Um debate na Futurecom 2024 com executivos das principais empresas de redes neutras de fibra do País evidenciou uma mudança estratégica importante no segmento – que tirou o pé na ampliação das redes, passando a investir no aumento de capacidade ou na diversificação. Com nuances, o cenário foi relatado por FiBrasil, I-Systems e V.tal.
No caso desta última – a maior rede neutra do Brasil em capilaridade -, boa parte dos investimentos atuais têm sido destinados ao robustecimento da rede, salvo alguns recursos para construção mirando "tapar buracos", relatou o recém-apontado CEO da V.tal, Felipe Campos.
Hoje, a companhia soma 22 milhões de casas passadas (HPs) com fibra em todo o País. Com a decisão de parar de ampliar a rede para focar no aprimoramento tecnológico, ficou para trás a meta de 34 milhões de HPs até 2025 que a empresa tinha na época de sua criação.
O sentimento, porém, segue sendo de otimismo com as perspectivas de negócios, relata Campos. Segundo ele, a operação de inquilinos de rede (desconsiderado a Oi, cliente âncora da V.tal) tem crescido a taxas de 10% ao mês. "Se eles fossem um provedor isolado, seria o que mais cresce no País", indicou Campos.
A V.tal reporta 80 contratos no segmento de redes neutras, incluindo parcerias com TIM, Sky e Vero que estariam atingindo volume relevante de HPs contratadas. Além disso, a demanda do mercado por menores latências justificaria a preferência pela modernização de redes instaladas.
Em paralelo, a empresa tem diversificado atuação e crescido no segmento de data centers – além de ter acordo para comprar a base de assinantes de banda larga da cliente Oi. Como resultado dos movimentos, a empresa passará por reestruturação e se dividirá em três frentes, com Campos assumindo a liderança do negócio de rede neutra FTTH e atacado.
FiBrasil
No caso da FiBrasil, são reportadas 4,6 milhões de HPs com fibra em 151 cidades e contratos com mais de 40 provedores de redes, apontou o CEO da rede neutra, André Kriger. A empresa tem a Vivo como sócia e principal cliente; a FiBrasil chegou a ter meta de 6 milhões de HPs, agora deixada para trás.
Ao TELETIME, Kriger explicou que o foco no momento também é rentabilizar as redes já construídas e cobrir eventuais lacunas. Nas cidades atendidas pela FiBrasil ainda há diversas oportunidades para crescimento vertical (em prédios), em oportunidade que segue sendo capturada. E a abordagem atual também não significa que a empresa não voltará a construir redes no futuro, indica o CEO.
Segundo Kriger, o mercado neutro vive hoje um período de amadurecimento, após um estágio inicial de "encantamento" com o modelo. "Alguns estão esperando para ver o que vai acontecer, mas muitos já entendem que investimento compartilhado dá muito mais retorno", declarou o CEO da FiBrasil.
Nesta linha, a empresa calcula que um provedor novo que opte por redes neutras poderia economizar um terço do valor investido, na comparação com o modelo tradicional de redes proprietárias. "Se você está lançando fibra, está jogando dinheiro fora. A rede neutra vai sair ganhando sempre", argumentou Kriger.
Vale notar que a FiBrasil não tem a diversificação de serviços como aposta, focando na rede neutra como único produto. O foco da empresa é o FTTP (fibra até o poste), com o provedor cliente ficando responsável pela ligação final até a casa do cliente.
I-Systems
Já a I-Systems tem apostado na diversificação de ofertas, até por conta da integração de áreas estratégicas da empresa com a controladora IHS (operadora de torres e infraestrutura que criou a rede neutra, tendo a TIM como sócia).
Segundo o CEO da I-Systems, Fernando Barros, a combinação de forças já está permitindo a entrega de novas soluções, como infraestrutura móvel a nível de rua (street level solutions, ou SLS), computação de borda (edge computing) e outros. Especialmente no SLS, a empresa relata uma demanda crescente.
"Vemos oportunidade interessante não apenas no mercado tradicional, mas também em produtos inovadores", afirmou Barros, durante a Futurecom. A empresa tem inclusive se aproximado do ecossistema de inovação como forma de explorar novas oportunidades.
Já no mercado de redes neutras a companhia relata 8 milhões de HPs, sendo que quase 7 milhões estariam em fibra e o restante, ainda, baseada em cobre. Ao contrário das demais neutras, a empresa não paralisou o crescimento da rede, ainda que tenha diminuído o ritmo e também apostado na modernização de redes, indicou Barros ao TELETIME.
Nos últimos dois anos foram feitas 2 milhões de HPs pela empresa. Deste total, o resultado deste ano deve rondar os 500 mil HPs, em valor que também é a perspectiva para o ano que vem. Essa expansão envolve a substituição da rede de cobre por fibra, mas também a construção em novas áreas, relata o CEO.
"Estamos fazendo gradativamente e cuidadosamente, para evitar o overbuilding", resumiu Barros, relatando que hoje não é possível construir a rede e "esperar o cliente chegar". Ao todo, a empresa relata 30 contratos de rede neutra além do cliente âncora (a TIM) e também considera um trunfo a atuação forte no estado de São Paulo, diferente das principais rivais.