A melhora dos fundamentos das operadoras de telecom brasileiras listadas na Bolsa já é mensurável; no entanto, os investidores ainda se mostram relutantes em aumentar a exposição aos papéis do setor. A avaliação consta em um relatório do Bank of America (BofA) divulgado na última sexta-feira, 6.
De acordo com os analistas Arthur Pereira e Lucas Brendim, há uma desconexão entre o pagamento de dividendos acima de dois dígitos, os valuations atrativos (cerca de 10% de taxa de retorno real e preço das companhias sobre Ebitda em torno de 4 vezes) e as posições ainda conservadoras de investidores.
Por um lado, o distanciamento é resultado de crescimento lento e rendimentos pouco inspiradores oferecidos pelas companhias nos anos anteriores. Por outro, mesmo com a melhora recente na performance, ainda há certo ceticismo sobre quanto tempo o momento operacional positivo deve durar, afirma o relatório.
No entanto, Pereira e Brendim ressaltam que as teles serão, provavelmente, as maiores pagadoras de dividendos entre as ações brasileiras, acima da faixa entre terceira e quarta colocada nos anos anteriores; e que as empresas pagadoras de dividendos de outros segmentos têm riscos maiores do que as operadoras.
Além disso, o documento entende que o cenário de risco na relação entre taxas de juros e inflação é favorável às teles, com a possibilidade das taxas reais mais baixas superarem os reajustes de preços mais elevados.
Contribuem para a percepção otimista a redução do número de incumbentes de quatro para três players com a saída da Oi e o maior tempo gasto pelos brasileiros com o uso de telas. Outros aspectos mencionados pelo BofA são o churn (a taxa de cancelamento) menor e a expansão da base total de clientes.
"O impulso operacional crescente das telecomunicações já não é uma surpresa. Os serviços móveis têm crescido de 3% e 5% em termos reais (versus queda entre 3% e 5% na Taxa de Crescimento Anual Composta entre 2014 e 2021), a geração de fluxo de caixa será de cerca de 10% de 2024 a 2026 e os rendimentos de dividendos devem ser em torno de 10% em 2025 e 2026, com possibilidade de alta", afirma o documento.
Competição
Os analistas não esquecem, porém, dos riscos. Para o BofA, a principal dúvida dos investidores é sobre a competição acirrada, fator que limitou o crescimento da receita no passado.
Para os próximos anos, o banco avalia que o risco de um novo entrante a nível nacional é "limitado", mas pondera que vários ISPs adquiriram o espectro de 5G no último leilão e passaram a implementar suas redes móveis. "Embora ainda seja cedo, vemos risco de esses players regionais ganharem algum espaço no mercado móvel."
Mesmo com o avanço dos provedores, as grandes operadoras parecem estar fazendo a lição de casa. No caso da Vivo, os analistas frisam que o negócio de banda larga representou 30% das receitas em 2023, revertendo a pressão originada de tecnologias legadas.
Com o lançamento da fibra, a empresa tem 93% da sua base atual de banda larga fibrada, na comparação com os 30% cinco anos atrás. A tecnologia representa 40% das receitas consolidadas da tele.
"Nos próximos anos, esperamos que o crescimento fixo da Vivo acelere, à medida que a fibra mantém um ritmo sólido e as tecnologias legadas continuam a ser desativadas. Também esperamos que os aumentos de preços no segmento retornem em algum momento, dado o ritmo mais lento de expansão da concorrência. A longo prazo, esperamos que tanto a banda larga quanto o móvel cresçam a taxas semelhantes", diz o relatório.
A Vivo também tem avançado tanto em negócios digitais no B2B, com a oferta de soluções de nuvem e segurança cibernética, quanto no B2C, com serviços financeiros, parcerias em educação e serviços públicos, além de soluções de IoT.
O B2B digital respondeu por 6,5% das receitas da Vivo em 2023, aumento de 25% em relação ao ano anterior, ao passo que o B2C digital totalizou 2,5% das receitas, alta de 40% no mesmo período.
Sobre a TIM, Brendim e Pereira lembram que quase a totalidade das receitas vem do móvel, com a banda larga representando apenas 5% dos números consolidados de 2023.
Eles ressaltam que tele italiana também possui iniciativas semelhantes nos segmentos de novos negócios B2B digital e B2C, mas com menor visibilidade sobre o potencial desses movimentos.
Assim, a TIM é tida como a principal beneficiária do impulso atual nos serviços móveis (que respondem por 96% das receitas) e deve sustentar os dividendos na casa de 10% em 2025 e 2026. Os analistas estimam que a operadora esteja negociando a quatro vezes o valor da empresa versus Ebitda para 2025, com taxa de retorno real de 10%.
De uma forma geral, o entendimento é que a TIM pode apresentar um retorno de 25% ante o preço atual na Bolsa, enquanto o potencial de ganho para as ações da Vivo é estimado em 26%. O preço-alvo do Bofa para as ações da TIM é de R$ 21,5, e de R$ 66, para a Vivo.
Olá, boa tarde! Aonde acho o relatório do Bank of America mencionado na reportagem?