As redes privativas estão desempenhando papel crucial na transformação digital de setores industriais na América Latina. E nesse sentido, a estratégia da Nokia é expandir soluções para indústrias como mineração, agricultura e portos nesta região – considerada "extremamente importante" para a companhia.
Em entrevista ao TELETIME, o presidente da divisão de serviços de nuvem e rede (CNS) da companhia, Raghav Sahgal, afirmou que o mercado latino-americano, com foco especial no Brasil, é central para a estratégia da Nokia.
"O Brasil é um mercado muito importante para a Nokia. É o maior mercado da América Latina, então é crítico. Temos uma base forte de clientes por aí com as operadoras existentes com nossas soluções. Acredito que vamos expandir mais ainda no Brasil", contou o presidente da CNS.
Segundo o executivo, a empresa também tem se concentrado em oferecer plataformas de borda para empresas dentro da abordagem para redes privativas. "A América Latina está adotando essa tecnologia mais rapidamente, especialmente nos setores industriais como mineração e agricultura", afirmou Sahgal.
Para o presidente da Nokia CNS, a conectividade é apenas um dos casos de uso possíveis. Por isso, a empresa aposta no desenvolvimento de plataformas que abram caminho para um ecossistema mais integrado.
Investimentos e oportunidades
No segundo trimestre deste ano, a divisão de serviços de rede e cloud da Nokia recuou 17%. Com isso, o faturamento do grupo de negócios foi de 615 milhões de euros, contra os 742 milhões registrados no mesmo período do ano passado. A queda acompanhou um mercado menos aquecido, que também mexeu com a receita de concorrentes.
Mas apesar do cenário econômico desafiador, Sahgal afirmou que a CNS mantém uma estratégia voltada para o crescimento em áreas-chave, como as redes de campus corporativo (grandes fábricas, por exemplo) e redes privativas.
"O negócio de redes de campus corporativo é uma área-chave de investimento global para nós. Na América Latina, em particular, somos claramente líderes de mercado", afirmou o executivo. Atualmente, a Nokia tem 760 clientes de redes privativas sem fio em todo o mundo, dos quais 10% são latino-americanos.
A expansão do 5G na América Latina também está na mira da Nokia, pois é vista como uma das maiores oportunidades para a companhia. No mês passado, inclusive, foi confirmado que a companhia fechou dois acordos de peso voltados à implantação da quinta geração móvel na América Latina.
Um deles foi com a TIM, que vai usar a tecnologia de redes de acesso por rádio (RAN) da Nokia em 15 estados brasileiros. A operadora ainda vai utilizar o sistema de gerenciamento de redes inteligente MantaRay da Nokia, que incorpora funcionalidades de inteligência artificial para um monitoramento aprimorado da rede. Já na Argentina, a finlandesa fechou acordo para implantar 5G da Claro.
Desagregação e automação
De acordo com Sahgal, a conectividade 5G não se limita a apenas fornecer uma conexão rápida, mas traz a possibilidade de desagregar a rede em diferentes camadas, utilizando tecnologia baseada em nuvem para suportar novas aplicações.
"A automação se torna essencial para gerenciar essa complexidade. Estamos investindo fortemente em como automatizar essas redes complexas e conectá-las ao ecossistema de diferentes tipos de aplicações e desenvolvimentos", contou o executivo.
Isso inclui, além da conectividade tradicional, soluções que integram Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial (IA) e cloud – áreas nas quais a Nokia "tem concentrado esforços para fornecer uma plataforma mais robusta" para clientes industriais, disse Sahgal.
Network as Code
A plataforma Network as Code da Nokia, por exemplo, já está sendo adotada por cerca de 20 operadoras, de acordo com o presidente da CNS. Essa ferramenta é um portal para que os desenvolvedores obtenham interfaces de programação de aplicativos (APIs) que serão utilizadas para automação de processos.
A Network as Code também traz novos casos de uso, como a prevenção de fraudes e otimização de operações em indústrias. Segundo Sahgal, a Nokia tem visto uma adoção crescente dessa plataforma. "Vai muito além da conectividade", destacou. Esses casos de uso, no entanto, ainda estão em estágios considerados iniciais.
"Acreditamos que isso [o Network as Code] é a única forma de conectar a rede ao ecossistema de casos de uso que precisam de capacidades como as oferecidas pelo 5G. A implementação do 5G Standalone será crucial para isso, especialmente na América Latina, onde permitirá a conexão ao ecossistema mais amplo", afirmou o presidente.
Expansão do 5G
Embora a adoção de redes privativas e novas soluções tecnológicas esteja avançando, Sahgal reconheceu que ainda há desafios no contexto latino-americano, especialmente em relação à implementação do 5G. O Brasil foi o primeiro, em julho de 2022. Mas alguns vizinhos ainda estão em fases iniciais de implementação ou nem lançaram serviços comerciais dessa tecnologia – como Bolívia, Paraguai e Equador, por exemplo.
"Eles veem as APIs como um passo muito importante que precisam dar, mas também precisam implementar suas redes 5G primeiro para conseguir ter esse valor", afirmou. Apesar disso, o executivo disse acreditar que a região está bem posicionada para aproveitar essas novas tecnologias e expandir o uso de soluções inovadoras nos próximos anos.