Abril diz que manterá sua rede de TV aberta em funcionamento a partir de outubro

O grupo Abril avisou algumas operadoras de TV por assinatura que hoje distribuem o sinal da MTV Brasil que, a partir do dia 1º de outubro, passará a transmitir no canal de TV aberta, no lugar da programação atual, "programação da Abril Radiodifusão, de conteúdo informativo e cultural".

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Procurada, a Abril pela primeira vez confirmou que manterá o conteúdo no ar com essas características. Como já havia sido anunciado, a partir de 30 de setembro o grupo perde o direito ao uso da marca MTV e um novo canal com a marca passa a ser comercializado exclusivamente para a TV paga pela Viacom.

Não se sabe exatamente o que será esse conteúdo da Abril Radiodifusão e nem o quanto ele se adaptará ao line-up das operadoras de TV por assinatura que hoje levam a MTV Brasil. Para a Abril, é essencial manter o canal em funcionamento. Se o deixar mais de 72 horas fora do ar fica sujeita, inclusive, à cassação da outorga.

Mas a Abril tem dois problemas: não pode perder o canal de radiodifusão (que está sendo vendido) e não pode perder a rede de afiliadas, que é o que assegura a sua distribuição junto às operadoras de TV por assinatura, pois a torna um canal nacional obrigatório para fins de must carry.

Para não perder a outorga da geradora em São Paulo, basta manter um canal no ar, com qualquer conteúdo que atenda às exigências constitucionais (por isso a Abril disse na carta aos operadores e também a este noticiário, em nota oficial, que será conteúdo "informativo e cultural"). Especula-se que a emissora possa resgatar os conteúdos dos extintos canais FizTV e Ideal, que o grupo montou em 2007, mas que acabaram fechados por não conseguirem distribuição. O FizTV era um canal de conteúdo gerado pelos usuários e o Ideal tinha conteúdo voltado para gestão empresarial, negócios e administração. Outra possibilidade seria a transmissão do BRZ, canal de música e agronegócios que a Abril mantém na banda C desde que tirou a MTV das parabólicas em 2012.

Ainda que faça isso, a Abril tem outro problema: não pode perder a rede de afiliadas e retransmissoras que tem hoje. A Abril chegou a ter cerca de 70 repetidoras e retransmissoras e algumas geradoras afiliadas importantes, em cidades como Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Recife. No caso das afiliadas, a rede já vinha se desfazendo há algum tempo.

Se perder essa rede, o que deve acontecer caso a programação deixe de ser interessante comercialmente, vai, automaticamente, perder a distribuição na TV por assinatura, que hoje é uma característica importante para a Abril Radiodifusão.

Isso porque, para se manter no line-up das operadoras de DTH, precisa ter um percentual mínimo de cobertura em todas as regiões do Brasil. Quando foi classificada pela Anatel como passível de distribuição em todas as plataformas de TV paga na regra do must carry, a Abril tinha uma cobertura de 67 milhões de habitantes. A regulamentação da Anatel só assegura essa distribuição para canais que tenham presença em todas as regiões geopolíticas do País e que cubram um terço da população. Existe grande pressão dos operadores de TV paga contra essa regra, e a Anatel certamente será forçada a reavaliar a classificação da Abril Radiodifusão assim que o sinal da MTV sair do ar.

Negociação

A encruzilhada para a Abril é que, perdendo distribuição, o valor da concessão de TV que tem em São Paulo cai. Sabe-se que a Abril contratou o grupo JP Morgan para tentar vender a outorga. Fez isso depois de não conseguir os R$ 550 milhões que julgava valer a TV. Recebeu, segundo fontes de mercado, uma única proposta, de cerca de R$ 350 milhões, do grupo do pastor RR Soares, que também tenta comprar as outorgas de TVA do grupo.

A Abril não gostaria de ver sua emissora vendida para uma igreja evangélica. Acontece que o próprio JP Morgan teria concluído que o grupo dificilmente conseguiria compradores "laicos" dispostos a pagar mais de R$ 220 milhões.

Um candidato natural seria o grupo da Rede Mundial de Comunicações (dono de várias rádios, entre elas a Kiss FM), que no ano passado comprou três outorgas de TVA da Abril e montou a Top TV, mas não se sabe se este grupo teria fôlego para um investimento desse tamanho, ainda mais com a incerteza sobre a distribuição, seja pelas afiliadas, seja na TV paga. A tendência, segundo fontes que observam as negociações, é que a Abril acabe cedendo e venda para o grupo de RR Soares, mas não é uma operação sem risco, pois a Igreja da Graça tem outorga de TV paga (a operação de DTH Nossa TV) e, portanto, não pode ser radiodifusora, pelas regras da Lei do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC). Precisaria encontrar uma engenharia societária aceitável, o que envolve um risco político e regulatório.

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