Para fornecedores, 5G precisará ir além da neutralidade de rede

Não é de hoje que se fala em 5G e em todas as características que a nova tecnologia promete, como latência mínima, velocidades na casa dos gigabits por segundo e uma oferta de conexão ubíqua. Mas agora a quinta geração de redes móveis virou argumento para a indústria de fornecedores de rede forçar reguladores a liberar modelos de negócio alternativos, como a navegação gratuita, mesmo que em detrimento da neutralidade de rede. A ideia é permitir que operadoras possam fazer mais investimentos, sobretudo porque a tecnologia demandará quantidade de espectro sem precedentes. Esse foi um dos argumentos mais fortes no debate sobre o 5G durante a Consumer Electronics Show (CES 2015), que acontece em Las Vegas nesta semana.

"Um dos problemas é a neutralidade de rede: se o governo (dos Estados Unidos) escolher ter uma superregulação numa rede, transformando modelos alternativos em ilegais, vai limitar o que se pode fazer", declarou o diretor de tecnologia e políticas da Cisco, Jeffrey Campbell, referindo-se à proposta do presidente Barack Obama de reclassificar a banda larga como Title II com princípios da Open Internet. "Seria um grande erro o governo restringir a tecnologia, acho que precisamos permitir a inovação", defende.

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Isso significa, na prática, permitir às operadoras gerarem receita de maneira mais diversa, com perfil de consumo de navegação não mais limitado aos pacotes de quantidade de tráfego. "Pagar pelo uso é uma forma de direcionar o custo para as pessoas que estão gerando esse custo. Não me parece ser irracional em um mundo 5G incluir modelos de negócio com consumo por uso", defende Campbell.

O diretor chefe de tecnologia (CTO) da Ericsson, Ulf Ewaldsson, corrobora. Para ele, o regulador "terá que permitir que operadoras possam ter outros modelos de negócio".  Ele argumenta que a neutralidade de rede influenciará o crescimento econômico e a inovação, que seria levada principalmente pela demanda do consumidor, e não por imposição da indústria.

Espectro

Isso é reforçado pela necessidade de liberar frequências para uso, em especial nas faixas mais altas, que permitiriam a disponibilização de grandes blocos de quase 1 GHz, por exemplo. "Será necessário mais espectro dedicado à banda larga, e algumas coisas parecem promissoras e até fáceis, mas não é como se o espectro estivesse lá esperando… E tem também uma enorme demanda em frequências mais baixas, com possibilidade limitada", justifica Jeffrey Campbell, da Cisco. "Vamos precisar melhorar a rede, mas também melhorar as heterogêneas (HetNets), para que dispositivos se conectem de múltiplas formas. Não é apenas uma rede altamente rápida, mas será o que você quer, quando quiser e onde quiser."

É o que argumenta o vice-presidente de assuntos regulatórios da Samsung, John Godfrey. Em testes, a companhia sul-coreana conseguiu velocidade de 7,5 Gbps com um receptor parado e 1,2 Gbps dentro de um carro em movimento a 110 km/h. Para tanto, a empresa usou bloco de 800 MHz na faixa de 28 GHz, usando uma tecnologia que direciona a radiofrequência como um raio para o ponto desejado em vez de propagar de forma aleatória, gerando conflito com outras propagações. "Acho que o mais empolgante é o potencial de ter a alta capacidade com altas frequências – você tem de ir aonde o espectro está, e o lugar para achar esse espectro contínuo é na (faixa do) gigahertz", declara. Ele reconhece, no entanto, o desafio de obter blocos tão grandes. "Os 800 MHz vão ser complicados – o leilão (da AWS3) da FCC só deu dezenas de megahertz", compara.

Além de precisar achar tanto espectro em faixas ultra-altas, as agências reguladoras vão ter o desafio de procurar a harmonização do espectro com outros mercados. "A harmonização de espectro é importante, e os padrões também. A chave é usar a indústria: a solução precisa surgir naturalmente no mercado, e as operadoras precisam poder fazer investimentos para a capacidade do 5G", diz. "A barreira será se não houver participação da indústria", argumenta.

Ewaldsson, da Ericsson, lembra que o assunto será discutido na World Radio Communication Conference (WRCC-15), evento da União Internacional de Telecomunicações (UIT) que acontece em Genebra, na Suíça, em novembro. "Vamos ter que discutir isso na WRCC e esperar pela (faixa de) 6 GHz, observando diferentes opções de frequência. Mas, abaixo de 6 GHz, podemos usar LTE e LTE-Advanced. Vamos continuar a desenvolver agregação com mais portadoras, aumentando a frequência e até usando banda não licenciada, com o conceito de frequência âncora, que aumenta a eficiência", declara.

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