A Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint) criticou a fala do presidente da Claro, José Félix, durante o Painel Telebrasil 2024. Nesta terça-feira, 4, o executivo questionou a efetividade de políticas como a assimetria regulatória e disse que há no Brasil um estado de precarização das redes, causado pela multiplicidade de players.
Para a Abrint, é o temor das incumbentes é orginado pelo crescimento das prestadoras de pequeno porte (PPPs), que começam a avançar sobre os centros urbanos após aumentar a conectividade em áreas remotas. O trabalho da Anatel sobre o uso secundário do espectro é uma iniciativa que, se concretizada, poderá levar o mesmo patamar de concorrência ao mercado móvel, acrescenta.
"Esse movimento só evidencia a importância das PPPs para o setor de telecomunicações, pois elas trazem inovação, qualidade e preços acessíveis, beneficiando diretamente o consumidor final e obrigando as grandes operadoras a também melhorar seus respectivos serviços", afirma a associação, por meio de nota enviada à imprensa.
Segundo a Abrint, talvez os investidores estejam "concentrando seu capital nas empresas erradas" e "subestimando" o potencial dos ISPs. "Diversificar os investimentos apostando nas PPPs pode ser uma estratégia interessante para quem deseja acompanhar e estimular o crescimento e a inovação no setor."
A fala
"Qual é o ponto ideal da concorrência? Vemos países voltando atrás em algumas decisões, porque dependendo do tipo de concorrência, você estraçalha o setor. Então, no primeiro momento, você fica satisfeito com o que você conseguiu, mas não está enxergando ali que a renovação [de redes] no setor pode ser menor", disse o executivo, durante o evento.
Ainda durante o Painel Telebrasil, o presidente da Claro ainda disse que o gargalo com o aumento de empresas no segmento pode ser visto na desorganização crescente de fios de telecom nos portes Brasil afora, o que a Abrint refuta.
"O maior fator de desorganização nos postes atualmente é causado pelas grandes operadoras, que deixam um legado de cabos obsoletos, abandonados e sem uso."
"Essas operadoras se recusam a realizar o reordenamento adequado dessa infraestrutura antiga, contribuindo para a desordem visual e operacional. Em contraste, as PPPs trabalham com cabos 100% ativos e em uso, realizando manutenções imediatas sempre que necessário", prossegue a entidade.
Além disso, a associação entende que a alegação de que poucas empresas concentradas poderiam resultar em um mercado mais organizado é "contraditória" com os princípios de livre mercado.
"A 'proliferação' mencionada no discurso do presidente da Claro Brasil não representa desorganização, mas sim uma resposta ao déficit de cobertura nas regiões mais remotas e carentes do país. Cada PPP é um agente de inclusão digital, democratizando o acesso e garantindo a competitividade no setor", finaliza a Abrint.