Surpresa do leilão de 5G ao comprar um dos blocos regionais de 3,5 GH por meio da Cloud2U, o Grupo Greatek tem planos para os próximos anos que envolvem um rede 5G neutra para empresas regionais, parcerias para atendimento de obrigações em fibra e o desejo de capturar parte da demanda pela limpeza da faixa de 3,5 GHz.
Parte da estratégia da entrante foi explicada ao TELETIME pelo gerente de negócios do grupo, Anderson Paiva Ferreira. A Cloud2U adquiriu 80 MHz nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo por R$ 405,1 milhões; a maior parte do valor será paga em obrigações de investimento e R$ 15 milhões, em dinheiro.
TELETIME – Vocês foram apontados como surpresa do leilão de 5G. Desde quando o projeto da participação estava em discussão interna?
Anderson Paiva – Temos esse projeto desde que surgiu a questão da interferência do 5G na banda C. Como atuamos com produtos para recepção via satélite, para mitigar interferências, começamos a entender do assunto e comentar, até que ele virou realidade com o edital. Diria que nos últimos dois anos estamos colocando essa pauta internamente. Também temos relação com institutos de pesquisa, como o Inatel, e estamos em contato desde o começo da elaboração da literatura do 5G, há dez anos. Então nós já estávamos sondando.
Atuar na liberação do 3,5 GHz e migração da TVRO como fornecedora de equipamentos ou serviços faz parte dos planos? [Como vencedora de um dos lotes regionais na faixa, a empresa também tem cadeira no Gaispi, que coordenará o processo de limpeza].
Estamos passando por um remodelamento para virar Grupo Greatek. A primeira marca é a própria Greatek, que vai continuar existindo, crescendo e adicionando produtos. Já fornecemos LNBs para operadoras como Sky, Claro, e temos inclusive LNBs profissionais, para diversas faixas de espectro. Esse segmento continua até com mais força com essa questão da mitigação. Somos credenciados na Seja Digital [que executou processo similar para limpeza do 700 MHz] e, se não participarmos de forma direta, indo no cliente e instalando, vamos participar indiretamente, fornecendo para quem está instalando. O mercado vai ter muita demanda e necessidade.
Qual vai ser a marca que encabeçará a entrada no mercado de prestação de serviços?
A Cloud2U vai ficar por trás de toda a operação de rede neutra. A decisão do modelo está feita, apenas o plano de negócios e o cronograma que ainda estamos fechando, mas o modelo comercial vai ser rede neutra. Há milhares de provedores regionais pelo País que não puderam participar do leilão. O 5G vem para ser virada de chave, então interessa para eles complementar ao que existe hoje em FTTH; em determinado momento será atrativo adicionar 5G para oferta de Internet tipo FWA, ou melhorar o tíquete médio com telefonia móvel. Sabemos como os provedores trabalham, da malha que eles construíram e foi com esse retrato que entramos para participar do edital. E a rede neutra não será só para os ISPs da base da carteira, mas também para outros.
Quantos provedores vocês têm na carteira e qual a relação com eles? Já há clientes alinhados?
A nível nacional temos mais de 2 mil ISPs que são clientes recorrentes. Na relação, somos distribuidor e fabricante, mas a Greatek também tem ofertas voltadas para homologação e customização de produtos, inclusive de software e roteadores. Não temos clientes encaminhados ainda, mas já começamos a ser acionados desde que vencemos.
Vocês pretendem utilizar infraestrutura já existente de provedores parceiros para obrigações de backhaul em fibra óptica?
Essa possibilidade a gente entende que é certa. Já há backbone montado nas regiões e o que precisar ser construído [de backhaul], a gente vai complementar. Vamos acionar esses provedores e tentar unir essa rede. Na terça-feira [9] vai ter a escolha dos compromissos de backhaul com a Anatel e vamos entender melhor, para possivelmente ficar com esse mapeamento pronto.
Quanto às ERBs 5G, a empresa pretende utilizar parceiros ou instalar infraestrutura por conta própria?
Pensamos em dois modelos: um igual ao usado para a fibra e outro, de a gente ter as torres. Temos parcerias de distribuição com a Huawei e grandes fabricantes de transmissão, então de certa forma a Greatek vai ser facilitadora. A definição será muito específica de cada região de Minas, de Rio ou do Espírito Santo. Algumas delas já estarão aptas, mas em outras, teremos que fazer alguma coisa.
O grupo também considera unir a oferta de rede neutra 5G com a de equipamentos para os provedores clientes?
Pensamos sim em unir. No momento ainda não temos a linha 5G comercializada, mas em desenvolvimento. Pensamos em CPEs, repetidores, equipamentos para acesso dentro da casa dos assinantes. São muitas as possibilidades. Somos uma empresa que está fazendo 25 anos, 100% nacional, com sede em São José dos Campos (SP) e plantas em Ilhéus (BA) e outra em Extrema (MG). Inclusive, em breve devemos fazer alguma [ativação 5G para o ambiente fabril] lá.