Enquanto a Anatel prepara novos leilões de espectro para 5G, empresas de satélite (incluindo a Viasat, a Globalstar e associadas da Abrasat) pedem que a agência adie as licitações e crie regras mais claras para diminuir impactos no setor.
Os pedidos foram feitos pelas empresas em consulta pública realizada pela autarquia sobre o planejamento de editais de espectro da agência no curto, médio e longo prazo. As contribuições foram disponibilizados pela Anatel nesta terça-feira, 8.
Embora atuem em faixas diferentes do espectro, as operadoras de satélites concordam que a implantação acelerada de redes móveis terrestres pode causar interferência em serviços críticos, como comunicações de emergência, aviação e transmissão de TV.
Associação que representa operadoras de satélite no Brasil, a Abrasat pediu (em contribuição conjunta com o Sindisat) que a Anatel adie o leilão de 6 GHz para 2028 a 2032 e mantenha a faixa de 3,7 a 4,2 GHz exclusiva para satélites. O argumento da Abrasat é que redes móveis terrestres não substituem aplicações críticas em setores como radiodifusão, energia e telemedicina.
"Para um País como o Brasil, de clima tropical, geografia diversificada e com dimensões continentais, não restam dúvidas de que o satélite continuará a exercer seu papel fundamental, seja no fornecimento de conectividade banda larga, seja para D2D, seja na transmissão de sinais de áudio e vídeo", afirmou a entidade.
Outro exemplo é a Globalstar, que é responsável pelo recurso de SOS via satélite em iPhones (ainda não disponível no Brasil). A companhia pede que a Anatel adie o leilão da faixa de 6 GHz (6425–7125 MHz) para depois de 2032. A empresa opera gateways no Brasil que usam a faixa de 6875–7055 MHz para downlink de sinais de satélite, sobreposta à área proposta para o 5G.
Segundo a empresa, qualquer interferência nesses gateways pode prejudicar milhões de usuários, incluindo o recurso de emergência em dispositivos Apple. "Um GES [estação terrena de gateway] fornece uma ampla área de cobertura na superfície da Terra de aproximadamente 1,8 milhão a 2,4 milhões de quilômetros quadrados", afirmou a companhia.
A empresa sugere que a Anatel adote as "Alternativas C ou D" do plano leilão da faixa de 6 GHz. Isso significa que, para a Globalstar, faz mais sentido que a agência adote o leilão até 2032 ou entre 2032 e 2036. A operadora justificou que esse prazo extra permitiria a conclusão de estudos de coexistência exigidos pela União Internacional de Telecomunicações (UIT).
Viasat
A Viasat se posicionou de forma contundente contra o uso da faixa 1492-1517 MHz para serviços móveis terrestres. A empresa argumentou que a introdução do 5G nessa faixa colocaria em risco os serviços essenciais da operadora na banda adjacente.
"A introdução dos Sistemas Internacionais de Telecomunicações Móveis (IMT) na parte superior da faixa (1492-1517 MHz) causaria interferência prejudicial aos terminais de Banda L da Viasat (atuais e futuros) que operam na faixa adjacente de 1518-1559 MHz", justificou.
No documento enviado à Anatel, a Viasat mencionou aplicações críticas que dependem dessas frequências, como o caso da parceria com a Rumo Logística: "Após a integração dos terminais da Viasat aos sistemas da empresa, os condutores e os centros de controle passaram a se comunicar em tempo real, de qualquer lugar do País."
Diante da possibilidade de a Anatel manter o leilão, a Viasat sugeriu que sejam estabelecidas condições mínimas: "Recomenda-se fortemente a implementação de medidas eficazes de proteção, como imposição de limites de Densidade de Fluxo de Potência na Envoltória (EPFD), limites de emissões fora da faixa (OOBE), separação geográfica, distâncias mínimas de coordenação, entre outras."