Fusão pode reforçar discurso de Dantas contra o governo

Em setembro de 2007, conforme registrou este noticiário, o grupo de Daniel Dantas disse à Justiça de Nova York, sem apresentar nenhuma prova, que foi afastado do controle das empresas de telecomunicações por conta de uma perseguição política do PT e porque haveria uma agenda oculta envolvendo os interesses da construtora Andrade Gutierrez e a Telemar para uma eventual fusão com a Brasil Telecom. Dantas e o seu Opportunity, sempre que precisam se defender de alguma acusação, levantam a tese de que são vítimas de uma conspiração do PT e do governo petista, em um grande complô que envolveria corrupção, favorecimento político e espionagem. Coincidentemente, é justamente disso que o próprio grupo de Daniel Dantas é acusado em inúmeros processos judiciais e administrativos.
Pois se a operação de fusão da Brasil Telecom com a Oi, na forma com que está sendo discutida, vier a acontecer, Dantas certamente dirá que estava certo. Vale lembrar que nas acusações feitas em Nova York, o Opportunity Fund declarou: "A conduta dos executivos dos fundos de pensão tinha como objetivo remover o Banco Opportunity em suporte ao objetivo de facções do governo, que esperavam usurpar o controle da joint venture para que pudessem satisfazer objetivos políticos e acordos. Em particular, o controle da Brasil Telecom permitiria aos gestores dos fundos de pensão tomar iniciativas em benefício de objetivos políticos e financiadores privilegiados e aliados de certos membros do governo, como a Telemar. Um dos acionistas controladores da Telemar é o principal doador do PT e teria benefícios de uma transação politicamente motivada entre a Brasil Telecom e a Telemar que os fundos de pensão e facções políticas do governo estariam buscando. Essa transação não só é do interesse da Brasil Telecom como está em desacordo com a Lei". As acusações, vale repetir, são parte da defesa de Dantas em um processo movido pelo Citibank por fraude, quebra de dever fiduciário e enriquecimento indevido. O banco norte-americano pede pelo menos US$ 300 milhões em indenizações nesta ação. Segundo fonte graduada do governo, esse tipo de reação de Dantas é esperada e o banqueiro, se quiser ter alguma credibilidade em suas acusações, terá que provar o que diz. Lembrando que ao juiz de Nova York Dantas não apresentou, ainda, nenhuma prova concreta.

Favorecimento

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Os ataques de Dantas contra o governo, a Telemar e a Andrade Gutierrez vão ainda mais longe: " (…) os fundos de pensão abriram discussões com a Telemar, onde os fundos têm participação de controle. Como já dissemos, a venda da Brasil Telecom para a Telemar é proibida. Os fundos estão, contudo, buscando a venda da Brasil Telecom para indivíduos politicamente favorecidos e entidades, tais como os controladores da Telemar". Este noticiário lembra, contudo, que foi ele, Dantas, quem primeiro falou em uma fusão entre Telemar e Brasil Telecom, em uma entrevista ao Jornal Valor, em 2001. Na época, ele era controlador da BrT. Dantas também tentou entrar no controle da Telemar adquirindo a participação da Inepar, ato considerado irregular pela Anatel, que determinou a perda dos poderes de controle destas ações adquiridas pelo Opportunity em 1999.
Em suas acusações, o Opportunity diz que "contratou um ex-diretor de um dos acionistas da Telemar como consultor para explicar as relações promíscuas e inter-relacionadas entre um controlador da Telemar, membros do governo e seu 'modus operandi' impróprio para financiamento de campanha e benefícios políticos. Esse consultor passou muitos detalhes sobre como esse esquema funcionava. Por exemplo, ele passou informações sobre como o esquema funcionava no contexto desde as telecomunicações até conspirações na indústria de energia nuclear, em que uma usina nuclear da qual ele havia participado das discussões havia sido recentemente aprovada". É sabido que a Andrade Gutierrez é a empresa ligada à Telemar que tem interesse na construção da usina nuclear de Angra-3. Já o misterioso consultor, que o Opportunity não diz quem é, poderia ser Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom Participações até 2005. Braz foi contratado na época por Dantas e anteriormente havia sido executivo da Andrade Gutierrez.

Filho do presidente

As acusações feitas em setembro de 2007 pelo Opportunity contra uma eventual fusão entre Telemar e Brasil Telecom se estendem, indiretamente, à família do presidente Lula: "a Telemar armou a mudança das leis que proíbem a venda da Brasil Telecom para a Telemar tentando influenciar o governo Brasileiro por meio de um investimento com sobrepreço muito favorável (e corrupto) na empresa na qual o filho do Presidente do Brasil tinha participação. O esquema, no fim, desabou quando o investimento da Telemar na empresa do filho do presidente e os esforços para mudar a lei permitindo a Telemar comprar a Brasil Telecom vieram a público", diz Dantas ao juiz Lewis Kaplan, da Justiça de Nova York. As acusações se referem ao caso da empresa Gamecorp, em que o filho do presidente Lula tem participação. A Gamecorp foi oferecida também para a Brasil Telecom. Para finalizar suas acusações, Dantas diz que "o Citibank e os esforços dos fundos CVC para avançar com o objetivo político da venda da Brasil Telecom para a Telemar continuam até hoje. Por exemplo, novos esforços para mudar a lei que proíbe a transação da Telemar estão em andamento e esperam que o esquema político seja reavivado". Em setembro, quando TELETIME News publicou pela primeira vez o teor das acusações de Dantas, a Telemar e Andrade Gutierrez preferiram não comentar as acusações.
Ressalte-se que em outras ocasiões, Dantas também usou declarações feitas na Justiça de Nova York por alguma de suas empresas ou aliados para fazer pressão política sobre o governo. Por exemplo, na época da crise do mensalão, Dantas colocou um documento na Justiça de Nova York em que dizia ter sido extorquido pelo PT. A acusação apareceu às vésperas do depoimento dado pelo banqueiro à CPMI dos Correios. Dessa vez, é possível que Dantas utilize a eventual conclusão da fusão entre BrT e Oi como reforço à sua tese de que é vítima de uma conspiração política. A íntegra do documento apresentado por Dantas à Justiça de Nova York está disponível em www.teletime.com.br/arquivos/oppf_answer.zip .

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