC 3/4). Essa configuração torna obrigatório o uso de antenas externas para que as pessoas possam ver televisão em suas casas, e as imagens ficam congeladas caso o liquidificador seja ligado. Na Inglaterra, foi abandonada uma configuração mais robusta que essa (64QAM 2/3), pois era frágil demais para servir a população de lá.

Não é por acaso que, para a demonstração, foram instalados um transmissor de 100W e, a cerca de 20 metros de distância, uma antena externa, que capta os sinais para levá-los ao receptor. Só a recepção portátil é feita com antena interna, integrada ao aparelho, e, por isso, ocorrem congelamentos sucessivos das imagens.

Com um transmissor de 100W e o sistema de modulação do ISDB-T, uma cidade inteira de 50 mil habitantes poderia ser bem coberta. O mesmo payload de 18Mbps seria captado nas residências, sem investimento adicional do cidadão em antenas externas, seja para ver um HDTV similar à que estará disponível nas mídias pagas ou para ver múltiplas programações – não importa se comerciais, educativas ou públicas. E a mobilidade/portabilidade também poderia ser oferecida, no mesmo canal e de forma gratuita.

Com o sistema DVB, o payload de 18 Mbps não será, nunca, atingido na prática. E, para que possa ser oferecido o HDTV com definição razoável (a máxima não será atingida) no canal de 6MHz, haverá que abrir mão do oferecimento gratuito da mobilidade – devido ao pedágio que terá que ser pago às operadoras de telecomunicações para que elas façam a transmissão para a portabilidade em suas redes. Concluindo: o DVB impõe limitações na qualidade e na multiplicidade e variedade do que o cidadão pode receber gratuitamente e impossibilita o acesso grátis à mobilidade. Surgem, então, algumas perguntas: Onde está a tão falada democratização que seria promovida pelo sistema DVB? E sua flexibilidade? E, uma vez que a escolha do ISDB não impede que as empresas de telecomunicações venham a utilizar suas redes para a distribuição de conteúdos sob demanda para seus assinantes, mas a escolha do DVB impede que as emissoras ofereçam mobilidade aos cidadãos, de que monopólio estamos falando?

Além disso, não poderia deixar de mencionar as excelentes intervenções de dois pesquisadores na apresentação: A do professor Guido Lemos (UFPB), que explicou que o middleware que desenvolveu serve para qualquer sistema, uma vez que a interatividade não tem qualquer relação com sistema de modulação, ou seja, a inclusão digital é absolutamente independente de sistema tecnológico de transmissão. A outra intervenção, a do professor Marcelo Zuffo (LSI-USP), quando perguntou aos membros da Coalizão DVB o porquê de sua união e seu chamado à discussão só agora, e ressaltou a importância da união entre emissoras, indústria e comunidade científica para um processo bem sucedido de implantação da televisão digital no Brasil.

Liliana Nakonechnyj
Diretora de Telecomunicações ? TV Globo?

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