O aumento da receita do serviço de celular da TIM no trimestre foi de 1,2%, mas a empresa afirma que o crescimento poderia ter sido de 3%, não fossem os efeitos da pandemia do coronavírus (covid-19). Considerando apenas as últimas duas semanas de março, houve um impacto de 25% nas receitas, o que em valor absoluto seria algo entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões a menos. Os efeitos são sobretudo no pré-pago.
Porém, segundo o CEO, Pietro Labriola, essa tendência já mostra sinais de mudança. "Houve também algo como um modo de pânico nas pessoas. Depois, vimos melhora, e ficou com a redução em cerca de 20%. Entre o final de abril e começo de maio, essa redução já tem melhorado, as pessoas têm voltado ao normal", afirmou ele em teleconferência de resultados nesta quarta-feira, 6.
Há consequências que o executivo considera que podem ser positivas, como o maior offload para o Wi-Fi (reduzindo o estresse da rede móvel) e a mudança dos clientes para os canais digitais. "Em médio e longo prazo, todo mundo que está experimentando hoje o digital vai continuar depois da situação da covid. É boa notícias para nós, pois traz eficiência."
Segundo o executivo, houve alguma economia na área comercial com o fechamento das lojas, uma vez que o canal digital é mais eficiente. Além disso, houve menor gasto com publicidade, já que as pessoas não podem sair para comprar produtos em shoppings, por exemplo. "Temos material para compensar o [impacto] na receita", explica Labriola. No entanto, muitos dos custos são associados a canais parceiros da operadora, que os manterá para o futuro. "Não estamos cortando custos de Capex que pode ser tomado em médio a longo prazo", declara.
Na questão da dívida de inadimplentes (bad debt), o CEO fala que está procurando controlar essa área de custos para procedimentos internos, mas diz que é difícil prever ainda. Ressalta, contudo, que serviços de telecomunicações estão agora na lista de itens indispensáveis para o consumidor. "Não é que estamos otimistas com a situação, achamos que o impacto não deveria ser importante, mas é algo que estamos monitorando diariamente', complementa o CFO da TIM, Adrian Calaza.
Infraestrutura e Capex
Segundo o CTIO da TIM, Leonardo Capdeville, o tráfego móvel está quase sem variação em relação ao período pré-quarentena. O que mudou foi o perfil de consumo, com mais aplicativos de streaming como YouTube e Netflix, e menos com os de mobilidade, como Waze. "Conseguimos ver algum tipo de offload para o Wi-Fi, que as pessoas estão usando mais. Por outro lado, quem depende apenas da conexão móvel tem utilizado de forma mais intensiva. De um modo geral, o tráfego está flat", explica, ressaltando ainda que houve algum crescimento no uso das chamadas de voz.
Na TIM Live, a Internet fixa da empresa, houve aumento de 30% no tráfego comparado ao período antes da covid-19, diz Capdeville. "Todos os ajustes que estamos promovendo na rede estão tratando disso, mas mantendo a qualidade. A grande pressão não é só em ajustar o volume, mas na mudança de uso", diz. "Mas a rede está desempenhando muito bem com essa mudança de perfil."
O executivo ressalta, contudo, que o Capex da empresa é um planejamento plurianual (em triênios), uma vez que os investimentos em infraestrutura podem ser maiores e se estender para além do período de 12 meses. Ainda assim, lembra que a análise da TIM é semanal, uma vez que o ambiente pode mudar significativamente com a crise, influenciando as logísticas. "Somos dependentes de fornecedores que dependem de fabricantes, às vezes estrangeiros", lembra. "É difícil falar do que acontece porque o ambiente não é claro, mas algum tipo de implantação pode ser atrasada ou pode ter impacto de fornecedores."
RAN Sharing e 5G
Leonardo Capdeville lembra que o acordo de compartilhamento de rede (RAN Sharing) com a Vivo ainda está esperando a resposta final da Anatel e do Cade (ambas já aprovaram), mas diz que o projeto não é apenas para redução de Capex, mas especialmente de Opex. "A abordagem é de Capex inteligente, e esperamos que, depois da licença oficial, poderemos começar o projeto, que será uma parte importante no segundo semestre", diz.
De acordo com o CTIO, a TIM já tem feito investimentos nos últimos três anos pensando no futuro e preparando a rede para o 5G. Ele lembra os três testes com diferentes fornecedores realizados no ano passado, que permitiram observar como funciona em conjunto com a rede. "Com a nova parte de virtualização do core e data center, podemos estar mais positivos para preparar a rede para o 5G. E estamos lidando com todas as tecnologias", declara.