Estudo da organização InternetLab em parceria com a Rede de Conhecimento Social mostra que a utilização do WhatsApp pelos brasileiros mudou depois das eleições presidenciais de 2018. A preocupação em divulgar desinformação (fake News) figura como uma das principais motivações para a mudança de postura. Dos mais 3.100 participantes da pesquisa, metade afirmou ter notado mudanças nas regras de convivência de grupos, sobre o que poderia ou não ser compartilhado neles. Isso é fruto polarização política evidenciada de 2018.
A pesquisa, que teve como respondente mais de 3.100 pessoas com +16 anos e que utiliza internet, também mostrou que 71% dos respondentes afirmaram ter mudado de comportamento no aplicativo depois das eleições de 2018, até mesmo se comedindo para dar respostas em grupos.
As organizações coletaram dados de um painel online e registraram 3.113 entrevistas entre 7 e 16 de dezembro de 2020. O público considerado foi de maiores de 16 anos com acesso à internet e uso de WhatsApp. A margem de erro de é de 3 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. A amostra é proporcional ao universo pesquisado, segundo os autores.
Houve também uma pesquisa qualitativa prévia com 7 grupos de discussão de 7 ou 8 pessoas, de várias regiões do Brasil.
Preocupação com desinformação
A pesquisa mostra que o WhastApp comanda o mercado de mensagens no Brasil. Isso torna a plataforma um grande espaço de circulação e fonte de informações para muitos brasileiros.
Os grupos, segundo a pesquisa, representam o principal local interno de interação dos usuários do aplicativo: pelo menos 95% dos usuários do aplicativo estão em pelo menos um.
Nesse sentido, a mudança de postura dos usuários após das eleições de 2018, aponta a pesquisa, tem como uma das motivações o receio de transmitir mensagens desinformativas (fake News) involuntariamente.
A pesquisa do InternetLab diz que os usuários do aplicativo criaram uma ética própria em relação a "notícias falsas", comportamento que foi notado tanto entre pessoas que se declaram de esquerda quanto de direita.
"Essa ética pessoal vai depender de como a pessoa lê o mundo ou o ecossistema de informação em que ela está inserida", disse Heloisa Massaro, coordenadora do estudo e integrante do InternetLab. "Então o que significa checar fonte é diferente de pessoa para pessoa. Não necessariamente a emergência de uma ética por si só é algo positivo ou negativo. O que é essa ética depende muito de onde a pessoa está situada", avaliou.
Mesmo assim, a pesquisa mostra que 30% dos respondentes admitiram, ao menos parcialmente, ter repassado notícias sem averiguar a origem da informação. Respondentes à direita se mostraram mais dispostos a admitir essa postura – 40% reconheceram ter feito isso, ao passo que apenas 25% de esquerda o fizeram.
Para provar que a polarização não vai embora tão cedo no Zap, 1 em cada 3 respondentes disse compartilhar conteúdo potencialmente ofensivo quando acredita em uma ideia, na linha do chamado "viés de confirmação", tão presente no cenário de desinformação.
Subgrupos com os "parças"
Outro comportamento comum entre os brasileiros ouvidos na pesquisa foi a divisão de grupos maiores em grupos menores, entre pessoas que compartilham do mesmo posicionamento político ou que estariam dispostas a falar sobre política.
Ao menos 42% dos consultados pela pesquisa afirmaram ter visto a divisão de grupos de amigos em grupos menores. "A pessoa de uma certa forma continua no grupo grande, mas busca uma cumplicidade num grupinho menor para comentar o próprio grupo grande", disse Fernanda Império, da Rede Conhecimento Social.
Império e Massaro apontam que a subdivisão de grupos também foi notada de maneira semelhante entre pessoas de esquerda e de direita, segundo as pesquisadoras.
Em diversos momentos durante os grupos de discussão – um dos métodos utilizados nesta pesquisa – não era possível distinguir o posicionamento político da pessoa pelo comportamento que ela narrava, aponta Massaro na pesquisa.
Confira aqui o estudo.