Para a Vivo, embora ainda exista muito espaço no Brasil para expansão de serviços como 5G e fibra, a cobertura não é a única necessidade do usuário de Internet brasileiro. Entre os aspectos que também precisam ser endereçados está o custo de dispositivos de acesso, como smartphones.
O aspecto foi abordado pelo CEO da operadora, Christian Gebara, durante o primeiro dia do Painel Telebrasil 2024, realizado nesta terça-feira, 5, em Brasília. "O 4G tem cobertura, mas muitas pessoas ainda não se conectam por poder aquisitivo e no 5G é igual", lembrou o executivo.
Segundo ele, na base pós-paga da Vivo a penetração de aparelhos compatíveis com 5G seria de 30%, em patamar que seria bem inferior no pré-pago. Gebara destacou que smartphones de R$ 1 mil são inacessíveis para muitas pessoas, e que um barateamento dos aparelhos deve ocorrer em paralelo com a expansão da infraestrutura.
"Cobertura as operadoras estão fazendo, mas há outras necessidades", prosseguiu ele, afirmando que tal qual nos serviços de comunicação, a questão tributária é preponderante no acessos aos aparelhos.
A mensagem reflete outro posicionamento do CEO da Vivo durante o Painel Telebrasil – visto que Gebara também é presidente da entidade setorial. Mais cedo nesta terça-feira, o dirigente defendeu que o setor de telecomunicações seja visto como serviço essencial, sobretudo do ponto de vista dos impostos.
Falando pela Vivo, o executivo recordou que o setor teve em 2022 uma redução de ICMS que representou "ganho enorme" e que teria sido repassada integralmente ao consumidor, fomentando maior consumo de serviços. Ainda assim, a questão segue sendo prioritária para a cadeia.
Números trazidos pelo executivo apontaram que os 15 países com maior acesso à Internet teriam média de 11,5% em carga tributária. No Brasil o número seria quase o triplo, com 29% de carga e mais 4% de fundos setoriais. "Isso faz nosso serviço ser mais caro, mas em valor líquido ele é um dos mais baratos", afirmou Gebara.
Com a reforma tributária a perspectiva é que pelo menos a carga venha para 26,5%, o que seria um ganho, ao lado da expectativa por uma simplificação tributária. Por outro lado – também refletindo mensagem setorial -, a Vivo entende que telecom precisa ser incluído no cashback para consumidores de baixa renda.
Já uma segunda discussão tributária (fora do aspecto de consumo) é sobre o futuro do juros sobre capital próprio (JSCP). Gebara defendeu o mecanismo como peça importante na estratégia das teles junto a acionistas, indicando discordância com a possibilidade de que o JSCP seja revisto pelo governo.
IA e governo digital
Hoje, além do "core" de conectividade, a Vivo tem buscado desenvolver novas verticais de serviços "para o cliente ter a vida tecnológica concentrada na empresa". A iniciativa passa por áreas como saúde, banco digital e outros, lembra Gebara.
O executivo também abordou oportunidades representadas pela inteligência artificial (IA) e manifestou receio que uma "regulação excessiva" sobre o tema possa inibir a inovação na área. Por outro lado, Gebara avalia que o País tem uma boa posição para participar do mercado global de IA.
"Temos redes 5G, de fibra e disponibilidade de data centers e energética", apontou o CEO da Vivo. Recursos hídricos do País seriam outra vantagem, visto a necessidade de resfriamento dos data centers.
Porém, para surfar na onda da IA a nação também deve demandar aperfeiçoamento de mão de obra e iniciativas de letramento digital. "Podemos ter 500 mil empregos não ocupados por gap de conhecimento", indicou Gebara, apontando que alguns postos de trabalho devem deixar de existir, mas que muitos outros vão surgir.
Para preparar o Brasil para novas demandas, Gebara também destacou a necessidade de um organismo transversal de governo que trate da agenda digital brasileira, ocupando o papel de "orquestrador" a partir de um plano estratégico evidente. Hoje, o diagnóstico é que iniciativas digitais estão deveras pulverizadas na máquina pública.