Além da crise mundial de semicondutores e da aparente apatia do governo para políticas industriais, outra questão enfrentada pela indústria eletroeletrônica é o mercado cinza desses telefones celulares. De acordo com a Abinee, citando dados do IDC e do fórum nacional antiprataria, atualmente 8% da base brasileira desses dispositivos é irregular, o que significa quase 4 milhões de aparelhos. Com isso, estima-se uma evasão fiscal "em torno de R$ 5 bilhões", segundo o primeiro secretário geral da entidade, Luiz Claudio Carneiro, da Motorola.
Em coletiva de imprensa virtual nesta quinta, 9, Carneiro afirmou que o Brasil é um mercado importante para a indústria de celulares, e enxerga com naturalidade a chegada de fabricantes, incluindo as marcas chinesas. "A Abinee dá incentivos, isso é positivo para o mercado, não tem nenhum problema. Nosso problema é o mercado cinza – esses telefones, sim, são problema", afirma.
Em especial, ele destaca que os aparelhos não homologados pela Anatel são geralmente comercializados livremente em market places. "São telefones irregulares, que entraram sem pagar impostos", descreve o secretário da Abinee e representante da Motorola.
De acordo com Carneiro, houve algum avanço com a recente política da agência, "que teve novo entendimento jurídico de que poderia fazer fiscalização física nos centros de distribuição dos market places". O Plano de Ação de Combate à Pirataria (PACP) da Anatel apreendeu, até novembro, 2,7 milhões de produtos irregulares, com valor estimado em R$ 330 milhões.
O mercado cinza de celulares já crescia mesmo antes da pandemia, diante da alta do dólar e da crise econômica dos últimos anos no País. Ainda em 2015, a própria indústria de semicondutores – por meio da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi) – já alertava para a tendência do crescimento dos aparelhos irregulares com o fim de incentivos da Lei do Bem para compra de tablets, smartphones e computadores.