Um dos projetos de lei em tramitação no Congresso que foi mais intensamente discutido nos últimos anos e que teria o maior potencial de alterar as regras do setor de telecomunicações irá, provavelmente, para a fila do plenário da Câmara com remotas chances de ser votado, pelo menos no curto prazo.
Esta semana, três recursos apresentados por três deputados diferentes impediram a aprovação em caráter terminativo do substitutivo do deputado Jorge Tadeu Mudalen (DEM/SP) ao PL 7.406/2014. Na verdade, não é apenas um projeto, mas um conjunto de nada menos do que 29 proposições diferentes que tratam de telecomunicações e que foram apensadas ao projeto principal vindo do Senado.
Entre os apensados está o PL 6.789/2013, do deputado Jerônimo Goergen (PT/RS), que chegou a ser chamado de "Novo Marco Legal das Telecomunicações" pela quantidade de mudanças promovidas. O projeto recebeu muitas contribuições das empresas de telecomunicações e era considerado a grande aposta de uma reforma total do marco setorial caso o o PLC 79/2016, do deputado Daniel Vilela (PMDB/GO), que foi aprovado no Senado esta semana, não vingasse.
O substitutivo previa, entre outras coisas, as seguintes medidas vistas como positivas pelas empresas de telecomunicações:
* A aprovação automática para a instalação de antenas no prazo de 60 dias caso a autoridade municipal não se manifeste (silêncio positivo);
* Possibilidade de uso do Fust para projetos de acesso a serviços públicos e privados;
* Uso do Fust para subsídio de serviços;
* Obrigação de aplicação de pelo menos 75% dos recursos do Fust compulsoriamente pelo governo;
* Exclusão expressa da radiodifusão da cobrança do Fust (a exemplo do que fez o projeto de Daniel Vilela);
* Acaba com a prestação de serviços em regime público, que só pode ser criado por lei;
* Garantia de 20% do Fistel para o orçamento da Anatel;
* Obrigação de instalação de dutos e estruturas de passagem em obras de calçamento e pavimentação de ruas e redes de energia;
Mas havia uma série de medidas vistas de maneira negativa pelas empresas de telecom, com grande potencial de aumentar o ônus regulatório. Entre elas, estão:
* Conversão das outorgas do Serviço Especial de TV por Assinatura em UHF (TVA) em outorgas de radiodifusão;
* Obrigação de oferta de planos sem franquia;
*Proibição de cobrança de tarifas de roaming;
* Garantia de acessos aos serviços de telecomunicações em qualquer ponto do território;
* Aviso em caso de cobrança de tarifas de interconexão;
* Não suspensão do serviço prestado em regime público;
* Consulta em tempo real do histórico de uso dos serviços;
* Aceite formal do usuário para mudança de planos de serviços;
* Prazo mínimo de validade dos créditos de 30 dias renovados a qualquer recarga;
* Indicação de dois dos cinco conselheiros da Anatel pelo Congresso;
* Resolução de qualquer problema por meio de aplicativo;
* Cancelamento automático e em até 48 horas;
Ao final, o substitutivo de Mudalen fica na fila até que mais de 3 mil projetos sejam votados, ou até que algum deputado resolva fazê-lo andar com um pedido de urgência.