Consumo de energia de empresas digitais cresce 12% ao ano

Transformação Digital e Sustentabilidade
Foto: Divulgação

O consumo de energia e as emissões de carbono das empresas digitais continuam em ascensão. É o que revela o novo relatório Greening Digital Companies 2025, publicado pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) e pela World Benchmarking Alliance (WBA). O estudo analisa emissões, consumo energético e compromissos climáticos de 200 das empresas mais influentes do setor digital, com base em dados de 2023.

Entre 2017 e 2023, o consumo global de eletricidade por centros de dados cresceu 12% ao ano, quatro vezes mais rápido do que o aumento da produção global de eletricidade no mesmo período.

Ao mesmo tempo, Amazon, Microsoft, Alphabet e Meta, por exemplo, viram suas emissões operacionais (Escopos 1 e 2) aumentarem em 150% apenas entre 2020 e 2023.

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Essa escalada ocorre num momento em que a UIT, agência da ONU especializada em telecomunicações e tecnologias da informação, estabelece metas ambiciosas para o período 2024-2027. Entre elas está a melhoria significativa da contribuição das TICs para a ação climática, incluindo o aumento da taxa global de reciclagem de lixo eletrônico e a redução de emissões do setor.

A análise é baseada na lista SDG2000 da WBA, que identifica as 2 mil empresas mais influentes para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Para este relatório, foi selecionado um subconjunto de 200 companhias digitais, distribuídas entre três grandes subdivisões:

  • TI, Software e Serviços (66 empresas)

  • Telecomunicações (75 empresas)

  • Eletrônica (59 empresas)

Geograficamente, a maioria está sediada na Ásia Oriental e Pacífico (67) e na América do Norte (66).

Dessas empresas, 164 relataram consumo de eletricidade, que somou 581 terawatts-hora (TWh), representando 2,1% do total global. E dez empresas concentram quase metade de todas as emissões operacionais (Escopos 1 e 2) do setor, incluindo China Mobile, Amazon, Samsung, China Telecom, Alphabet, Microsoft e TSMC.

Metas

Apesar disso, nem todas têm metas robustas. Apenas 108 das 200 empresas tiveram suas metas de curto prazo validadas pela iniciativa Science Based Targets (SBTi). E entre essas, quase 30% não estão no caminho certo para atingi-las — 18 empresas, inclusive, viram suas emissões crescerem desde o ano base.

O relatório destaca um paradoxo cada vez mais evidente: o setor digital é essencial para a inovação verde e a eficiência energética global, no entanto ele mesmo está se tornando um dos principais vetores de consumo energético e emissão de carbono.

Contrastes nas emissões por setor

O perfil de emissões varia amplamente entre os subsectores:

  • Eletrônica: Apresenta a maior pegada de carbono, com 768,6 milhões de toneladas de CO² equivalente (tCO²e) vindas do Escopo 3, ligadas à cadeia de suprimentos. Isso corresponde a 85% das emissões totais do setor.

  • TI, Software e Serviços: Apesar das menores emissões operacionais, o Escopo 3 também domina (222 milhões tCO²e, ou 70% do total), refletindo o impacto de data centers terceirizados e do uso dos produtos pelos usuários.

  • Telecomunicações: Possui o maior consumo de eletricidade entre os setores, com 112,5 milhões tCO²e no Escopo 2. O Escopo 3 representa 50% das emissões.

As emissões do Escopo 3, que incluem impactos indiretos como o uso dos produtos vendidos e as emissões da cadeia de suprimentos, são as mais difíceis de monitorar e reduzir. Em 2023, 110 empresas relataram metas para esse escopo, mas apenas 100 tiveram validação do SBTi.

Algumas dessas metas são limitadas a categorias específicas ou utilizam métricas de intensidade (emissões por receita), o que pode mascarar o crescimento real das emissões absolutas.

Empresas como Alibaba, Xiaomi, Palantir, MercadoLibre, Spotify, Baidu, Oracle e TikTok (Bytedance) aparecem com desempenho insatisfatório ou nulo. Muitas não divulgam dados suficientes ou sequer apresentam metas de redução de emissões, afirma o estudo.

Alguns avanços

Apesar dos desafios, o setor também mostra avanços importantes. O número de empresas com metas climáticas validadas aumentou, assim como aquelas que publicam relatórios ambientais autônomos.

Além disso, mais companhias vêm adotando energia 100% renovável — 23 em 2023, contra 16 no ano anterior — e o número de empresas com compromissos net-zero alcançou 90, sendo 41 delas com prazo até 2050. O objetivo net-zero é alcançar uma situação em que as emissões de gases de efeito estufa (GEE) liberadas pela atividade humana sejam equilibradas pelas medidas que removem esses gases da atmosfera, resultando numa emissão líquida zero.

Na avaliação geral de 2023, 94 empresas atingiram 50% ou mais da pontuação máxima, contra 70 no ano anterior. Apenas 22 empresas pontuaram zero. O desempenho positivo se concentra em empresas como Vodafone, Cisco, Adobe, Meta, Apple, Netflix, Nokia e Accenture.

Apesar dos avanços, os dados reforçam a urgência de equilibrar inovação digital com responsabilidade ambiental. Com o crescimento contínuo da inteligência artificial, armazenamento em nuvem e outras tecnologias intensivas em dados, o desafio de descarbonizar o setor digital se torna cada vez mais crítico.

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