Em painel que discutiu políticas nacionais para atrair a construção de data centers no Brasil, durante seminário organizado pela Anatel e o seu Conselho Consultivo, o assessor especial do Ministro da Fazenda, Igor Marchesini Ferreira, disse que atualmente, é 60% mais caro contratar um serviço de data center no Brasil do que na Virginia, nos EUA.
Segundo o representante da Fazenda, o Brasil hoje não consegue atender a própria necessidade de serviços de data center. "Temos 60% da carga digital do Brasil rodando fora do País. Arriscaria que poucos serviços públicos no Brasil conseguem rodar fora dos data centers da Virgínia (EUA)".
"Nesse sentido, rodamos aqui apenas o que é de baixa latência. O restante, é fora", disse Igor Marchesini Ferreira, durante o debate. A partir desse cenário, a pasta começou a elaborar medidas para mitigar o problema, explicou.
Cenário adequado
Igor Marchesini Ferreira afirmou que o Brasil começou a implementar ações para criar um cenário favorável para atrais a instalação de data center em seu território. A primeira que ele citou foi a questão tributária. "A essência da reforma aprovada já nos leva a uma desoneração completa de capex, a partir de 2027, que permite desoneração de diversas taxas", disse.
Outro aspecto importante que mereceu destaque na manifestação de Igor Marchesini foi a criação de um ambiente regulatório favorável para este setor. "É importante que o Brasil tenha uma regulação compatível com a tecnologia e com o seu desenvolvimento. Temos ai uma oportunidade do Brasil ganhar espaço no mundo do data center, já que regular IA está em um debate global", explicou.
Exemplo do que está em debate, além do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), é o projeto de lei que cria o marco legal de IA no Brasil, o PL 2.338/.2023. A proposta já foi aprovada pelo senadores e agora está em debate na Câmara dos Deputados, e foi apresentado pelo ministro Fernando Haddad para o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), como uma das prioridades econômicas do governo.
Mão-de-obra
Marcelo Motta, Diretor de Cibersegurança e Soluções da Huawei, outro debatedor do painel, chamou a atenção para a necessidade de se ter mão-de-obra qualificada para lidar com data center.
"Quando olhamos do ponto de vista Brasil e competição, temos gargalos como a falta de mão-de-obra. Então, se quisermos nos consolidar como um hub, precisamos de mão-de-obra preparada, para dar vazão a esses projetos que exigem desenvolvimento de IA".
Ele também disse que com a necessidade de mais energia para alimentar esses data centers, o Brasil, por possuir energia em abundância, obtém um cenário de vantagem.
Crise climática
Um dos pontos altos do debate foi trazido por Júlia Catão Dias, Coordenadora do programa de Consumo Responsável e Sustentável do Idec. Segundo a especialista, o Brasil tem colocado como vantagem a alta produção de energia limpa como fonte para alimentar as estruturas de data centers, porém, é preciso ter mais atenção sobre como de fato está a produção dessa energia no País.
Ela chamou a atenção para o fato de que mesmo no Brasil, a propagada matriz limpa está em crise. Em 2023, as hidrelétricas produziram 18% a menos energia do que em anos anteriores. Ela citou o caso da de Itaipu, que em 2024, produziu menos energia desde que ela começou a funcionar. Isso tudo por conta da crise climática e sócio ambiental que afeta o mundo, incluído o Brasil.
"A chegada dos data centers pode acirrar essa crise ambiental. A questão climática é sempre apontada como um entrave para o desenvolvimento econômico. É importante sempre apontar que o aspecto das crises climáticas socioambientais deve estar no centro dos debates quando o assunto é data center", disse a representante do Idec.
Ela disse que para evitar uma acentuação da crise climática com a instalação de data center, é preciso criar algumas salvaguardas. "Por isso, devemos ter algumas salvaguardas para isso. Isso envolve colocar que qualquer cadeia de fornecedores, por exemplo, seja livre de combustíveis fósseis. O respeito à opinião das comunidades e moradores das áreas onde serão construídos esses data centers é outro aspecto. Deve-se respeitar as opiniões e posições das comunidades onde elas serão instaladas", disse.
O uso de energia renovável é outro fator. "Entendemos também que o uso de energia renovável por data center deve levar em consideração que sua construção ou viabilidade também deve estar a serviço e acessível das populações onde elas são instaladas. Temos muitas comunidades ao lado de hidrelétricas que tem dificuldade de acessar energia", disse Julia Dias.
Por fim, ela chamou a atenção para o fato de que órgão ambientais não estão participando deste debate. "Precisamos construir que a transformação digital seja um vetor de igualdade, e não de aumento das desigualdades ambientais existentes atualmente", afirmou.