O serviço de streaming de conteúdos over-the-top (OTT) do grupo América Móvil, o ClaroVideo, está seguindo os passos da Netflix e da Hulu e apostando em séries originais. O CEO da América Móvil Content Office, unidade do grupo mexicano que vem desenvolvendo produtos na área de distribuição de conteúdo, Andres Vazquez del Mercado, explica que não chegam a ser superproduções como as do Netflix, mas são boas iniciativas que devem ter bastante apelo para a operação latino-americana do ClaroVideo. O executivo participou de painel no Congresso e Feira ABTA 2015 nesta quinta, 6.
A primeira produção original do OTT da América Móvil é uma comédia com 13 episódios que está sendo rodada no México pelo produtor e diretor mexicano Fernando Sariñana. A série narra histórias de motoristas que são presos pela polícia mexicana por dirigirem bêbados e não passar no teste do 'bafômetro'. No México, esses motoristas não são levados para a cadeia, mas sim detidos em um lugar em separado até que estejam sóbrios – lugar este que recebe o apelido de 'El Torito' pelos mexicanos e que dá nome à série.
"A produção está sendo finalizada e devemos lançar a série nos próximos meses", revela del Mercado. Segundo ele, todos os episódios de "El Torito"serão disponibilizados de uma única vez no ClaroVideo.
Uma segunda série já está programada para lançamento no começo de 2016. "Ainda não posso dar detalhes porque ainda estamos em processo de fechar os contratos para a produção, mas adianto que será um drama e essa produção sim terá um orçamento maior", revela o executivo.
Estratégia
A opção por produções originais deve acirrar a competição do ClaroVideo com a Netflix. Vale lembrar que por questões regulatórias a América Móvil estava vedada de oferecer serviço de TV por assinatura no México e o lançamento de um OTT próprio foi a alternativa que a operadora mexicana encontrou para adicionar valor ao serviço de banda larga. "Chegamos a considerar parceria com OTTs existentes, mas a verdade é que eles trabalham com margens muito pequenas e não teriam condições de absorver os custos para sustentar uma rede com uma base predominantemente pré-paga, como é o caso da América Latina. Então, tivemos de criar o nosso", revela.
Para o executivo, a deficiência imposta pela regulação no México ajudou a operadora e desenvolver novas capacidades. "Não somos mais tão 'dumb pipes'. Às vezes gastamos US$ 150 só para trazer um novo cliente e estamos oferecendo mais produtos e serviços para mantê-lo". A América Móvil, nas palavras do executivo, passou a enxergar a banda larga como a espinha dorsal de seu negócio, e não mais um serviço de valor adicionado, com a necessidade construção de redes robustas para suportar não apenas vídeos em HD, mas novos serviços com a casa conectada, como telepresença em HD nas residências. "O investimento que precisamos fazer em infraestrutura para prover serviços de banda larga é enorme e o vídeo é o serviço mais importante. Bundling é o nome do jogo", diz.
Acordos de exclusividade
O OTT da Claro foi criado em cima da estrutura adquirida da DLA, que originalmente negociava conteúdos para a TV por assinatura. Para deixar o serviço mais atrativo, o ClaroVideo também negocia exclusividade de conteúdos de canais na América Latina na primeira janela após a exibição na grade da TV paga, como uma espécie de catch-up. "Conseguimos exclusividade de algumas séries, como 'Señorita Pólvora', da Turner, e 'Mozart in the Jungle', da Amazon", diz. Esses acordos de exclusividade valem para o México e para o restante da América Latina. No Brasil, entretanto, as programadoras trabalham com grades diferentes, também por conta da barreira do idioma, com a necessidade de dublar e legendar conteúdos para o Português. "No Brasil o ClaroVideo funciona mais como um complemento para os conteúdos do Now (serviço de VOD da Net), porque conseguimos negociar muitos títulos dos grandes estúdios para o serviço para toda a região".
De acordo com o executivo da América Móvil, o ClaroVideo é o segundo OTT no México em base de assinantes. "Estamos em segundo lugar, bem perto da base do Netflix", garante del Mercado. Estima-se que o Netflix tenha cerca de 1,5 milhão de assinantes do México.