Os próximos passos na vida da Oi devem ser marcados por uma nova gestão e novos objetivos estratégicos. Com a aprovação da anuência prévia da Anatel para a troca de controle (os credores assumirão o comando da empresa), deve haver uma alteração no conselho de administração e, em seguida, uma nomeação de novos diretores, inclusive com um novo CEO. Matheus Bandeira, que hoje comanda a Oi, já havia deixado claro quando assumiu que sua missão seria temporária.
Segundo apurou este noticiário, o perfil da nova gestão tende a ser muito mais financeiro, o que se alinha com a estratégia da empresa daqui para frente: valorizar ao máximo os ativos que ainda podem ser vendidos, como imóveis e a participação acionária da Oi na V.tal; renegociação dos contratos com atuais fornecedores visando redução de custo; acompanhamento do processo de arbitragem da Oi junto à Anatel, que pode render ganhos à empresa; a recuperação de eventuais recursos decorrentes de disputas tributárias, como por exemplo o recálculo do que foi pago de PIS/Cofins; conclusão da venda da ClientCo; e otimização de possíveis benefícios fiscais, como o que pode ser gerado pelo prejuízo contábil acumulado da empresa ao longo dos últimos anos.
Empresa enxuta
Do ponto de vista operacional, a Oi será uma empresa bastante enxuta. A operação e manutenção de rede remanescente de telefonia fixa nas cerca de 10 mil localidades onde não existe outra alternativa de serviços de voz será feita com uma equipe interna reduzida e com a terceirização para empresas como a Serede, da própria Oi.
Além de manter os serviços, a empresa também seguirá no processo de migração da rede de cobre para novas tecnologias quando for o caso e, principalmente, monitorará de perto a presença de concorrentes nas localidades em que mantém a obrigação de cobrir até 2028. Isso porque tão logo apareça uma alternativa nas localidades em que a Oi tem obrigações, a Oi deverá desligar a rede.
Esta parte da Oi dedicada ao resto do STFC deve ter, obviamente, uma receita bastante reduzida, e por isso a expectativa é que ela seja custeada pelos valores dados como garantia no termo de migração de concessão para autorização, ainda pendente de aprovação na Anatel. São R$ 800 milhões previstos no acordo para esse fim, valor que pode diminuir se a Oi comprovar que a necessidade de atendimento é menor que a estimada.
Para cobrir esta garantia, que não foi coberta pela V.tal, a Oi está tentando liberar recursos da venda de ativos que ficaram depositados judicialmente para cobrir uma eventual reversão da concessão, além de ganhos de disputas tributárias com o governo.
Oi Soluções
Já a Oi Soluções, que será a única unidade com receitas (foram cerca de R$ 1,3 bilhão nos primeiros nove meses deste ano) deve buscar um novo posicionamento estratégico para se tornar uma prestadora de serviços corporativos sem ativos de rede, o que é um desafio diante da concorrência das grandes empresas, mas uma oportunidade também.
Isso porque o mercado de pequenos e médios ISPs (que têm rede) hoje começa a avançar de maneira mais incisiva sobre o mercado B2B, mas a maior parte deles têm pouco ou nenhum know-how para atuar nesse segmento, nem produtos já desenvolvidos, o que a Oi tem. Uma alternativa é a Oi Soluções atuar como parceira, ou franqueadora, de serviços para estes operadores de menor porte na atuação dedicada ao mercado corporativo.
Fundação Atlântico
Não se observa nenhum movimento de interesse dos futuros acionistas da Oi sobre a Fundação Atlântico, com seus R$ 13 bilhões em ativos, e ninguém acredita nesse momento que haverá um movimento hostil nesse sentido, ainda que a possibilidade exista, já que a Oi, como mantenedora da fundação previdenciária, tem a maioria no conselho de administração da Fundação.
Na dúvida, no final de outubro, antes da aprovação pela Anatel da anuência prévia, a Apafass (Associação dos Participantes e Assistidos da Fundação Atlântico de Seguridade Social) encaminhou ao conselho da Anatel um carta pedindo atenção ao tema e, na ocasião, garantias de que a a mudança de controle não implicaria ingerência nas decisões financeiras da fundação.
Além disso, os participantes da Fundação Atlântico ainda queriam que a Anatel impusesse garantias de que a Oi continuaria mantendo as contribuições à Fundação e honraria a dívida de cerca de R$ 600 milhões que ainda existe, mas estas condicionantes não foram colocadas no voto.