60% dos provedores usam postes irregularmente, afirmam elétricas

Segundo a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), quase 60% das 22 mil empresas de banda larga atuantes no Brasil utilizariam postes de maneira irregular. A conta considera tanto o uso de mais pontos do que os contratados quanto empresas que não possuem nenhum contrato com as elétricas.

Os dados foram apresentados pelo assessor da Abradee, Lucas Malheiros, durante o segundo dia da Abrint Nordeste, realizado em Fortaleza nesta sexta-feira, 6. O representante do setor elétrico participou de debate com provedores regionais sobre formas de solucionar impasses entre as duas cadeias.

Os números, contudo, foram veementemente questionados por representantes dos ISPs. Vice-presidente da entidade de provedores regionais Abramulti, Jony Cruz destacou que os operadores não podem ser tratados como "marginais", e que também é interesse do setor combater a clandestinidade na ocupação de postes.

Notícias relacionadas

Ele ainda apontou que a responsabilidade pelo desordenamento não pode ser colocada unicamente sobre os ISPs, uma vez que a tarefa de fiscalização dos postes é das próprias distribuidoras de energia – que em alguns casos teriam equipes extremamente reduzidas para a gestão de novos contratos. Cruz citou a Cemig como exemplo. 

O papel das grandes empresas de telecom também não foi deixado de lado. "A maior parte do lixo nos postes são cabos metálicos abandonados, não somos nós", afirmou o vice-presidente da Abramulti.

Já segundo Malheiros, da Abradee, há hoje algum nível de cooperação entre os dois setores. O trabalho conjunto permitiu que mil toneladas de equipamentos de telecom fossem retirados da infraestrutura de distribuição elétrica em 2023, sendo que no primeiro semestre de 2024, o volume foi de quase 500 toneladas.

Nova resolução

Vale lembrar que Anatel e Aneel ainda discutem um novo conjunto de regras para o compartilhamento de postes entre as duas cadeias. O tema é considerado urgente pela Abrint e tem a cessão obrigatória dos postes para exploradores terceiros como principal ponto de impasse. 

Segundo a Abradee, essa cessão não poderia ser compulsória, visto que há players do setor elétrico que fazem a gestão correta da ocupação. Usando exemplo dado pelos provedores sobre boas práticas na paranaense Copel, ele questionou: "Faz sentido tirar [a exploração de postes] dela e entregar para um novo player desconhecido intermediar, adicionando um novo custo?".

Há, contudo, um decreto do governo que já decidiu pelo caráter obrigatório dessa cessão – o que motivou um engavetamento pela Aneel das discussões para novas regras. Ao TELETIME, o presidente da Abrint, Mauricélio Oliveira, classificou a decisão da reguladora como "pirraça" e lembrou que as distribuidoras indicam judicializar a cessão obrigatória dos postes. 

Críticas à Aneel

Jony Cruz, da Abramulti, também teceu críticas ao regulador elétrico. Ele descreveu uma "sensação de aparelhamento" da Aneel e afirmou que o papel de defender a iniciativa privada deve ser das associações, não da reguladora. Breno Vale, da Abrint, lamentou que a agência não tenha mandado representante para o evento realizado em Fortaleza.

Já o gerente regional substituto da Anatel nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, Wanderson Moreira Brito, apontou a necessidade de encontrar um "ponto de equilíbrio" entre as duas cadeias. Ele apresentou o regulamento para uso de postes já aprovado pela reguladora de telecom em 2023, e que hoje depende da concordância da Aneel.

As próprias distribuidoras de energia admitem que a proposta aprovada na Anatel possui pontos positivos, como a permissão para retirada de cabos irregulares, regras para que uma empresa utilize apenas um ponto e o próprio conceito do preço regulado para acesso dos provedores aos postes – que deve ser tema de uma discussão a parte. 

Hoje, o cenário apontado pela Abrint é de "preços descabidos" para contratação da infraestrutura e regras que mudam de uma hora para outra, a bel-prazer das elétricas. Assim, a aprovação da nova resolução seria um grande avanço, mas apenas o início do trabalho necessário nos postes. 

(O jornalista viajou para Fortaleza convidado pela Abrint)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
CAPTCHA user score failed. Please contact us!