Muitos provedores regionais de Internet (ISPs) podem desaparecer nos próximos anos, diante de desafios de crescimento, tecnológicos e de consolidação enfrentados pelo segmento. É o que avaliam analistas do mercado de telecom que participaram na última terça-feira, 6, do evento Warm-Up, em São Paulo.
Para Gustavo Barros, da IT Investimentos, o cenário enfrentado atualmente pelos ISPs é marcado por três choques: um de crescimento, dado que muitas empresas não conseguem mais ampliar bases de assinantes, ou pelo menos não no ritmo de outrora; um de gestão, com uma cobrança crescente por profissionalização; e outro tecnológico, marcado pela necessidade de atualização das redes de fibra para tecnologias com maior capacidade nos próximos anos.
Diante do tripé de desafios, muitos provedores podem não resistir por falta de capital suficiente para navegar no cenário de mudanças, aposta Barros. Um caminho possível é a venda de operações, o que só é possível "na hora que existem compradores interessados", lembra a IT Investimentos. Não é exatamente o momento atual, ainda que conversas de M&A entre provedores sigam ocorrendo.
Também durante o Warm-Up, o analista Valder Nogueira, do Santander, apostou que neste cenário de desafios o "provedor parasita vai morrer". Segundo ele, muitas empresas pararam no tempo e ficaram "deitadas em berço esplêndido" após realizarem investimentos em rede no momento de baixa do juros. Agora, com os juros nas alturas, tais empresas enfrentariam um risco existencial.
Por outro lado, Nogueira apontou que diversos provedores têm se fortalecido diante do cenário. Muitos passaram a ser mais disciplinados do ponto de vista financeiro, deixando de lado a tática de "engordar o porco" através de aquisições. A interlocução do segmento com bancos, empresas de investimentos e boutiques de M&A também amadureceu, avalia o analista do Santander.
Já no aspecto comercial, Nogueira recomendou cautela na corrida dos ISPs rumo ao mercado corporativo, considerado uma possível tábua de salvação para algumas empresas. "No B2B a brincadeira é outra, não é só vender conexão para a padaria", afirmou o analista, destacando a necessidade de investimentos em software e cibersegurança para atuação madura no setor.
CEOs
Funcionando como uma espécie de aquecimento para o encontro anual da Abrint (o AGC, que teve abertura oficial em São Paulo também na terça-feira), a terceira edição do Warm-Up atraiu cerca de 900 pessoas neste último dia 6. Entre os presentes estavam os CEOs de algumas das principais provedoras do País, como Roberto Nogueira (Brisanet), Denio Alves (Desktop), Gustavo Stock (Brasil TecPar) e Denis Ferreira (Alares).
Na ocasião, parte dos executivos apontaram o acesso ao espectro de 6 GHz como outra pauta que pode comprometer o futuro do ISPs, com potencial de tirar empresas do mercado em caso de inviabilização da tecnologia de Wi-Fi.
Em paralelo, também foram destacados caminhos para o segmento seguir crescendo. Denis Ferreira, da Alares, reconheceu que a oportunidade para investimentos em redes greenfield (em localidades novas) está cada vez menor, mas destacou possibilidade de maior rentabilização junto às bases assinantes existentes, mirando um "share of wallet" maior a partir da oferta de novos serviços.
Denio Alves, da Desktop, também apontou que o aporte em redes pode não ser o melhor investimento no momento em termos de retorno, mas notou que "bolsões de oportunidades" ainda existem, e que o segmento "não pode abrir mão" de seguir expandido as redes de banda larga, ao mesmo tempo em que persegue novas oportunidades de rentabilização.