Uma coisa é apresentar um Plano Nacional de Internet das Coisas (IoT), outra é o País priorizar o assunto, reconhecendo e permitindo os impactos positivos. Esses são alguns dos desafios para os próximos anos, segundo debatedores no painel Laboratórios do Futuro IoT, evento promovido pelo BNDES com o governo e realizado nesta terça-feira, 7, em São Paulo. O diretor de políticas regulatórias da GSMA, Philipe Moura, destacou o papel do governo na criação de um ambiente que permita a inovação e o desenvolvimento no setor. Ele diz que há necessidade de consistência nas regras para diferentes players (semelhante ao discurso da entidade em relação às over-the-top) para uma cadeia de valor complexa. "Esse sistema de regras precisa ser adaptável e flexível o suficiente para a evolução tecnológica, porque sabemos onde está hoje, mas daqui a 20 anos não sabemos como será", declara.
Moura analisa que o Brasil tem pensado de forma avançada, mas ele insiste na necessidade de um grupo compreensivo de políticas que considere o impacto entre todos os stakeholders. Na visão dele, é necessário ter uma política de IoT que, mesmo após alguns anos, ainda se mantenha relevante. "No Marco Civil da Internet, por exemplo, tivemos um grande incentivo por colocar a regulação de Internet de vanguarda, mas não significa que foi a (regulação) que precisávamos, e talvez em cinco anos a gente tenha consequências no mercado", compara.
Os impactos precisam ser reconhecidos também, diz, fazendo alusão às taxações do setor de telecomunicações, que são comparadas às da indústria do cigarro e da bebida. "A IoT é uma indústria com externalidades positivas para a economia e que respinga em outras indústrias. Mas não será tão grande como imaginamos se a gente taxar o sistema como se fosse algo negativo, e é essa a forma como é no Brasil hoje", reclama.
Sugestões
Para alavancar a Internet das Coisas no País, a sugestão do sócio do McKinsey Global Institute, Michael Chui, é direta: investir desde cedo em pesquisa e desenvolvimento, além de capacitação profissional. "Não precisa ser pesquisa básica. É essencial também ter o talento a postos, para quando houver demanda, então faça com que a educação e sistema de treinamento tenham talentos." Também é importante entregar produtos em vez de apenas propostas, e que sejam pensados para um mercado transnacional. "IoT é um mercado global, então construa rápido e (pronto) para servir em qualquer lugar, não só para o Brasil. E tenha um ecossistema global também de P&D", propõe.
O vice-presidente de P&D do CPqD, Alberto Paradise, defende foco nos agronegócios como uma vertical-chave para IoT, uma vez que o setor representa cerca de 25% do PIB brasileiro. "Podemos melhorar produtividade, qualidade da produção e cuidar do ambiente (com gestão racional de recursos) ao conectar dispositivos simples à nuvem", avalia. Ele acredita ainda que o País poderá competir melhor no software, em especial com pesquisas em inteligência artificial para lidar com os dados – ou seja, machine learning.
O sócio sênior da McKinsey na Alemanha, Jan Wullenweber, sugere atenção à mobilidade urbana, tanto em carros inteligentes/conectados quanto transporte público. Ele ressaltou a necessidade de se criar hubs de pesquisa e desenvolvimento separados dos núcleos originais das empresas. "Não é pedir para a indústria tradicional trabalhar IoT, precisa de uma mudança no modelo competitivo", alega.