Com o objetivo de estender o modelo de melhores práticas para participação multissetorial na discussão sobre governança de Internet, o CGI.br e o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) irão anunciar nesta quinta-feira, 6, a NetMundial Initiative, uma plataforma para dar continuidade ao debate iniciado no Brasil no começo deste ano. Trata-se de uma versão final do evento que contou com documentos vazados em agosto e que geraram controvérsia por excluir participantes brasileiros e subverter o processo de construção "de baixo para cima" do encontro original.
A ideia era que a NetMundial Initiative fosse lançada ainda em agosto, mas foi adiada. Naturalmente, o documento vazado era um rascunho e o produto final pode ser bem diferente. No convite do webinar que lançará a iniciativa, afirma-se que ela "tem sido formada com o feedback coletado de vários diálogos de comunidade desde o encontro do WEF em Genebra, no dia 28 de agosto, e que foi inspirado pelo NetMundial". Além disso, diz que haverá o debate desses desenvolvimentos "além do papel multistakeholder da NetMundial Initiative em energizar soluções de governança de Internet (de modelo) bottom-up e colaborativas em um ecossistema distribuído".
Há outro participante na elaboração da iniciativa: a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN). O presidente da corporação norte-americana, Fadi Chehadé, será um dos debatedores no evento de lançamento, junto com o secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e coordenador do CGI.br, Virgílio Almeida; e com o diretor da WEF, Richard Samans. Chehadé foi pivô na organização por ter sido um dos responsáveis por "colocar as peças no tabuleiro", conforme explicou a este noticiário o gerente de engajamento setorial da entidade no Brasil, Daniel Fink. "Fadi foi o vetor dessa primeira etapa para colocar o pessoal para conversar um pouco", declara.
Fink ressalta que o encontro da WEF em Genebra recebeu críticas, mas que o Fórum terá um papel de "anfitrião na conversa". "No fim, um dos pontos importantes no roteiro do CGI.br é como inspirar outros países a desenvolver um modelo de governança de Internet multissetorial e, através dessa iniciativa, outros países aprenderem um pouco". Ele assegura ainda que a norte-americana ICANN não estará presente de maneira ativa, mas apenas com cadeira em grupos de discussão para debater as questões técnicas. "Vai estar lá sim, mas não dando as cartas, e isso Fadi diz bem claramente, o objetivo dele agora é se concentrar na gestão da ICANN como organização de números únicos – e pronto. Tanto é que pouquíssimos funcionários da ICANN estão envolvidos da iniciativa."
O evento terá como foco principal perpetuar o roadmap do NetMundial original, considerado um sucesso em seu modelo participativo de discussão. Além disso, ele preencheria a lacuna de que o Internet Governance Forum (IGF), a Organização das Nações Unidas (ONU) ou a União Internacional de Telecomunicações (UIT) podem não conseguir suprir. "Ele foi feito para ser multistakeholder, enquanto a UIT é multilateral, não tem velocidade", declara. "Acho que é um ótimo resultado do Netmundial as pessoas estarem falando sobre ele em diversos lugares do mundo. Talvez nem todos estejam funcionando em toda a parte, mas talvez o Netmundial Initiative possa estimular esse tipo de coisa", completa Fink.